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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SEMIÁRIDO UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS. “CAMPONESES DO MUNDO: O PREÇO DA SEGURANÇA ALIMENTAR”.

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  1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

  2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SEMIÁRIDO UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS “CAMPONESES DO MUNDO: O PREÇO DA SEGURANÇA ALIMENTAR” • MAZOYER, Marcel & ROUDART, Laurence. “Prefácio”, “Apresentação” e “Introdução”. História das agriculturas do Mundo: do neolítico à crise contemporânea. • São Paulo, Editora da UNESP; Brasília, NEAD, 2010 [pp. 25-50]. Texto em PDF SOCIEDADES CAMPONESAS (2012.1) Prof. Dr. Márcio Caniello

  3. O Livro • OBJETIVOS [p. 48] • Conhecer os grandes sistemas que constituem a herança agrária da humanidade: • Transformações históricas • Diferenciação geográfica • Explicar o papel que a crise agrária dos países em desenvolvimento representa na crise geral. • Mostrar como a salvaguarda e o desenvolvimento da agricultura pobre, modestamente equipada e pouco produtiva – majoritária no mundo de hoje – pode contribuir para remediar a crise contemporânea. • CONTRIBUIÇÕES [p. 38] • Uma nova visão sobre a agricultura e sobre o papel da agricultura familiar e camponesa no desenvolvimento rural. • Alerta para os riscos da globalização e da liberalização acentuarem as desigualdades entre os países, aumentarem o desemprego e a pobreza. • Aposta no desenvolvimento da economia camponesa associada a outras medidas para tirar as populações da condição da pobreza.

  4. Transformações Históricas e Diferenciação Geográfica dos Sistemas Agrários • 10.000 AP: Revolução Agrícola Neolítica • Autotransformação de alguns sistemas de predação muito variados que reinavam então no mundo habitado: caçadores-coletores • Essas primeiras formas de agricultura eram certamente praticadas perto das moradias e aluviões das vazantes dos rios, ou seja, terras já fertilizadas que não exigiam, portanto, desmatamento. • Formas de Expansão: • Sistemas pastorais em ecossistemas com vegetação herbácea: • Estepes e Savanas (também a Caatinga) • Sistemas de cultivo de derrubada-queimada em zonas de florestas temperadas e tropicais: • Perpetuação durante milênios. • Desmatamento e desertificação. • Cederam lugar a numerosos sistemas agrários pós-florestais, muito diferenciados conforme o clima. • Origem de séries evolutivas distintas e relativamente independentes.

  5. Transformações Históricas e Diferenciação Geográfica dos Sistemas Agrários • Regiões Áridas: Sistemas Agrários Hidráulicos (inundação / irrigação) • Mesopotâmia • Vale do Nilo • Vale do Indo • Império Inca • Regiões Tropicais Úmidas: Rizicultura Aquática • China • Vietnã • Índia • Tailândia • Indonésia • Madagascar • Costa da Guiné • Regiões Intertropicais com pluviometria intermediária: Sistemas Agrários Variados • Congo: Sistemas de cultivos temporários com uso da enxada e sem criação animal. • Nordeste Brasileiro: sistema de cultivos temporários e permanentes associados com pastagem e criação animal.

  6. As Revoluções Agrícolas na Europa • Revolução Agrícola da Antiguidade (Mediterrâneo) • 2.500 a.C. – início da Era Cristã • Cultivo de cereais pluviais com alqueive, com pastagem e criação associadas (2 campos) • Arado escarificador • Revolução Agrícola da Idade Média • Séculos XI-XIII • Cultivo de cereais pluviais com alqueive, com pastagem e criação associadas (3 campos) • Tração pesada: o arado charrua • Primeira Revolução Agrícola dos Tempos Modernos • Séculos XIV-XIX. • substituição dos sistemas de alqueive por plantas “mondadas” (nabos), forrageiras e por pastagens artificiais (gramíneas e leguminosas). • Enquanto isso, na América: sistemas agroexportadores (monocultura e escravidão). • Segunda Revolução Agrícola dos Tempos Modernos • Séculos XIX-XX • Motorização e mecanização • Fertilizantes com insumos minerais • Seleção de raças e variedades / OGM • Produtos químicos para a saúde animal e vegetal

  7. Consequências da Segunda Revolução Agrícola da Modernidade • Globalização → Difusão da Agricultura Tecnificada → Aumento Exponencial da Produtividade • Vigorosa nos países desenvolvidos • Parcial nos países em desenvolvimento: a “revolução verde” no agronegócio • Entreguerras: A agricultura mecanizada era 10 vezes mais produtiva que a agricultura manual • Atualmente: A agricultura mecanizada é 2.000 vezes mais produtiva que a agricultura manual • Daí, uma forte queda dos preços agrícolas reais • Impactos • Países desenvolvidos: Mais de 90% dos estabelecimentos agrícolas menos favorecidos tiveram seu desenvolvimento bloqueado e empobreceram em virtude dessa baixa dos preços a tal ponto que, umas após as outras, deixaram de existir e alimentaram com mão de obra a indústria e o setor de serviços. • Henri Mendras (1967): La fin des paysans • Países em desenvolvimento: • A maioria dos camponeses não encontrou formas de acesso à motorização-mecanização, muito dispendiosas”. • Alguns grandes empresários agrícolas, que dispunham de milhares de hectares e que utilizavam trabalhadores agrícolas diaristas muito mal pagos, aproveitaram-se da inflação e dos baixos preços agrícolas internacionais, relativamente elevados na primeira metade dos anos 1970, assim como créditos vantajosos, para, por sua vez, equiparem-se. • “Centenas de milhões de camponeses continuam hoje a trabalhar com ferramentas estritamente manuais, sem fertilizantes nem produtos de tratamento e com variedades de plantas que não foram objeto de pesquisa e de seleção sistemática: Como podem concorrer com o agronegócio?

  8. Um Mundo Desigual • A Pobreza e a Fome • População mundial: 6 bilhões de pessoas • Metade da população está abaixo da linha de pobreza (renda de até 2 dólares/dia) • Um bilhão não têm acesso à água • 840 milhões de subnutridos, isto é, pessoas que passam fome todos os dias • 75% dos indivíduos subnutridos pertencem ao mundo rural • Um paradoxo perverso: camponeses famintos • “A maioria das pessoas que têm fome no mundo não é de consumidores urbanos compradores de alimentos, mas de camponeses produtores e vendedores de produtos agrícolas. E seu número elevado não é uma simples herança do passado, mas o resultado de um processo, bem atual, de empobrecimento extremo de centenas de milhões de camponeses sem recursos”

  9. O Mundo Rural Atual: agricultura manual amplamente majoritária • População Agrícola Mundial: 3 bilhões de pessoas (metade da Humanidade) • População Agrícola Economicamente Ativa: 1,3 bilhões de pessoas (metade da PEA mundial) • Apenas 2% dessa população possuem tratores e 50% usam tração animal • “400 milhões de trabalhadores ativos trabalham não somente com ferramentas estritamente manuais mas ainda sem fertilizantes, nem alimento para o gado, nem agrotóxicos, nem variedades de plantas ou raça de animais selecionadas” • “Esses pequenos camponeses dispõem de uma superfície ainda inferior àquela que poderiam cultivar com suas ferramentas simples, e inferior àquela que lhes seria necessária para cobrir as necessidades de autoconsumo de suas famílias”. • São minifundistas que sobrevivem com: • Proletarização/precarização • Dependência (patronagem) • Êxodo e migrações temporárias.

  10. As Razões Atuais do Empobrecimento Extremo de Milhões de Camponeses • Aumento Exponencial da Produtividade e da Produção • Forte queda dos preços agrícolas • Liberação de excedentes a preços baixos para exportação • Consequências • Países em desenvolvimento: Agronegócio exportador (latifúndio mecanizado): • Mão de obra barata (1 kg de cereal = US$ 0,001) • Preço da tonelada para exportação = US$ 100 • Países desenvolvidos: subsídios ao produtor • Camponeses: “Para a maioria dos camponeses do mundo, os preços internacionais dos gêneros alimentícios de base são excessivamente baixos para permitir-lhes viver de seu trabalho e renovar seus meios de produção e, portanto, ainda menos para permitir-lhes investir e progredir” • “Devido à baixa dos custos de transporte e à liberalização crescente das trocas agrícolas internacionais, camadas sempre novas do campesinato subequipado, instalado em regiões desfavorecidas, com pouca disponibilidade de terras e pouco produtivo, são confrontados com a concorrência de gêneros alimentícios a preços muito baixos provenientes dos mercados internacionais”. • ESSA CONCORRÊNCIA DESENCADEIA O BLOQUEIO DO DESENVOLVIMENTO E O EMPOBRECIMENTO DOS CAMPONESES, CHEGANDO A LEVÁ-LOS À PROBREZA EXTREMA E À FOME

  11. Um Exemplo Instrutivo para entender a Crise Agrícola atual • Um camponês com uma família de 4 pessoas que produz manualmente, sem fertilizantes nem produtos fitossanitários (quantidade necessária para alimentação: aprox. 200 kg/pessoa/ano) • “Nessas condições, compreende-se porque as políticas de desenvolvimento que consistem em levar adiante a revolução agrícola contemporânea e a revolução verde nas regiões favorecidas, e as políticas alimentares que consistem em suprir cidades e povoados com gêneros alimentícios a preços sempre mais baixos, são particularmente contraindicadas para lutar contra a fome. De fato, essas políticas empobrecem ainda mais os camponeses e os mais pobres, que constituem, como vimos, a maioria das pessoas subnutridas do mundo” • “Nosso diagnóstico é: a crise geral contemporânea está enraizada na crise geral e ampla das agriculturas camponesas menos dotadas pela natureza e pela história, resultantes essencialmente da concorrência com as agriculturas mais produtivas”

  12. A Saída para a Crise Agrícola • Aumento populacional e necessidade de mais alimentos • População mundial em 2050: 9 bilhões de pessoas • A quantidade de produtos vegetais destinados à alimentação terá que dobrar. • Para obter um aumento de produção agrícola tão significativo, a atividade agrícola deverá ser estendida e intensificada em todas as regiões do mundo em que isso for sustentavelmente possível. COMO FAZÊ-LO? • As possibilidades da Revolução Agrícola Contemporânea • Países desenvolvidos: Limites ecológicos, sanitários e sociais (lembrar Food Inc.) • Países em desenvolvimento: • Os mesmos limites que, se ainda não existem, ocorrerão... • Altos custos a tornam inacessível aos camponeses • Sua adoção pelas grandes propriedades que possuem mão de obra assalariada reduzirá em 90% as necessidades de mão de obra agrícola, o que aumentará ainda mais a miséria rural, o êxodo e o desemprego. • “Se o problema essencial da economia do mundo atual reside essencialmente na confrontação destrutiva entre agriculturas tão diversas e tão desigualmente produtivas que constituem a herança agrária da humanidade, então a solução da crise geral contemporânea passa, necessariamente, por uma política coordenada em escala mundial, capaz de permitir à agricultura pobre em vias de extinção se manter e se desenvolver. Uma política que permita, enfim, conter o êxodo, o aumento do desemprego e da pobreza, e permita restituir aos países pobres um poder aquisitivo abrangente, único capaz de impulsionar de modo amplo os investimentos produtivos e a economia mundial.”

  13. O Preço de Nosso Futuro • A promoção da Agricultura Camponesa sustentável • Para promover as agriculturas camponesas sustentáveis, capazes de assegurar, em quantidade e em qualidade, a segurança alimentar de 6 e, muito em breve, 9 bilhões de seres humanos, é preciso, antes de tudo, garantir aos camponeses preços suficientemente elevados e estáveis para que eles possam viver dignamente de seu trabalho: é o preço do nosso futuro. COMO? • Reorganização das trocas agrícolas internacionais • Estabelecimento de grandes mercados comuns agrícolas regionais reagrupando países que tenham produtividades agrícolas muito próximas. • Proteger estes mercados da concorrência internacional de países com melhor produtividade. • Negociar com base em preços mínimos • Um novo projeto de Nação • Reforma agrária e políticas de renda mínima • Educação, ciência e tecnologia voltadas para as agriculturas camponesas: o CDSA • O paradigma da qualidade e da sustentabilidade. • A Agroecologia e as tecnologias sociais apropriadas: banco de sementes, fundos solidários... • Agregação de valor ao produto: agricultura orgânica, agroindústria familiar, artesanato, turismo • Fomento aos mercados locais: feiras agroecológicas • Políticas Públicas: Territórios da Cidadania, PAA, PNAE... • A autonomia (re)conquistada através de projetos.

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