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Projeto Raça, Cor e Etnia

Projeto Raça, Cor e Etnia . Coordenação: Profa. Dra. Terezinha Taborda Moreira Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras da PUC Minas. Poesias africanas e afro-brasileira Jaqueline Teodora A. Cardoso Mestranda em Literaturas de Língua Portuguesa PUC Minas.

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Projeto Raça, Cor e Etnia

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Presentation Transcript


  1. Projeto Raça, Cor e Etnia Coordenação: Profa. Dra. Terezinha Taborda Moreira Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras da PUC Minas Poesias africanas e afro-brasileira Jaqueline Teodora A. Cardoso Mestranda em Literaturas de Língua Portuguesa PUC Minas

  2. Histórico das Poesias Africanas • O aparecimento das Literaturas de língua portuguesa na África resultou de um longo processo histórico de quase 500 anos de assimilação; • A escrita literária expressa a tensão entre as duas realidades: a colonial e a africana; • A emergência da poesia, nos espaços africanos colonizados pelos portugueses, pode ser dividida em 4 momentos:

  3. O crítico Manuel Ferreira (1989, p. 33) propõe quatro momentos essenciais da evolução das literaturas africanas de língua portuguesa: • 1º momento: - “O escritor africano encontra-se em estado quase absoluto de alienação”. • 2º momento: - “Apesar de um determinado grau de alienação (...), o meio social, geográfico e cultural em que estão inseridos [os escritores] faz com que a enunciação revele os primeiros sinais de sentimento nacional”. • 3º momento: - “O escritor assume a consciência de sua condição de colonizado”; sua pratica literária é a “expressão das raízes profundas da realidade social e nacional, entendida dialeticamente". • 4º momento: - Após as independências, os escritores procuram eliminar as seqüelas da dependência e reconstituir a sua plena individualidade.

  4. Tais momentos foram fortemente influenciados pelo surgimento de movimentos literários significativos e de obras importantes, dentre as quais pode-se citar em: • Cabo Verde: revista Claridade(1936 -1960); • São Tomé e Príncipe: livro de poemas Ilha de nome santo (1942), de Francisco José Tenreiro. • Angola: movimento “Vamos descobrir Angola” (1948) e a publicação da revista Mensagem. • Moçambique: publicação da revista Msaho. • Guiné Bissau: publicação da Antologia Mantenhas para quem luta! (1977), pelo conselho Nacional de Cultura.

  5. Marcas da pós-colonialidade africana • A condição pós-colonial é, em síntese, a recusa das instituições e significações do colonialismo por parte dos que saíram desse regime. • Essa condição operou novas configurações no sistema literário dos Cinco, que se caracteriza pela: • Emergência de uma elite intelectual; • Maneira que o escritor africano trabalha e se posiciona na língua portuguesa; • Necessidade de repensar a identidade nacional a partir do dialogismo entre o período colonial e o pós-colonial, entre a cultura européia e a tradição africana;

  6. Busca de estratégias contra-discursivas que visam a deslegitimização de um projeto de nação monocolor pensado sob o signo da ideologia nacionalista. • Representação da alteridade, celebrando as várias raças do homem; • Idéia de que as identidades (nacionais, regionais, culturais, ideológicas, sócio-econômicas, estéticas) são geradas da capacidade de aceitar as diferenças. • Defasamento entre a estruturação cultural da língua portuguesa e a expressão de uma vivência conduzida em lugares não harmoniosos de convivência de diferentes (o português e o kimbundu, a cidade e o campo, a letra e a voz).

  7. Repercussões das poesias africanas na poesia afro-brasileira • Hoje em dia, não é mais possível ignorar a existência da poesia negra, da prosa negra e do teatro negro brasileiros; • Essas manifestações estéticas, comumente, têm como leitmotiv a questão ontológica do ser e do estar-no-mundo como negro; • É a partir da década de setenta que os escritores negros brasileiros passaram a publicar com regularidade e crescente freqüência.

  8. Temas abordados nas obras dos autores afro-descendentes assemelham-se com os temas das obras africanas nos seguintes aspectos: • recuperação da memória coletiva; • revisão do passado colonial; • crítica à interpretação hegemônica da história; • retratação do papel do negro na sociedade pós-colonial.

  9. Relação entre as poesias africanas e afro-brasileira Mãos Francisco José Tenreiro(São Tomé e Príncipe) Mãos Mãos que moldaram em terracota a beleza e a serenidade do Ifé. Mãos que na cera polida encontram o orgulho perdido do Benin. Mãos que do negro madeiro extraíram a chama das estatuetas olhos de vidro e pintaram na porta das palhotas ritmos sinuosos de vida plena: plena de sol incendiando em espasmos as estepes do sem-fim e nas savanas acaricia e dá flores às gramíneas da fome. Mãos cheias e dadas às labaredas da posse total da Terra, mãos que a queimam e a rasgam na sede de chuva para que dela nasça o inhame alargando os quadris das mulheres adoçando os queixumes dos ventres dilatados das crianças o inhame e a matabala, a matabala e o inhame. Mãos negras e musicais (carinhos de mulher parida) tirando da pauta da Terra o oiro da bananeira e o vermelho sensual do andim. Mãos estrelas olhos nocturnos e caminhantes no quente deserto. Mãos correndo com o harmatan nuvens de gafanhotos livres criando nos rios da Guiné veredas verdes de ansiedades.

  10. Mãos que à beira-do-mar-deserto abriram Kano à atracção dos camelos da aventura e também Tombuctu e Sokoto, Sokoto e Zária e outras cidades ainda pasmadas de solenes emires de mil e mais noites! Mãos, mãos negras que em vós estou pensando. Mãos Zimbabwe ao largo do Indico das pandas velas Mãos Mali do sono dos historiadores da civilização Mãos Songhai episódio bolorento dos Tombos Mãos Ghana de escravos e oiro só agora falados Mãos Congo tingindo de sangue as mãos limpas das virgens Mãos Abissínias levantadas a Deus nos altos planaltos: Mãos de África, minha bela adormecida, agora acordada pelo relógio das balas! Mãos, mãos negras que em vós estou sentindo! Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosa-dos-ventos mas que da terra, da árvore, da água e da música das nuvens beberam as palavras dos corás, dos quissanges e das timbilas que o mesmo é dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração. Mãos que da terra, da árvore, da água e do coração tantã criastes religião e arte, religião e amor. Mãos, mãos pretas que em vós estou chorando!

  11. Comensais A minha pele negra servida em fatias, luxuosas mesas de jacarandá, a senhores de punhos rendados há 500 anos Identidade Sebastiana Ventura de Souza Sebastiana de Minas Gerais Sebastiana de Minas Sebastiana de Tal vem limpar o chão vem lavar a roupa vem enxugar a louça Vem cantar cantiga de ninar para mim. Poemas de Adão Ventura

  12. Grito Negro José Craveirinha (Moçambique) Eu sou carvão! E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão. Eu sou carvão! E tu acendes-me, patrão, para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão. Eu sou carvão e tenho que arder sim; queimar tudo com a força da minha combustão. Eu sou carvão; tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão. Eu sou carvão. Tenho que arder Queimar tudo com o fogo da minha combustão. Sim! Eu sou o teu carvão, patrão.

  13. Ainda Adão Ventura Numa senzala fa vela acesa -marca de ferro & fogo chicote de polícia -lanhos nos ombros -garrote em corte de morte alheia

  14. Noite Agostinho Neto (Angola) Eu vivo nos bairros escuros do mundo sem luz nem vida. Vou pelas ruas às apalpadelas encostado aos meus informes sonhos tropeçando na escravidão ao meu desejo de ser. São bairros de escravos mundos de miséria bairros escuros. Onde as vontades se diluíram e os homens se confundiram com as coisas. Ando aos trambolhões pelas ruas sem luz desconhecidas pejadas de mística e terror de braço dado com fantasmas. Também a noite é escura.

  15. Menino de rua Adão Ventura Ou o talvez Zumbi -menino-tralha -o palmo-a-palmo e a disputa de um roto sol de marquise. Ou o talvez Zumbi - elo e novela de um discurso murcho, envernizado de palavras ocas. e seu quilombo Ou o talvez Zumbi e seu quilombo urbano - O pega da polícia no foge/rock das esquinas.

  16. Regresso Jorge Barbosa (Cabo Verde - 1956 ) Navio aonde vais deitado sobre o mar? Aonde vais levado pelo vento? Que rumo é o teu navio do mar largo? Aquele país talvez onde a vida é uma grande promessa e um grande deslumbramento! Leva-me contigo navio. Mas torna-me a trazer!

  17. Cantos do meu país Julião Sousa (Guiné Bissau) Canto as mãos que foram escravas nas galés corpos acorrentados a chicote nas américas. Canto os cantos tristes do meu País cansado de esperar a chuva que tarde a chegar. [....] Canto as horas amargas de silêncio profundo cantos que vêm da raiz de outro mundo estes grilhões que ainda detêm a marcha do meu País.

  18. Mamice Cuti (Poeta brasileiro) sou daqueles que cobram o leite derramado vovó que era vaca morreu seca e seus bezerros brancos agora touros desmamados ainda procuram tetas para seus rebentos viciados sou daqueles que cobram o leite derramado e não aceito esmola do que me foi roubado.

  19. A carne Farofa Carioca A carne mais barata do mercado é a carne negra Que vai de graça para o presídio e pra debaixo do plástico que de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátrticos A carne mais barata do mercado é a carne negra Que fez e faz história pra caralho Segurando esse país no braço, meu irmão O gado aqui não se sente revoltado Porque o revólver já está engatilhado E o vingador é lento, mas muito bem intencionado Esse país vai deixando todo mundo preto E o cabelo esticado E mesmo assim, ainda guarda o direito De algum antepassado da cor Brigar por justiça e por respeito De algum antepassado da cor Brigar bravamente por respeito Carne negra Poesia e música

  20. REFERÊNCIAS • CARIOCA. Farofa. Carne. Disponível em: <farofa_carioca.hipermusicas.com/a_carne/ - 24k>. Acesso em: 11 abr. 2008. • BARBOSA, Jorge. Obra poética. Imprensa Ncaional - Casa da Moeda, 2002. • CRAVEIRINHA, José. Grito negro. Disponível em:< http://www.revista.agulha.nom.br/cravei06.html>. Acesso em: 11 abr. 2008. • CUTI. Negroesia (antologia poética). Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007. • FERREIRA, Manuel. O discurso no percurso africano. Lisboa: Plátano Editora, SA. 1989. • FONSECA, M. N. S. ; MOREIRA, T. T. . Panorama das literaturas africanas de língua poertuguesa. In: Maria Nazareth Soares Fonseca. Terezinha Taborda Moreira. (Org.). Cadernos CESPUC de Pesquisa - Literaturas africanas de língua portuguesa. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2007, v. 16, p. 13-72. • FONSECA, M. N. S. . Vozes em discordância na literatura afro-brasileira contemporânea. In: FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna; FONSECA, Maria Nazareth Soares. (Org.). Poéticas afro-brasileiras. Belo Horizonte: Editora PUC Minas / Mazza Edições, 2002, v. , p. 191-220. • MATA, Inocência. O pós-colonial nas literaturas africanas de língua portuguesa. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/aladaa/mata.rtf>.Acesso em 10 abr. 2008. • NETO, Agostinho. Noite. Disponível em: <http://www.sitedeliteratura.com/Poesias/A_neto5.htm>. Acesso em: 11 abr. 2008. • PEREIRA, Edmilson de Almeida e ALEIXO, Ricardo. A roda do mundo. Belo Horizonte: Objeto Livro, 2004. • SOUSA, Julião. Cantos do meu país. Disponível em <http://br.geocities.com/poesiaeterna/poetas/guinebissau/juliaosoaressousa.htm#CANTOS%20DO%20MEU%20PAÍS>. Acesso em: 11 abr. 2008. • TENREIRO, Francisco José. Mãos. Disponível em: <http://www.secrel.com.br/jpoesia/ten01.html> Acesso em 11 abr. 2008. • VENTURA, Adão. Texturaafro. Belo Horizonte: Editora Lê, 1992 • Imagem: http://assimetria.blogspot.com/

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