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Sli de 1 - Leitur a XXI

Pat_Xavi
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Sli de 1 - Leitur a XXI

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Presentation Transcript


    3. Cinza das Horas (1917) Desencanto Eu faço versos como quem chora De desalento. . . de desencanto. . . Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . . Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre. Teresópolis, 1912.

    4. Carnaval (1919) Alumbramento Eu vi os céus! Eu vi os céus! Oh, essa angélica brancura Sem tristes pejos e sem véus! Nem uma nuvem de amargura Vem a alma desassossegar. E sinto-a bela... e sinto-a pura... Eu vi nevar! Eu vi nevar! Oh, cristalizações da bruma A amortalhar, a cintilar! Eu vi o mar! Lírios de espuma Vinham desabrochar à flor Da água que o vento desapruma... Eu vi a Via-Láctea ardente... Vi comunhões... capelas... véus... Súbito... alucinadamente... Vi carros triunfais... troféus... Pérolas grandes como a lua... Eu vi os céus! Eu vi os céus! - Eu via-a nua... toda nua! Clavadel, 1913.

    5. Debussy Para cá, para lá... Para cá, para lá... Um novelozinho de linha... Para cá, para lá... Para cá, para lá... Oscila no ar pela mão de uma criança (Vem e vai...) Que delicadamente e quase a adormecer o balança – psiu... – Para cá, para lá... Para cá e... – o novelozinho caiu.

    6. Ritmo Dissoluto (1924) Ritmo Dissoluto (decomposto ou depravado): Negação das formas tradicionais. Conquista do verso livre, mas sem abandono da tradição da poesia metrificada. Prosaísmo: atenção para as cenas comuns e para linguagem cotidiana, de que Bandeira desentranha a poesia. Diálogo forte com o modernismo.

    7. Meninos carvoeiros Os meninos carvoeiros Passam a caminho da cidade. — Eh, carvoero! E vão tocando os animais com um relho enorme. Os burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem é toda remendada. Os carvões caem. (Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) — Eh, carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles . . . Pequenina, ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! —Eh, carvoero! Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando corrida, Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

    8. Gesso Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova – o gesso muito branco, as linhas muito puras, – Mal sugeria imagem de vida (embora a figura chorasse). Há muitos anos tenho-a comigo. O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina amarelo-suja. Os meus olhos, de tanto a olharem, Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico. Um dia mão estúpida Inadvertidamente a derrubou e partiu. Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, recompus a figurinha que chorava. E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mias o sujo mordente da pátina... Hoje este gessozinho comercial É tocante e vive, e me fez agora refletir Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.

    9. Na Rua do Sabão Cai cai balão Cai cai balão Na rua do Sabão! O que custou arranjar aquele balãozinho de papel! Quem fez foi o filho da lavadeira. Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito. Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs os gomos oblongos... Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame. Ei-lo agora que sobe – pequena coisa tocante na escuridão do céu. Levou tempo para criar fôlego Bambeava, tremia todo e mudava de cor. A molecada da rua do Sabão Gritava com maldade: Cai cai balão! Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou das mãos que o tenteavam

    10. E foi subindo.. para longe... serenamente... Como se o enchesse o soprinho tísico do José. Cai cai balão! A molecada salteou-o com atiradeiras assobios apupos pedradas. Cai cai balão! Um senhor advertiu que os balões são proibidos pelas posturas municipais. Ele foi subindo... muito serenamente... para muito longe... Não caiu na rua do Sabão. Caiu muito longe... Caiu no mar, – nas águas puras do mar alto.

    11. Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de [preço ao Sr.diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico Libertinagem (1930)

    12. De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo e resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com [cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

    13. Teresa A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

    14. Porquinho-da-Índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele prá sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . . — O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

    15. Madrigal tão engraçadinho Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive [o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.

    16. Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . . — Respire. ........................................................................................... — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e [o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino

    17. Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que eu nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada

    18. Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar - Lá sou amigo do rei - Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.

    19. Estrela da Manhã (1936) Momento num café Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta.

    20. Poema do beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? — O que eu vejo é o beco

    21. Lira dos cinqüenta anos (1941) O martelo As rodas rangem na curva dos trilhos Inexoravelmente. Mas eu salvei do meu naufrágio Os elementos mais cotidianos. O meu quarto resume o passado em todas as casas que habitei. Dentro da noite No cerne duro da cidade Me sinto protegido. Do jardim do convento Vem o pio da coruja. Doce como arrulho de pomba. Sei que amanhã quando acordar Ouvirei o martelo do ferreiro Bater corajoso o seu cântico de certezas.

    22. Testamento O que não tenho e desejo É o que melhor me enriquece. Tive uns dinheiros – perdi-os... Tive amores – esqueci-os. Mas no maior desespero Rezei: ganhei essa prece. Vi terras de minha terra. Por outras terras andei. Mas o que ficou marcado No meu olhar fatigado, Foram terras que inventei. Gosto muito de crianças: Não tive um filho de meu. Um filho!... Não foi de jeito... Mas trago dentro do peito Meu filho que não nasceu. Criou-me, desde menino, Para arquiteto meu pai. Foi-se-me um dia a saúde... Fiz-me arquiteto? Não pude! Sou poeta menor, perdoai! Não faço versos de guerra, Não faço porque não sei. Mas num torpedo-suicida Darei de bom grado a vida Na luta em que não lutei.

    23. Belo belo (1948) Nova Poética Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira [esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. Sei que a poesia é também orvalho. Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento amadas [que envelheceram sem maldade

    24. O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.

    25. Mafuá do Malungo (1948) Versos de circunstância Auto-retrato Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte, E até mesmo escrevendo crônicas Ficou cronista de província; Arquiteto falhado, músico Falhado (engoliu um dia Um piano, mas o teclado Ficou de fora); sem família, Religião ou filosofia; Mal tendo a inquietação de espírito Que vem do sobrenatural, E em matéria de profissão Um tísico profissional.

    26. Opus 10 (1952) Consoada Quando a Indesejada das gentes chegar (não sei se dura ou coroável), Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: – Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa. A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar.

    27. Boi Morto Como em turvas águas de enchente, Me sinto a meio submergido Entre destroços do presente Dividido, subdividido, Onde rola, enorme, o boi morto, Boi morto, boi morto, boi morto. Árvores da paisagem calma, Convosco – altas, tão marginais! – Fica a alma, atônita alma, Atônita para jamais, Que o corpo, esse vai com o boi morto, Boi morto, boi morto, boi morto. Boi morto, boi descomedido, Boi espantosamente, boi Morto, sem forma ou sentido Ou significado. O que foi Ninguém sabe. Agora é boi morto, Boi morto, boi morto, boi morto.

    28. Estrela da tarde (1958) Antologia A vida Não vale a pena e a dor de ser vivida Os corpos se entendem mas as almas não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Vou-me embora pra Pasárgada! Aqui eu não sou feliz. Quero esquecer tudo: – A dor de ser homem... Este anseio infinito e vão De possuir o que me possuí. Quero descansar Humildemente pensando na vida e nas mulheres [que amei... Na vida inteira que podia ter sido e que não foi. Quero descansar. Morrer. Morrer de corpo e de alma. Completamente. (Todas as manhãs o aeroporto em frente me [dá lições de partir.) Quando a Indesejada das gentes chegar Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Cada coisa em seu lugar.

    29. Questões finais Formação do poeta moderno: evasão para o mundo (encontrar a poesia na vida cotidiana) Poeta menor: vinculado à expressão lírica em poemas breves. Progressivo despojamento da forma: humildade, pobreza, simplicidade. Libertação formal: verso livre (prosaico), sem abandonar a tradição poética Experiência pessoal: infância, doença, morte, pobreza

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