1 / 36

Tuberculose e adesão: um desafio constante

Tuberculose e adesão: um desafio constante. Helen Gonçalves – UFPEL hdgs@uol.com.br. Objetivo. Mostrar como a não-adesão está relacionada ao contexto, ou seja, a situações de vida que as pessoas não querem que sejam modificadas ou questionadas. 8% dos pacientes tem AIDS.

koren
Download Presentation

Tuberculose e adesão: um desafio constante

An Image/Link below is provided (as is) to download presentation Download Policy: Content on the Website is provided to you AS IS for your information and personal use and may not be sold / licensed / shared on other websites without getting consent from its author. Content is provided to you AS IS for your information and personal use only. Download presentation by click this link. While downloading, if for some reason you are not able to download a presentation, the publisher may have deleted the file from their server. During download, if you can't get a presentation, the file might be deleted by the publisher.

E N D

Presentation Transcript


  1. Tuberculose e adesão: um desafio constante Helen Gonçalves – UFPEL hdgs@uol.com.br

  2. Objetivo • Mostrar como a não-adesão está relacionada ao contexto, ou seja, a situações de vida que as pessoas não querem que sejam modificadas ou questionadas

  3. 8% dos pacientes tem AIDS Dados Gerais – Brasil (MS) • 50 milhões de casos (estimativa de prevalência) • 80-130 mil casos novos/ano • 6 mil óbitos/ano • 9° causa de internações (DI) • 7° em gastos com internações • 4° causa de mortes (entre as DI)

  4. Planos para controle (PNCT) • Em 1999 o tratamento supervisionado foi oficializado (DOTS) • Supervisão da tomada de medicamento pelo menos 1 x/sem durante o 1° mês de tratamento. • O tratamento será desenvolvido sob regime ambulatorial, supervisionado, com pelo menos 3 obs./sem da tomada dos med. nos primeiros 2 meses e 1 obs./sem até o final. • A supervisão poderá ser realizada de forma direta na UBS, trabalho e residência. • Objetivo de detectar 90% dos casos infectados estimados e curar pelo menos 85% dos casos novos e manter uma taxa de abandono < 5% MS, 2003

  5. Dados Gerais • PNCT - desenvolver estratégias para a descentralização e horizontalização das ações de prevenção, vigilância e controle • Integração do controle com a atenção básica • Dificuldades de implantação nos municípios • até 2004 - 52% com DOTS • 68% de cobertura populacional dos serviços de saúde com o DOTS  2° pior, perdendo para a Nigéria (65%) • 9° pior entre os 35 países analisados (OMS, 2005) • Taxa de cura no Brasil é de 81% • Tendências da TB no Brasil estão associadas às desigualdades sociais • Mais pobres, menos escolarizados, negros, homens

  6. Inserir figura do MS

  7. Não-adesão • Inabilidade ou recusa p/ingerir os medicamentos prescritos • Forma mais severa ou TB MDR ou XDR (EUA, África e Leste Europeu – 41 países) • Disseminação (bacilífera 1  2) • Óbito • Um bom tratamento requer um bom entendimento dos facilitadores e das barreiras para a cura

  8. Não-adesão • Em geral, ela tem sido atribuída: • Tipo de organização do tratamento; • Interpretação da doença e do mal-estar; • Custo do tratamento; • Conhecimento, atitudes e crenças referentes ao tratamento; • Efeitos adversos/colaterais; • Características pessoais; • Suporte da rede social.

  9. Pelotas (RS) Estudo qualitativo

  10. Estudo quanti • Em Pelotas  1973 tratamento  Centro de Saúde • Estudo epidemiológico para avaliar fatores de risco e incidência de tuberculose durante 1 ano e 6 meses (n=152) • Taxa de abandono de 20,4% (n=31)

  11. Objetivo • Entender os motivos da não-adesão a um tratamento gratuito de uma doença grave

  12. Composição do universo de pesquisa • A não-adesão no CS só era avaliada quando a coordenadora solicitava um relatório ou a assistente social notava falta do paciente • Revisão de prontuários de todos os pacientes inscritos e pertencentes ao estudo • Indicativos de não-adesão foram: • Não retornar ao serviço após 15 dias da data marcada • Retorno é mensal • Nome e endereço, e o primeiro contato foi feito no domicílio (HG)

  13. Estudo qualitativo • 35 homens e 15 mulheres = 50 • 38 informantes (20-40 anos) c/contato + prolongado (1 ano) • 20 a 80 anos • Tipo da doença: + TB Pulmonar • Famílias: pais e filhos • Renda familiar: 1-3 SM (R$120,00 a 360,00)

  14. Estudo qualitativo • Escolaridade: 1° grau incompleto • Maioria conhece alguém ou ouviu falar algo sobre TB recentemente • Viés do doente • CS: 4 médicos (3?) e 4 funcionárias divididos em 2 turnos • Entrevistas semi-estruturadas, observações e conversas informais • Domicílios em distintos bairros, em geral, nas zonas mais pobres • CS: turnos distintos • Gravação e apontamentos • 19 dos 50 modificaram o tratamento: 14 homens e 5 mulheres

  15. Percepção dos sinais/sintomas = doença TB • Aparência corporal  emagrecimento • Funções orgânicas  respiração ofegante • Emissões orgânicas incomuns  escarro c/sangue • Funcionamento de um órgão  pontada • Sintomas físicos desagradáveis  suor, tosse • Mudanças de comportamento  isolamento • Estados emocionais exagerados  angústia, medo

  16. Em Pelotas

  17. Caminho percorridoO que é anormal Fraqueza, pontada, cor e cheiro do escarro, cansaço maior Indivíduo e os familiares notam problema. Comumente os familiares são os que mais pressionam para uma consulta Antes de chegar ou mesmo indo ao médico – muitos usam medicamentos. Gripe forte, pneumonia e bronquite (doenças comuns, sintomas semelhantes) Passado ± 2 meses procuram o primeiro serviço (hospital) para buscar um diagnóstico  15 a 30 dias para chegar ao CS Diagnóstico  CS  tratamento Indivíduo e Doença  se fundem e se confundem

  18. Abrangência da doença • Uma das muitas formas de entender a doença é atribuir que a TB aparece como conseqüência negativa dos atos • Injustiça – trabalhador que se dedicou e se expôs a muitos riscos (insalubre), realizou tarefas braçais (exige força física), não pode estudar e faz o que os ricos não fazem (injustiça, desigualdade) • Idéia de que a TB não só debilita fisicamente, mas provoca a perda da força/vigor físico ou moral para: • Trabalho - variações climáticas - frio/umidade/calor; contato c/substâncias impuras; levantar peso, trabalhar doente; manutenção dos gastos • Casa - atividades domésticas de limpeza; cuidado dos filhos • Lazer - jogar bola, tomar mate, visitar amigos/parentes

  19. Fraqueza • Não só incapacita fisicamente, mas atinge a imagem ou papel social já assumido e construído ao longo da vida • Seja pela explicação do acúmulo (excesso), do descaso ou da exigência com o corpo • Provoca uma grande fraqueza física e moral  TB • Recolocar-se por um período em outra posição, geralmente, mais frágil • Mudança da imagem corporal • Visível a todos • Começa a preocupação que vai além da saúde • Emagrecimento, desanimo e cansaço compõem a fraqueza • Fraqueza tem várias etiologias

  20. Fraqueza • Alimentação desregrada • Doença mal curada • Comportamento do indivíduo (malandro ou trabalhador) • Câncer ou Aids – TB nem existe mais! • Doenças hereditárias • Impurezas da rua • Estresse ou depressão/desgosto

  21. Fraqueza e alimentação • Forte associação com a alimentação (emagrecimento) • Irregularidade – comer quando quer ou pode • Dieta não variada • Alimentos frios e fracos (salgados, refrigerante) não sustentam o corpo • Arroz, feijão, carne protegem, dão energia  refeição completa (quentes e fortes) • Comer na rua implica em ter pouco cuidado consigo ou pouco tempo para si  desgaste externo que se reflete na desordem interna Uma fraqueza, uma anemia muito grande e ela não queria comer. Aí atacou os pulmões – era um princípio de tuberculose. Agora não deixo faltar leite em casa, nem para ela e nem para o guri. (marido, carroceiro – caso Cintia)

  22. A fraqueza e o além • Cintia, achava que poderia ter alguma doença ruim, como a Aids (desconfiou do marido). • Depois encontrou um amigo espírita, que recomendou uma dieta especial (tipos de alimentos) para afastar o que haviam feito a ela (trabalho feito) + • Dieta mais forte poderia combater as maldades do além. O corpo forte pode lutar contra os males espirituais, porque o alimento é um veículo para aquisição de saúde. Um corpo saudável é menos suscetível • TB, segundo o marido, é decorrente da fraqueza provocada pela anemia (má alimentação). Como leite condensado não dá para ele providenciar sempre – ele garante leite de vaca para ela e o filho • Leite condensado engorda! Combate a perda de peso. Gordura vista como saúde

  23. Fraqueza, alimentação, maldade • Fraqueza, anemia  má alimentação, predisposição p/doença  receptáculo, aberto para vírus/bacilos, enfraquecido • A possibilidade de que o trabalho espírita tenha influído nunca foi descartada. A exigência alimentar foi cumprida por um tempo • Além da má alimentação, trabalho espírita, há ainda outra explicação que convive sem conflitos • Freqüentava um local de lazer sempre lotado e com pouca ventilação • Pouca ventilação, possibilidade de contaminação via ar ou contato físico

  24. Esquema de tratamento • Responsabilidade do outro • Marido – Aids  Mulheres fazem isso. Elas são vítimas. • Maldade alheia • Ex do marido faz um trabalho  Fraqueza do marido (homem!) • Fraqueza, anemia • Pouco cuidado com a alimentação  Papel feminino no lar • Exposição ao vírus • Bailão  Não é mais para mulher casada • TB • Doença enviada, mas que se pega em contato com alguém doente, se o corpo fraco (anemia) + fácil pega. • É uma somatória de fatores. Nem sempre respeitam a lógica biomédica • Tratar com purificação espiritual, alimentação (leite), remédios quando até que os sintomas cessem e o corpo volte a ser como antes • Não mostra para o marido e quando contou para o médico que não ingeria todos os dias, foi xingada e ficou braba • Ficou grávida e não-aderiu completamente (medo aborto e desgosto com o médico)

  25. Dimensões da fraqueza O corpo fraco que não se sustenta Destruição de uma parte afetada Bichinho  come por dentro – seca – corpo bichado – escarro - apodrecendo – inflamado – morte Caderneta – controle por cruzes  simbologia para controle Vida/Morte Saudável/Quase morto Desordem Notada pela aparência física Emagrecimento, cansaço, desanimo  fraqueza Fraqueza  má alimentação  pobreza (marido carroceiro/frete) Trabalho espírita Dieta alimentar e o maior cuidado com alimentação Lazer em local impuro Marido  ex-namorada  esposa  praga de enfraquecimento/anemia e TB Médico – remédio para anemia Diagnóstico de tuberculose Tratamento de tuberculose Manipulação dos medicamentos por não considerar a doença apenas um mal orgânico Raiva do marido  Tristeza Rompe com o lazer e tem medo de que descubram que está Tuberculosa Física (doença) e Moral (comportamento)

  26. Adoecer implica • Ao longo da busca do que ocorre até a cura, alguns conflitos e entendimentos pessoais surgem • a dimensão disso pode mudar o rumo ou acentuar aspectos da vida diária dos adoecidos • demonstram os limites frágeis entre o eu e o outro via o corpo • O adoecer implica, entre outras coisas: • Reconhecimento de estar enfermo em seu grupo • Necessidade de se adequar ou driblar o período de tratamento conforme suas crenças, sua história • Grande limitador da cura completa  entender como se pode ajudar muitas pessoas com muitas histórias e manejos de saúde

  27. O que sabemos e fazemos? • Diferentes fontes de conhecimento que interagem ao longo da vida para diferentes situações • Sistema biomédico e leigo (cultural) • Com o tempo o corpo cobra • Predisposição para fatores de risco presentes no caso não são só leigas • Adaptações ou reorganizações de conhecimentos biomédicos em situações específicas ou contextuais

  28. Situação conjugal, gênero e adesão • A classificação entre indivíduos doentes casados, separados ou solteiros foi importante para a análise quando os comportamentos e as narrativas foram comparadas • A situação conjugal atual, gênero e estar doente tem uma grande implicação no tratamento.

  29. Homens solteiros ou separados • 19 homens • Preocupações mais diluídas sobre a doença • aderem menos às recomendações médicas • Não alteram seu modo/estilo de vida • autônomos, livres, independentes (sexo/mulher, jogo, álcool, noite) • não esmorecer com dores corporais (coisa de mulher) • modificarem seus hábitos, durante os 6 meses (fumo e bebida) • Reclamam dos efeitos colaterais e quantidade nos 6 meses • causa mais problema do que cura • Sintoma cessa a interrompem temporariamente o tratamento • Se sentem apenas responsáveis por si quando não têm filhos ou têm e não convivem com eles • 11 não-adesão • Cura – com tratamento irregular • Apoio da mãe ou irmãos foi fundamental

  30. O que fazer? • TB no Brasil – amplitude de diferenças • DOTS é uma solução com limites • Implantação • Treinamento • Busca ativa • ‘Controle’ regular • Médicos não serem tão especialistas • Os doentes não encaram desta forma • Uma TB não é apenas uma TB • 6 meses de tratamento não deveriam ser representados por seis contatos

  31. O que fazer? • Não somente medicar (antigo!!!) • Avaliar nos retornos as implicações da doença na vida cotidiana • Diferenças entre homens e mulheres • Casados e solteiros • Desempregados e trabalhadores • Ouvir e conversar • Como fazer isso na correria/sobrecarga? Com sobrecarga só emergência funciona • Apoio familiar - requerer ao longo do processo terapêutico • Conhecer a situação familiar é importante; fazer alianças • Equipe trabalhar afinada • Educação médica • Educação para saúde

  32. Cartaz campanha

  33. Lembrar • Obedecer à prescrição dos medicamentos é concretizar a doença, mas é também efetivar as limitações também físicas. • Ao manipular o tratamento os indivíduos engendram uma forma própria de lidar com estes aspectos (alguns apontados) e com as características mórbidas de que são portadores da forma como entendem ser melhor, mesmo que elas sejam contrárias a uma cura nos moldes do PNCT.

  34. Obrigada

More Related