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O problema do livre arbítrio

O problema do livre arbítrio. As térmitas são formigas africanas de corpo mole que habitam grandes formigueiros onde encontram formas de protecção colectiva. Por vezes, os formigueiros sofrem danos devido à acção dos elefantes ou das cheias, que os tornam vulneráveis.

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O problema do livre arbítrio

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Presentation Transcript


  1. O problema do livre arbítrio

  2. As térmitas são formigas africanas de corpo mole que habitam grandes formigueiros onde encontram formas de protecção colectiva. Por vezes, os formigueiros sofrem danos devido à acção dos elefantes ou das cheias, que os tornam vulneráveis.

  3. Quando danificados, os formigueiros abrem rachas que permitem a entrada de formigas invasoras. A única forma de se protegerem é voltar a reparar as rachas com toda a rapidez. Enquanto umas trabalham, outras tentam retardar o avanço das invasoras.

  4. Não era inevitável Heitor enfrentar Aquiles em combate. Podia ter-se fingido doente e recusar o combate. Tinha cursos alternativos de acção ao seu dispor. • Escolher o curso de acção a seguir dependia apenas de Heitor: era sua a última palavra, era ele o autor da sua acção.

  5. As térmitas-soldado agem sempre da mesma maneira quando o formigueiro é atacado. Os seus genes programaram-nas para agir assim: não têm alternativa. • O curso de acção que adoptam não depende da sua vontade. Não escolhem morrer para salvar as outras formigas: esse comportamento é-lhes imposto pela natureza.

  6. Um agente pratica livremente uma acção X quando: • Tem à sua disposição mais do que um curso alternativo de acção; • Está sob o seu controlo praticar, ou não, a acção.

  7. Heitor tornou-se um herói porque decidiu ser um herói: foi o autor dos seus actos. Heitor é livre. As térmitas são marionetas comandadas por factores que não controlam. As suas acções não são livres.

  8. Heitor enfrentou Aquiles por sua vontade; a sua acção foi intencional. • Heitor quer salvar Tróia dos invasores e está convencido que bater-se com Aquiles é a forma de o conseguir. Heitor acreditava ter o dever de o fazer. Sem este desejo e esta crença, não teria enfrentado Aquiles. • Portanto, este desejo e esta crença são a causa do seu comportamento.

  9. O comportamento de Heitor é causado pelos seus desejos e crenças. • Mas o que poderia ter causado estes desejos e crenças? • Se Heitor não fosse honesto nem corajoso, as suas intenções seria outras. Não teria aceite enfrentar Aquiles. • Sabemos que a coragem e a honestidade são qualidades que reflectem a personalidade das pessoas. • Podemos concluir que os desejos e crenças de Heitor têm origem na sua personalidade, e são causados por ela.

  10. Que factores causaram da personalidade de Heitor? • Algumas das características do que virá a ser a nossa maneira de ser já estão previstas nos nossos genes; • Outras têm origem na influência que o meio exerce sobre nós. • Portanto, a personalidade é causada em parte pelos nossos genes e em parte pela influência do meio (físico e social).

  11. Em que consiste um acontecimento ser a causa de outro ou o efeito de outro? • • O movimento dos planetas em torno do Sol é uma consequência da lei da gravidade (causa). • A dilatação dos metais é o efeito do aquecimento (causa).

  12. Tal como a gravidade determina o movimento dos planetas em torno do Sol e o aquecimento determina a dilatação do metal, uma causa, em conjunto com as leis da natureza, determina os seus efeitos. Dada a ocorrência de uma causa não é possível que o efeito correspondente deixe de se verificar. As causas determinam os efeitos.

  13. Mas o que é o determinismo? • O determinismo é uma teoria acerca do modo como se processa a relação entre as causas e os efeitos que observamos na natureza. • O determinismo defende que todo o acontecimento B tem como causa um acontecimento anterior A, tal que, segundo as leis da natureza, B é uma consequência inevitável de A. • Sendo as leis da natureza o que são, e tendo-se verificado A, é impossível não se verificar B.

  14. Concluímos então que uma situação pode ser explicada deterministicamente quando: A ocorrência de um acontecimento B é uma consequência inevitável (e não apenas provável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza.

  15. Durante séculos, a ciência deu-nos uma visão determinista do mundo. Esta visão é a seguinte: 1. Tudo o que acontece tem uma causa. 2. Cada acontecimento é um efeito ou uma consequência inevitável de causas anteriores. Como é que isto se aplica no caso de Heitor?

  16. Se interpretarmos o comportamento de Heitor como o resultado de uma acção praticada livremente, somos obrigados a concluir que podia não ter enfrentado Aquiles. Se interpretarmos o comportamento de Heitor como a consequência inevitável de causas anteriores sobre as quais ele não tinha controlo, temos de concluir que Heitor não podia ter deixado de enfrentar Aquiles.

  17. A visão científica do mundo, baseada na verdade do determinismo, parece colocar em causa a ideia que temos de nós próprios enquanto agentes dotados de livre arbítrio. Problema Será que uma acção ter uma causa implica não ser livre? As respostas ao problema do livre arbítrio consistem na tentativa para explicar de que modo conciliar o determinismo da natureza com a existência de acções livres. - Será esta conciliação possível?

  18. Tal como qualquer outro problema, este pode ser respondido pela negativa ou pela positiva. A história da filosofia ilustra ambos os casos. Alguns, filósofos chamados, incompatibilistas, pensam que a liberdade e o determinismo não são conciliáveis: Kant (séc. XVIII), Jean-Paul Sartre (séc. XX) são filósofos incompatibilistas famosos. Defenderam, portanto, o seguinte: Se o determinismo é verdadeiro, não existe livre arbítrio. Esta posição não afirma que o determinismo é verdadeiro. Limita-se a dizer que se for assim, então a liberdade tem de ser uma ilusão.

  19. Outros filósofos, chamados compatibilistas, pensam que o choque entre liberdade e determinismo é apenas aparente. Stuart Mill (séc. XIX) e Daniel Dennett (séc. XX) são exemplos de compatibilistas famosos Defendem, portanto, o seguinte: Determinismo e livre arbítrio são conceitos consistentes. Esta posição afirma geralmente que o determinismo é verdadeiro, e caracteriza-se pela tentativa de mostrar que tal não exclui a liberdade.

  20. Tipos de incompatibilismo • Negar que o determinismo possa ser conciliado com o livre arbítrio não implica afirmar que o determinismo é verdadeiro; apenas implica que as duas coisas não podem coexistir. • Além da questão da compatibilidade, o problema do livre arbítrio é formado por dois problemas mais. • Será o determinismo verdadeiro? • Será que existe livre arbítrio?

  21. Tipos de incompatibilismo • Assim, os incompatibilistas dividem-se em dois grupos: • Os deterministas radicais defendem que liberdade e determinismo são incompatíveis e que o determinismo é verdadeiro; logo, a liberdade é uma ilusão. • Skinner, um importante psicólogo do séc. XX foi um determinista radical. • Os libertistas defendem que determinismo e liberdade são incompatíveis mas consideram o determinismo falso; isso permite-lhes dizer que somos livres. • Jean-Paul Sartre é um libertista famoso.

  22. Dois argumentos a favor do incompatibilismoCausalidade à Distância • Se um agente pratica livremente uma acção, então é responsável pela acção. • Os agentes não são responsáveis por acções causadas por factores que não dependem de si (que não controlam). • Todas as acções que um agente pratica são causadas por factores que não dependem de si (genes e meio ambiente). Logo, Se o determinismo é verdadeiro, não há acções livres

  23. Dois argumentos a favor do incompatibilismoInevitabilidade • Se o agente praticou livremente uma acção X, então podia ter praticado uma acção diferente de X. • As pessoas não podem praticar acções diferentes das que de facto praticam. Logo, Se o determinismo é verdadeiro, não há acções livres

  24. A posição determinista radical • Se o determinismo é verdadeiro, não há livre arbítrio. • O determinismo é verdadeiro. • Logo, não há livre arbítrio A primeira premissa afirma o incompatibilismo; em conjunto com a tese de que o determinismo é verdadeiro, pode-se concluir validamente que não há livre arbítrio.

  25. A resposta libertista • Se quisermos rejeitar a conclusão do argumento determinista radical, temos de rejeitar pelo menos uma das suas premissas. • É isso que os libertistas fazem. Respondem pela negativa ao problema de saber se o determinismo é verdadeiro e, com isso, rejeitam a premissa dois do argumento.

  26. A posição libertista • Se o determinismo é verdadeiro, não há livre arbítrio. • Há livre arbítrio. • Logo, o determinismo é falso. Para um incompatibilista defensor do livre arbítrio é necessário que o determinismo seja falso, e que nem todos os acontecimentos (algumas das nossas acções) sejam a consequência inevitável de causas anteriores.

  27. O que acontece se o determinismo for falso? Determinismo • A ocorrência de um acontecimento X é uma consequência inevitável (e não apenas provável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza. Indeterminismo • A ocorrência de um acontecimento X é uma consequência provável (mas não inevitável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza.

  28. Um exemplo: a roleta russa • Coloca-se uma bala na câmara de um revólver e ficam as outras cinco vazias. • O árbitro roda o tambor da arma antes de a entregar a cada jogador para que haver ou não uma bala na câmara dependa do acaso. • Cada jogador tem 1/6 de probabilidades de morrer ao disparar a arma contra si próprio, e 5/6 probabilidades de sobreviver. • O disparo tem uma causa: se não tivesse havido pressão no gatilho o acaso não teria a oportunidade de decidir a sorte do jogador.

  29. A roleta russa • Podemos dizer que os acontecimentos que, apesar de terem uma causa, não são inevitáveis, devem a sua ocorrência à intervenção do acaso. • Quer isto dizer que nos tornaríamos livres se o mesmo acontecesse com as nossas acções? • A resposta é negativa.

  30. Liberdade e controlo • Para sermos livres, temos de ter controle sobre as nossas acções. • Somos nós quem tem a última palavra: a acção apenas depende de nós. • Não temos qualquer controle sobre o que acontece por acaso. • E não somos mais responsáveis por uma acção que é fruto do acaso que por uma acção que não pudéssemos evitar.

  31. Conclusão • Se não podemos ser responsabilizados por uma acção que é fruto do acaso, é porque não a praticámos livremente, ela limitou-se a acontecer. • A principal motivação para a discussão do problema do livre arbítrio sempre foi a prática quotidiana de atribuirmos responsabilidade aos agentes por aquilo que fazem. • Acreditamos que se não formos livres, também não podemos ser responsabilizados. • A dificuldade é que quer o determinismo seja verdadeiro quer seja falso a questão da responsabilidade parece manter-se sem uma solução clara.

  32. Ana Veríssimo • Ana Soares • Carolina Santinhos

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