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A BATALHA DOS ATOLEIROS 6 de Abril de 1384
O flagelo da Peste Negra, ocorrido entre 1347 e 1350, reduziu a população europeia em cerca de um terço. Na Península Ibérica, espaço já de si com escassa população, o efeito foi devastador. O Séc. XIV traduz-se na Europa por uma crise profunda. Desde 1300 que o continente foi assolado por períodos de fome, quebras na produção e revoltas protagonizadas pelo povo.
A interacção entre os reinos peninsulares não era pacífica. Os diversos confrontos entre as monarquias portuguesa e castelhana, originaram fluxos mútuos de nobres exilados, que passavam a exercer influência junto das cortes que os recebiam. Em 1337 os poderosos reinos de Inglaterra e França envolvem-se na Guerra dos Cem Anos (1337-1453). As décadas seguintes foram marcadas pelo crescente envolvimento dos reinos peninsulares neste conflito.
D. João de Castro, irmão bastardo de D. Fernando, afigurava-se a figura mais congregadora das vontades em Portugal. Por seu lado, Juan I de Castela, casado com D. Beatriz – única filha de D. Fernando – após aprisionar D. João de Castro, apresta-se a vir reclamar o seu direito ao trono. Em Portugal, a morte do rei D. Fernando, em 1383, num quadro precário quanto à sucessão, tornar-se-á no catalisador específico da crise. À rainha viúva, D. Leonor Teles, regente do reino, começavam a opor-se os partidos dos candidatos ao trono.
Em finais de 1383 surge outro partido que ganha força rapidamente. Um outro meio-irmão de D. Fernando, João, Mestre de Avis, tem o apoio da generalidade da burguesia de Lisboa. Agrega também à sua volta os descontentes elementos da baixa nobreza e muitos dos filhos secundogénitos e bastardos das famílias destacadas do reino. Entre estes últimos encontrava-se D. Nun’Álvares Pereira, filho do Prior do Crato. Este cavaleiro notabilizou-se desde muito cedo pelas suas fortes convicções e pelos feitos militares.
O Mestre d’Avis, ocupado com a defesa de Lisboa, foi informado de que Juan I tinha solicitado reforços para o cerco, que se dirigiam de Castela pelo eixo mais directo – o Alto Alentejo. Em Março de 1384 nomeou D. Nuno fronteiro da comarca de Entre Tejo e Guadiana. Em 8 de Fevereiro de 1384, estando já estacionado em Santarém, o rei de Castela colocou forças em Lisboa, na zona do Lumiar, dando assim início a um cerco que viria a ficar completado em Março, com a chegada de uma frota castelhana ao Tejo.
03(?) Abril 05 de Abril 6 de Abril 20-25(?) Março 4 de Abril 29-30 de Março 28 (?) Março 1 a 3 de Abril D. Nuno dirigiu-se para o Alentejo com uma reduzida hoste de cerca de trezentos cavaleiros e pouco mais de mil peões. Ao chegar a Estremoz toma conhecimento de que o exército de socorro castelhano já se encontra no Crato e é constituído por mais de cinco mil homens, entre os quais mil cavaleiros. Tendo formado a sua hoste no rossio de S. Brás, em Estremoz, comunica-lhes que é sua intenção dar batalha ao inimigo. A sua capacidade de liderança faz com que a hoste aceda em segui-lo nesta perigosa empresa.
No dia 6 de Abril de 1384, perto da vila de Fronteira, dá-se o choque entre as duas hostes. A mestria táctica de D. Nuno revela-se de forma brilhante no modo como escolheu o terreno da batalha e formou a sua força para o combate. Após quatro infrutíferos assaltos à posição portuguesa, a hoste castelhana retira, tendo sofrido pesadas baixas. Do lado português as perdas são irrisórias.
No dia seguinte à batalha, D. Nuno Álvares Pereira dirigiu-se a Assumar, descalço e a pé, em agradecimento pelo resultado do combate e para fazer oração a Santa Maria desta vila. A Batalha dos Atoleiros representa um marco histórico da maior relevância, não só no contexto da Crise de 1383-85, mas na vida de Portugal. Ficou demonstrado que os castelhanos não eram invencíveis. A posição do Mestre de Avis saiu reforçada. Pela primeira vez em Portugal, materializou-se a supremacia de uma infantaria equipada com lanças longas sobre a cavalaria. Ficou aberto o caminho para o reconhecimento de D. Nuno como comandante de excepcional valor.