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Orações Eucarísticas . Aula de Liturgia Prof. Thiago Ap. Faccini Paro. IGMR 78.
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Orações Eucarísticas Aula de Liturgia Prof. Thiago Ap. Faccini Paro
IGMR 78 • Inicia-se agora a Oração eucarística, centro e ápice de toda a celebração, prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a comunidade. O sentido desta oração é que toda a assembléia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício. A oração eucarística exige que todos a ouçam respeitosamente e em silêncio.
Destaques do texto: • 1- Centro e ápice: a celebração eucarística encontra seu momento alto na Oração Eucarística. A primeira parte a prepara e lhe dá um sentido sempre novo e, a segunda parte, é conseqüência para poder participar da Eucaristia plenamente, na comunhão.
2 - Prece de ação graças: Não se trata apenas de uma proclamação da História da Salvação, mas é prece de ação de graças. Prece pela qual louvamos ao Pai, com Cristo, por Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo, pela obra da salvação realizada em nosso favor, como esclarece o texto ao dizer: “o sentido desta oração....”
3 - Santificação: Referência aos dons do pão e vinho que são santificados; recebem a graça e a “virtus” da santidade de Deus. Entra aqui toda a dimensão epiclética.
Estrutura literário-teológica das Orações Eucarísticas romanas
1 O gênero literário das anáforas • O que na terminologia habitual do Ocidente cristão é chamado de “oração eucarística”, na grande tradição litúrgica do Oriente recebe o nome de “anáfora”, a oração que a Igreja reunida na assembléia eucarística eleva ao Pai (ana+pherein) pela boca de seu presidente, o ministro ordenado (bispo ou presbítero).
A anáfora tem sua origem na oração vétero-testamentária que poderia ser denominada “oração de aliança” por ter uma estrutura análoga e paralela aos tratados de aliança do Oriente Médio antigo que serviram de inspiração para os textos bíblicos da aliança de Yhwh com seu povo.
Os textos de aliança na vida política do Oriente Médio antigo têm uma estrutura muito lógica: começam recordando os benefícios (reais ou pretensos) que o súdito recebeu de seu senhor, o povo dominado de seu dominador, o vassalo do suserano; decorrentes daí se seguem as obrigações ou cláusulas de aliança. O texto conclui em geral invocando os deuses e desejando sua bênção para quem se ativer à aliança e sua maldição para quem a infringir. Deus, em sua revelação a Israel, se serviu dessa experiência humana para fazer compreender a relação entre ele e seu povo. Os textos bíblicos de aliança seguem, pois, a mesma lógica, recordando as maravilhas que Deus operou por seu povo e fazendo decorrer daí as obrigações que lhe assistem.
Essa estrutura literária contém uma verdade teológica de fundamental importância: Deus não impõe obrigações por uma atitude impositiva; elas decorrem do que o próprio Deus já fizera previamente em favor de seu povo. Porque Yhwh ama seu povo e o libertou do Egito, ele pode exigir uma série de obrigações.
Em termos técnicos as duas primeiras partes do discurso de aliança podem ser chamadas de secção anamnética (a recordação do que Deus fez por seu povo) e secção injuntiva (a injunção ou ordem formal de Deus que se segue dos benefícios que lhe conferiu). A segunda depende da primeira; é sua conseqüência lógica, jurídica e teológica.
Toda aliança supõe dois parceiros. Também a aliança de Yhwh com seu povo. Se o discurso de aliança, quando parte de Deus tem essa estrutura de duas secções, também quando parte do parceiro humano terá uma estrutura análoga. Apenas análoga, porque o ser humano não pode apresentar méritos diante de Deus e, por isso, não pode iniciar seu discurso a Deus recordando o que fez por Deus, já que tudo que possa ter realizado de bom é graça, dom de Deus. Tampouco pode o ser humano fazer exigências a Deus, apresentar-lhe injunções. O discurso de aliança, da parte do parceiro humano, só pode ser recordação da misericórdia divina e súplica humilde e confiante com base nas promessas da aliança.
Daqui decorre a estrutura da oração de aliança que é o correspondente da parte do parceiro humano ao discurso de aliança da parte de Deus. Também a oração de aliança apresenta-se em duas secções: a secção anamnético-celebrativa e a secção epiclética. O parceiro humano da aliança inicia seu discurso recordando os grandes feitos de Deus em favor da humanidade, em favor de seu povo, sua fidelidade incansável diante das infidelidades humanas e, recordando-o, louva, bendiz, dá graças a Deus por tanta bondade e misericórdia. Baseado na sempre renovada fidelidade de Deus, ousa apresentar-lhe sua injunção, como parceiro da aliança, mas será uma “injunção suplicante”. A promessa de Deus autoriza o parceiro humano a elevar sua súplica.
Para reforçar o pedido, o orante pode usar de um artifício literário: referir a atuação salvífica ou a promessa divina, em que se baseia sua súplica, citando o próprio texto bíblico, a Palavra de Deus. Do ponto de vista literário a citação é um embolismo (do grego tòémbolon = enxerto); do ponto de vista teológico, é o lugar teológico-escriturístico que dá força e fundamento ao pedido. A súplica não provém de uma opção arbitrária do orante, mas está no dinamismo da aliança: o pedido é motivado e garantido pela promessa de Deus.
Estrutura da PE • Diálogo inicial • Prefácio • Santo • Epíclese de consagração • Narração da instituição • Aclamação memorial • Anamnese • Ofertório • Epíclese de comunhão • Intercessão • Doxologia final.
Nove elementos podem ser identificados no interior das anáforas tanto de tradição oriental como ocidental. A posição desses elementos varia segundo a família litúrgica. Consideremos a estrutura das OEs romanas.
Introduzindo a OE, todas as tradições litúrgicas conhecem um diálogo invitatório. São três seus componentes insubstituíveis, no sentido de estarem presentes em todas as anáforas tanto do Oriente como do Ocidente.
A saudação “O Senhor esteja convosco” ou outra congênere inicia o diálogo. Expressa a necessidade da graça do Senhor para celebrarmos a eucaristia. A assembléia devolve a saudação com a resposta “E com teu espírito”. Não só com a assembléia deve estar o Senhor, também com seu presidente. E não é raro que os Padres da Igreja interpretem a palavra “espírito” como se estivesse com maiúsculas: o Espírito dado ao ministro em sua ordenação. O povo deseja que ele seja fiel ao Espírito e, com isso, sacramento da presença do Senhor. A resposta é, ao mesmo tempo, uma proclamação da fé da assembléia de que o presidente pode transmitir o Espírito, porque o recebeu, e um desejo: de que ele seja sempre fiel ao Espírito recebido.
“Ele está no meio de nós”. ? ? ? ? ? ? • A tradução oficial da resposta em língua portuguesa não corresponde à resposta tradicional em grego e em latim ? ? ? ? ?
Segue-se o convite para manter o coração orientado para Deus: “Corações ao alto”. No momento culminante da eucaristia, precisamos ter o coração em Deus. A resposta do povo é desafiante, se quiser que corresponda à verdade (e deveria corresponder!): “O nosso coração está em Deus”.
Já que nosso coração está direcionado para Deus, podemos dar-lhe graças: “Demos graças ao Senhor, nosso Deus”. Aqui entra, pois, a expressão-chave da eucaristia: ação de graças, que, traduzindo um termo hebraico, significa confessar, ao mesmo tempo, a fidelidade de Deus e a infidelidade humana. É preciso ter presente a amplidão desse termo, para não pensarmos que se trata teologicamente de um mero sinônimo do verbo “agradecer”, mesmo que lingüisticamente o seja. Dar graças a Deus “é digno e justo”, expressão que a tradução portuguesa oficial substituiu por “é nosso dever e nossa salvação”.
Após o diálogo invitatório, segue-se o que a tradição latina convencionou chamar de prefácio, primeiro elemento da anáfora. • O prefácio é a ação de graças pelo que Deus operou em nosso favor, sendo assim o elemento típico de uma anamnese celebrativa, mesmo quando menciona também o pecado humano – pois, na economia da graça, o pecado é a “feliz culpa” a que Deus respondeu com seu perdão.
Na impossibilidade de louvar a Deus como convém, a assembléia eucarística se une aos “profissionais” do louvor divino, aqueles que estão diante dele, face a face, louvando-o constantemente: os anjos e os santos. E convém recordar que santos são todos os que morreram na paz de Cristo; não apenas aqueles que a Igreja reconheceu como tais; e também estão incluídos aqueles que jamais tiveram oportunidade de assumir publicamente a opção cristã, mas viveram, de acordo com sua consciência, uma fé que só Deus conheceu (cf. OE IV).
Na ação de graças se unem, pois, as duas assembléias: a da terra e a do céu num louvor unânime. Para expressá-lo, a Igreja – como já antes a Sinagoga – emprega cânticos que a Escritura põe na boca dos anjos: o Santo dos serafins em Is 6,3 e o “Bendito” dos querubins e ofanins em Ez 3,12 (cf. v. 13). A assembléia da terra, cujos membros ocupados em múltiplas atividades só podem se dedicar esporadicamente de modo integral e explícito ao louvor de Deus, sente a necessidade de se unir à assembléia do céu, aos “especialistas” no louvor que a ele se dedicam “full time”.
Desta forma, o canto do Santo não interrompe a unidade da OE, tanto que vai ser logo retomado no chamado pós-santo que prossegue o louvor iniciado no prefácio.
Sua denominação “pós-santo” provém de sua localização e, principalmente, do fato de este trecho do louvor retomar o argumento do prefácio referindo-se explicitamente ao Santo (por exemplo, com as palavras “verdadeiramente santo”) e às vezes também ao Bendito (como é o caso, no MR, das OEs div. circ.).
A secção epiclética, nas OEs romanas, começa com a epiclese sobre os dons, o pedido ao Pai para que envie o Espírito Santo sobre os dons a fim de transformá-los no corpo e no sangue de Cristo. A epiclese sobre os dons constitui uma unidade lógica com a epiclese sobre os comungantes que se encontra posteriormente na estrutura das OEs romanas. A unidade de ambas fica, no entanto, clara na tradição oriental das anáforas de dinâmica anamnética, onde ambas não só estão juntas, mas freqüentemente se entrelaçam num único pedido: que o Espírito venha sobre os dons para que, transformando-os no corpo e sangue de Cristo, faça da comunidade reunida o corpo eclesial de Cristo. Tal como se apresentam na tradição romana, as duas epicleses se repartem para incluir dentro de si, a modo de cunha, o relato institucional e a anamnese.
O relato institucional intervém após a epiclese sobre os dons para fundamentar o pedido. Não por uma razão arbitrária qualquer, mas baseada na ordem de Cristo a assembléia litúrgica ousa pedir ao Pai o envio do Espírito sobre os dons. A ordem de Jesus é concretamente fazer isto (o sinal do pão e do vinho) como memorial do mistério pascal de Cristo, sua morte e ressurreição. Por isso, o relato institucional atrai para junto de si a anamnese , com o oferecimento do memorial ao Pai.
Relato e anamnese não se podem separar, porque esta simplesmente retoma aquele em pauta declaratória e ofertorial. Não só fazemos o memorial da morte e ressurreição do Senhor, mas o oferecemos ao Pai, seguindo a ordem de Jesus. Por isso, a anamnese está geralmente expressa, na tradição litúrgica mais antiga, 17 numa frase secundária participial que afirma estarmos fazendo memória do mistério pascal, e numa frase principal oferecendo ao Pai o memorial que se está realizando: “Recordando, pois, a morte e ressurreição de vosso Filho, nós vos oferecemos, ó Pai, o pão da vida e o cálice da salvação” (OE II).
Após a cunha do relato-anamnese, a súplica central da eucaristia se completa com a epiclese sobre os comungantes, o pedido do envio do Espírito para fazer da comunidade reunida o corpo eclesial de Cristo, ou – segundo a feliz expressão de Thomas Netter von Walden († 1430) – para que, graças à recepção da sagrada eucaristia, os cristãos se transubstanciem no corpo eclesial de Cristo.
A epiclese sobre os comungantes se prolonga e se explicita nas intercessões <8>. Enquanto a epiclese sobre os comungantes tinha presente apenas aqueles que agora participam da eucaristia, as intercessões estendem o pedido pela unidade do corpo eclesial de Cristo a todos os demais segmentos da Igreja: a Igreja hierárquica, a Igreja no mundo, a Igreja dos santos, a Igreja dos defuntos...
Após cada segmento evocado se poderia proclamar: “que pela ação do Espírito Santo sejam um só corpo” juntamente com a assembléia que agora celebra a eucaristia. As intercessões se distinguem, pois, muito claramente das intenções das preces dos fiéis. Lá se trata de pedidos concretos em várias dimensões e aspectos, sem uma estrutura lógica rigorosa; aqui se trata de um pedido bem específico: que, por esta eucaristia, os grupos mencionados constituam em Cristo um só corpo, com a assembléia celebrante
As intercessões vão num crescendo até chegar a um ápice escatológico, de forma que a última intercessão culmine na doxologia epiclética , em que se volta, no contexto da secção epiclética, ao louvor inicial a Deus por Cristo no Espírito. A doxologia não é uma peça estranha que se anexa ao conjunto, mas, como se pode verificar claramente em quase todas as anáforas orientais, é o ponto a que convergem as intercessões.
“Por Cristo, com Cristo, em Cristo” tradução literal: • “Por ele, com ele e nele”
Lembrar sempre que a grande aclamação continua sendo o “amém” como parte da grande doxologia. A doxologia é do padre e o amém é uma aclamação assemblear. • Muitas comunidades introduziram aclamações devocionais ou sentimentais depois da consagração. E uma introdução imprópriae, dadas as exigências teológicas do momento consacratório, háuma descaracterização. É desconsiderar o louvor silencioso diante da presença de Deus: tudo cala e o silêncio é contemplação laudativa; nada mais que isso. Além do mais, a aclamação que se faz na consagração é sempre anúncio da salvação de Cristo e suplica para que venha em sua segunda vinda.
Observações: • OE – Missal Romano (ver) • “Virgem Maria” – Breve inclinação • Um único prato • Sem sinos/ campainhas...
Aclamações da Oração Eucarística • OBrasil recebeu a faculdade de introduzir aclamações no decorrer das Orações Eucarísticas. As mesmas deveriam ser valorizadas nas missas dominicais e, de preferência, cantadas. Canta-las com melodias variáveis e simples, favorecendo a participação de todos, é sempre um bom modo de solenizar a celebração e torna-la mais participativa.
Escolha do Prefácio • Faz parte da dimensão comunicativa da Oração Eucarística, a escolha do Prefácio. Para isso existem alguns critérios: • 1- As Orações Eucarísticas da IV em diante têm Prefácio próprio, o que significa que formam um todo com a Oração Eucarística em si e não se substituem. Exceção para as Orações Eucarísticas sobre a Reconciliação que podem ser substituídas por Prefácios Quaresmais, no Tempo da Quaresma.
2 - Normalmente, as solenidades e festas têm Prefácios próprios ou do comum. Neste caso, segue-se a orientação do Diretório Litúrgico. • 3 - Nos tempos fortes, os Prefácios são sempre próprios do tempo em curso (Quaresma, Páscoa, Advento...), exceto se houver indicação diferente.
4 - No Tempo Comum o primeiro critério é a Liturgia da Palavra. O enfoque dado à celebração, de acordo com a Liturgia da Palavra determina o motivo da ação de graças, a ser proclamado no Prefácio.
Gestos na Oração Eucarística • É totalmente fora de contexto, tanto teológico como ritual e comunicativo partir da hóstia no momento das palavras consacratórias. Fazer isso é uma atitude fundamentalista: tomar o texto ao pé da letra. A Liturgia entende que Cristo partiu o pão em vista da distribuição, na comunhão, e não para consagrar o pão. Além disso, o padre não faz teatralização, mas proclamação memorial.