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Estudos Dirigidos Os Ovóides Vamos falar aqui sobre os Ovóides. pericliscb@outlook.com
A ovoidização é uma das mais pungentes enfermidades que pode acometer o espírito depois da morte. Consiste na perda da consciência ativa, quando o eu consciente desmorona-se completamente, em decor-rência de atrozes e insuportáveis sofrimentos, voltando-se sobre si mes-mo, anulando-se e perdendo todo o contato com a realidade. A atividade consciente da alma entra em letargia, refugiando-se nas camadas do subconsciente. O pensamento contínuo se fragmenta, perdendo seu fio de condução, e a estrutura perispiritual se desfigura completamente, desfazendo sua natural conformação humana, adquirindo o formato aproximado de um ovo, cujas dimensões se aproximam de um crânio infantil. Capítulo 2 Ovoidização O processo é em tudo semelhante ao das bactérias que se encistam diante de condições adversas de vida, aguardando novas oportunidades para retornarem à atividade normal. A ovoidização é processo incurável no Plano Espiritual, sendo uma das mais graves enfer-midades de nosso mundo, e somente pode ser revertido em reencarnações expiatórias, quando o espírito reencontra-se com novo ambiente de manifestação e pode refazer o metabolismo do seu consciente. CONTINUA
Várias reencarnações, porém, se consomem em tentativas frustradas, de modo que a perda evolutiva é imensa para estes infelizes seres. Muitos regridem a condições tão primárias da vida humana que necessi-tam reencarnar entre povos primitivos, a fim de que a rudeza dos orga-nismos ainda involuídos possam suportar-lhes a grave patologia, sem se desfazerem em mal formações congênitas (defeitos anatômicos na for-mação dos embriões) incompatíveis com a biologia humana. Por isso, existe em Portais do Vale (Colônia/Cidade do Plano Espiritual, próxima ao Vale dos Suicidas) um departamento de serviços que se empenha em estudar e tratar pre-ventivamente a ovoidização, onde eu (Adamastor) situava naquela época os meus singelos esforços de serviços e pesquisas. Capítulo 2 Ovoidização Os suicidas que dormem nas Cavernas do Sono são os candidatos naturais à ovoidização. Permanecem em sono reparador, em baixíssima atividade consciencial, por anos a fio. Ao iniciarem, no entanto, o despertamento, a rápida percepção da amarga realidade que lhes assedia pode deflagrar, de imediato, mediante reflexo de defesa, a retirada apressada para camadas ainda mais profundas do inconsciente inferior. CONTINUA
Esse reflexo não somente inibe totalmente o despertar, como retrai o metabolismo mental, motivado por novo impulso de contração, estabelecendo-se a ovoidização de forma incondicional. Por isso, quando o serviço de vigilância de nossa colônia identifica almas em tais condições, com indícios de ovoidização, somos convocados em regime de urgência. Neste instante ainda podemos atuar, antes que o suicida deflagre a contração do "eu", tornando o processo tardio demais para ser revertido em nosso mundo. Capítulo 2 Ovoidização O suicídio é possível também no Plano do Espírito e não somente na carne. Quando encarnado, pode o ser danificar sua veste orgânica de tal modo a torná-Ia incompatível com a vida na matéria. Na Esfera Espiritual, no entanto, o perispírito possui mecanismos regeneradores muito mais eficazes, de modo que destruí-lo por dano físico é praticamente impossível. Mediante a contração da atividade consciente, no entanto, é permitido ao ser continuar negando a sua existência, fugindo de si mesmo. Desta forma, podemos considerar de fato a contração ovoidal como um autocídio espiritual. CONTINUA
Como se vê, temos também nossos suicidas. Suicídio que, naturalmente, pressupõe mera tentativa de fuga da realidade que envolve o espírito depois do túmulo e não a destituição da individualidade, pois tal não é possível no plano em que nos projetamos. As causas do encistamento da alma são as mesmas que motivam o auto-extermínio na Carne: o desespero diante de sofrimentos intoleráveis, somados à falta de preparo para a existência no Plano Espiritual. Sofrimentos, a bem da verdade, aparentemente intoleráveis, pois a sabedoria das Leis divinas não nos proporciona nunca dores que sobrepassem nossa capacidade de suportá-Ias. Se parecem aniquilar-nos, é porque nossa revolta diante delas é incomensurável e indevida. Capítulo 2 Ovoidização O mais forte indutor de tais barbaridades, no entanto, está na falta de preparo para a vida espiritual, sendo o materialismo o seu mais poderoso protagonista. Materialismo que se desenvolve diante do enfraquecimento do pensamento religioso do homem moderno, desgastado na ideação de fórmulas mentais arcaicas, não lhe proporcionando mais subsídios para a crença no espírito. CONTINUA
Os apelos de um ser que aprendeu a raciocinar e a crer na razão não po-dem mais ser satisfeitos por uma fé cega que macula o conhecimento, genuína conquista da Ciência. Como se vê, urge lutarmos contra tal situação a fim de que a penúria do espírito seja desterrada do Planeta e banidos os riscos do mergulho na inconsciência. Não destituindo as conquistas modernas que representam valores reais e não podem ser questionadas, mas renovando o pensamento religioso do homem terreno, para que o seu frio racionalismo não sufoque a alma que anseia pelos genuínos bens da eternidade. Capítulo 2 Ovoidização Semeemos novamente as verdades que consolam, verdades que nos foram reveladas desde que aprendemos a pensar, mas que acabaram esquecidas e que precisam ser relembradas e reestruturadas, compatibilizando-se com o nosso avanço intelectual. Por isso a implantação do Espiritismo na Terra, protagonizando a fé alicerçada na razão, pode ser vista como uma das maiores vitórias do Plano Espiritual Superior na atualidade. CONTINUA
Os ovóides, espíritos em fuga de si mesmos, como se pode deduzir, au-mentam assustadoramente nos dias atuais. Permanecem espalhados pelo Vale dos inconscientes, atados a rochas ou troncos de árvores, pois podem segregar substância pegajosa que os fixam a qualquer superfície. No entanto, preferencialmente, aderem-se a outros seres vivos, encar-nados ou não. Tristemente temos que considerar que o ovóide se torna, na verdade, um parasita. Capítulo 2 Ovoidização Como todo ser vivo, seu metabolismo, embora baixíssimo devido às suas reduzidas neces-sidades, precisa da absorção de seivas vitais para a sua subsistência. Não dispondo de meios para produzi-Ias, a manutenção de sua exígua vitalidade somente pode ser levada a efeito mediante a aquisição de recursos vitais externos, provenientes de outros seres. A anatomia e a fisiologia dos ovóides adquirem assim todas as características próprias dos parasitas da Terra, especializados na assimilação e metabolismo de forças vitais roubadas de outros seres vivos. CONTINUA
Embora qualquer tipo de energia vital possa servir-lhes para este fim, aquelas que melhor se adaptam às suas necessidades e para as quais eles se especializaram são as energias do psiquismo. Por isso, o hospedeiro natural do ovóide é a mente humana. Devido a esta característica, os ovoides comumente são colhidos por es-píritos dedicados ao mal, que os utilizam como instrumentos de torturas humanas. Eles podem atá-los aos cérebros de inditosos obsediados, mi-nando suas forças e deteriorando suas resistências psíquicas através do escoamento de suas forças mentais. Capítulo 2 Ovoidização Induzem assim, não somente a depressões, mas à demência e à loucura, desequilíbrios de difícil remissão, tanto na carne quanto no mundo espiritual. Sendo os ovóides joguetes nas mãos desses infelizes, natural que este seja outro motivo para se lhes evitar, a qualquer custo, a proliferação no Vale dos Suicidas. CONTINUA
A ovoidização, contudo, não é uma adulteração das leis perispirituais, pois está subordinada aos mesmos princípios da miniaturização ou restringimento, fenômeno a que está submetido o espírito no processo reencarnatório, quando a tessitura plasmática do perispírito, antecedendo nova descida à carne, sofre uma contração involutiva, retomando aos patamares da evolução biológica, para abraçar um novo óvulo fecundado e elevá-lo, rapidamente, à condição das últimas conquistas no campo da vida carnal, através do milagre do desenvolvimento embrionário. Capítulo 2 Ovoidização A ovoidização, portanto, em última análise, é apenas uma contração ou miniaturização patológica, pois ocorre distante do momento reencarnatório. Não encontrando o reservatório uterino, meio indutor, mantenedor e protetor de tal processo, o ser, em franco processo de contração, estaciona-se na fase ovóide deste percurso, restringindo sua consciência às etapas mais elementares da vida biológica. Alguns observadores do nosso plano referem-se ao ovóide como sendo a segunda morte do espírito. CONTINUA
Fenômeno este muito pouco divulgado na literatura dos espíritos, dirigida aos homens, por tratar-se de tema de natureza ainda muito complexa e que poderia causar maiores dúvidas e questionamentos entre os pesquisadores da Terra. De fato, a morte ovoidal pode ser considerada a segunda morte, porém, para o perfeito esclarecimento do estudioso, devemos compreender que se trata apenas de um dos patamares onde pode estacionar a contração perispiritual. Capítulo 2 Ovoidização O ovóide ainda traz um metabolismo vital, embora bastante reduzido, mostrando, ade-mais, resíduos de atividade consciencial, sendo portanto apenas um dos limiares em que estagia o ser rumo à segunda morte. Na realidade, esta é o resultado de aprofundamento em nível ainda mais inferior da condensação involutiva, acometendo espíritos com alto quilate de rebeldia e maldade, levando-os à completa estagnação da consciência, com a total perda da atividade vital, fenômeno raríssimo e conhecido também como a petrificação perispiritual. Isto, entretanto, pressupõe apenas o limiar do mergulho do ser no abismo da inconsciência e não a anulação de sua individualidade. FIM
Não podíamos, no entanto, deixar o Departamento sem completarmos as lições do dia e por isso convidei Adelaide para examinar de perto a Câmara dos Ovóides, contígua à enfermaria que visitávamos. — Conheço a existência destes estranhos seres, mas jamais vi um deles — dizia a estudante, admirada diante da ímpar oportunidade. Uma sala de iguais dimensões continua a Câmara dos Embrióides, cons-truída nas mesmas feições, contendo pequenos berços também conecta-dos por fios translúcidos. Ali, no entanto, estes são abertos, pois os ovói-des não necessitam de proteção vibratória e temperaturas diferenciadas, como os embrióides. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides — Aqui se acomodam os ovóides suicidas em preparo para a embrioterapia com seletivo potencial de recuperação, pois existem outros, oriundos de outras etiologias. Há aqueles que são filhos do ódio, centralizados em monoideísmo de revolta e vingança. Embrióides – São espíritos que desencarnaram na fase de desenvolvimento embrionário e fixam o molde perispiritual na forma carnal que abandonaram, por tempo indeterminado. CONTINUA Falaremos mais adiante sobre a embrioterapia.
“Os que aqui são assistidos, entretanto, não alimentaram tais sentimentos, mas são apenas vítimas de avançada psicólise(aqueles que buscam a autodestruição do psiquismo, ou seja, do próprio eu inferior). Examinemo-los detidamente, a fim de que você possa ajuizar-se dos limi-tes da queda humana.” O ovóide é uma verdadeira regressão biológica, representando o colapso da forma e da consciência. O processo se efetua através de paulatinas degradações em que a confi-guração humana se contrai, inicialmente pela perda dos membros e re-dução significativa do tronco, até que se estaciona em sua forma final, assemelhando-se a uma mórula embrionária agigantada, pois guarda dimensões que variam entre as de uma laranja e as de um crânio de recém-nascido. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides A alta densidade da psicosfera (aura) envolve-o em uma névoa, tornando-lhe os contornos imprecisos e emprestando-lhe um aspecto gelatinoso, como os embrióides. Sua membrana externa acinzentada, à semelhança da mórula, apresenta desenhos losangularesarredon-dados. CONTINUA
Toquei de leve a fronte de Adelaide de modo a permitir-lhe uma visualização mais abrangente do estranho ser sob nossa respeitosa análise. Abaixo da membrana protetora, podíamos vislumbrar os vasos sangue-neos com pulsões quase imperceptíveis, denotando-se-lhe a fraca ativida-de vital. Os órgãos internos se apresentam reduzidos em suas formas embrioná-rias. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides A bomba cardíaca bate fracamente em sístoles frouxas, intercaladas por longas diástoles. Sua anatomia está regredida ao coração dos répteis, apresentando quatro câmaras incompletas, formadas por dois átrios e um só ventrículo parcialmente dividido. O sistema nervoso também se acha retrocedido aos primórdios de seu desenvolvimento embrionário, mostrando-se como o arquencéfalo, o cérebro primitivo, constando de um tubo neural dividido nas três vesículas encefálicas primordiais. Os doze pares de nervos cranianos e suas formações ganglionares, no entanto, acham-se presentes. CONTINUA
Sua temperatura é instável, variando com a do ambiente, mantendo-se menos de um grau acima deste. — Estes cistos humanos, assistidos por dedicados enfermeiros espiritu-ais, estão em permanente sono estival, quais os animais hibernantes — disse a Adelaide. — O pensamento contínuo está neles detido momen-taneamente e não há registro sequer de sonhos. O fenômeno aos nossos olhos demonstra, sem sombra de dúvidas, que o encistamento não é unicamente um patrimônio dos animais inferiores. O longo letargo lhes permite a espera por melhores condições de vida e, dessa forma, podem resistir às situações adversas do ambiente espiritual em que se proje-taram. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides — Observe outros aspectos deste estranho ser — continuei. — olhe mais atentamente na sua superfície e veja que nos centros dos losangos da membrana protetora, que não po-deríamos chamar propriamente de pele, há pregas que confluem para pequenos orifícios. São dutos que vertem uma secreção pegajosa, secretada quando o ovóide não está aco-modado na intimidade de algum hospedeiro. Essa secreção o protege, ajudando-o a fixar-se em qualquer superfície em que esteja. CONTINUA
Notemos também que na parte inferior do ovóide se observa um peque-no orifício pregueado que continua em fímbrias delgadas. Trata-se de sua ventosa, através da qual ele se alimenta. Não de detritos ou substâncias de natureza material, porém de vibrações. Instalam-se estes cistos humanos, regredidos a organização tão rudi-mentar, preferencialmente na mente humana, pois se alimentam das emanações psíquicas de suas vítimas. Comumente se alojam na fronte de seus hospedeiros em íntima conexão com o centro cerebral, fonte de intensos eflúvios mentais. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides Como essas vibrações não produzem resíduos e o metabolismo celular está praticamente estacionado, a organização do ovóide dispensa o trabalho dos órgãos digestivos e excre-tores, que se encontram reduzidos em suas formas embrionárias, completamente desti-tuídos de atividade orgânica. Naturalmente que levarão ao esgotamento das energias psíquicas daqueles que parasitam, acarretando-Ihes graves transtornos mentais. CONTINUA
— Não estaremos sujeitos ao ataque de um deles? — Não se intimide, minha amiga, tal assédio se fundamenta em certos quesitos que seguramente não trazemos no momento. Há necessidade de sintonia para que a parasitose se instale em qualquer nível em que se manifeste. A Câmara dos ovóides no Departamento de Embrioterapia detém aqueles com algum potencial de recuperação imediata. São encaminhados para reencarnações frustras, mas bastante salutares para eles. Levarão a formações teratogênicas (produção de formas monstruo-sas durante o de-senvolvimento embrionário, gerando aberrações perispiri-tuais, engendradas pelo próprio ser), incompatíveis com a vida, muito mais graves, naturalmente, do que as induzidas pelos embrióides. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides CONTINUA
Serão assim os protagonistas de diversas patologias da prenhez, como as ectopias gestacionais(1), os deslocamentos placentários, os blastomas coriais(2), como a mola hídatiforme(3) e, sobretudo, as malformações embrionárias(4), absurdas do ponto de vista biológico, despertando no observador terreno a noção de que a vida está subordinada ao acaso e a presença do Divino é incerta e duvidosa. (1) Gravidezes que ocorrem fora do útero, frequentemente na tuba uterina e, mais raramente, no ovário ou na cavidade abdominal. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides (2) Tumores uterinos oriundos de trofoblastos fetais defeituosos. Os trofoblastos, por sua vez são as células que formarão a placenta. (3) Processo tumoral desenvolvido na gravidez, pela degeneração das vilosidades coriônicas, produzindo-se uma massa de cistos que lembra um cacho de uvas. (4) Defeitos na forma dos embriões. CONTINUA
— O pesquisador da Terra imputa a erros genéticos aleatórios e injustificáveis as perturbações induzidas pelos espíritos regredidos — dizia a Adelaide, — mas não são nada disso, são ensaios biológicos de desovoidização como chamados aqui. Produzem verdadeiras aberrações biológicas, mas ricas de inquestionável valor terapêutico para esses desvalidos seres. A natureza não produz inutilidades e mesmo a teratogenia guarda sua necessidade. Após vários ensaios reencarnatórios frustros, o ovóide pode se recuperar e refazer seu molde perispiritual na conformação humana. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides Depois nascerão ainda como mongóis, imbecis ou portando outras mal formações genéticas, as mais diversas, catalogadas pela ciência terrena, sem lhes alcançar a causa, erradicada no espírito. Com esforço, porém, podem se recuperar e continuar assim a acompanhar o grupo humano ao qual pertencem. Grande parte deles, no entanto, não se restabelecerão e serão enviados para humanidades primitivas, onde prosseguirão suas evo-luções. CONTINUA
— Portanto, deduz-se que os homens não deveriam deter estes processos uma vez identificados, não é mesmo? — Sim, Adelaide, mais uma vez o aborto comparece aqui como fator de prejuízos para todos os envolvidos. Estes processos gestacionais devem ser suportados até o ponto em que não ameacem a vida das mães que os acomodam. Embora dolorosos, são ressarcimentos expiatórios e devem ser tolerados ao máximo, a fim de que cumpram com suas finalidades. “As energias desequilibrantes da massa ovoidal são exoneradas para a carne nesses choques biológicos, aliviando-lhes a danosa ação no peris-pírito. Para o espírito nessas condições, funcionam como verdadeiros choques, quais os eletrochoques da psiquiatria, levados a efeito com o mesmo propósito de despertamento da consciência adormecida na loucura. Irão refletir no espírito como salutar impulso de refazimento, invertendo, como já vimos, o impulso contrativo do encistamentoovoidal.” Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides CONTINUA
Cabe ainda considerarmos que existem ovóides, tão intensamente atados aos seus hospedeiros desencarnados, que reencarnam jungidos a eles, produzindo estranhas enfermidades para a análise dos estudiosos do mundo, como o cisto dermóide, uma mal formação embrionária, descrita pela patologia humana, rara e incompreensível. Esta evidente comprovação da existência do ovóide consiste num exótico tumor cís-tico, que se desenvolve de forma anômala na região frontal daquele que o transporta, formado por uma pele envolvendo uma massa de restos embrionários em estado rudimentar, onde se nota a presença de pêlos, glândulas sebáceas e sudoríparas, cartilagens, ossos e dentes, demons-trando que, junto com o hospedeiro, o ovóide submeteu-se a caótico ensaio de desenvolvimento embrionário. Nosso conhecimento da perfei-ção das Leis Divinas obriga-nos a inocentar a natureza pela produção dessas estranhas patologias, sendo o próprio espírito caído o único artífice dessas graves desarmonias. Capítulo 8 Na Câmara dos Ovóides FIM
Ante o intervalo espontâneo, reparei, não longe de nós, como que ligadas às personalidades sob nosso exame, certas formas indecisas, obscuras. Semelhavam-se a pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior que um crânio humano. Variavam profusamente nas parti-cularidades. Algumas denunciavam movimento próprio, ao jeito de grandes amebas, respirando naquele clima espiritual; outras, contudo, pareciam em repouso, aparentemente inertes, ligadas ao halo vital das personalidades em movimento. Capítulo 6. Observações e Novidades. Fixei, demoradamente, o quadro, com a per-quirição do laboratorista diante de formas desconhecidas. Grande número de entidades, em desfile nas vizinhanças da grade, transportavam essas esferas vivas, como que imantadas às irradiações que lhes eram próprias. AMEBA Nunca havia observado, antes, tal fenômeno. CONTINUA
Em nossa colônia de residência, ainda mesmo em se tratando de criaturas perturbadas e sofredoras, o campo de emanações era sempre normal. E quando em serviço, ao lado de almas em desequilíbrio, na Esfera da Crosta, nunca vira aquela irregularidade, pelo menos quanto me fora, até ali, permitido observar. Inquieto, recorri ao instrutor, rogando-lhe ajuda. – André – respondeu ele, circunspecto, evidenciando a gravidade do as-sunto –, compreendo-te o espanto. Vê-se, de pronto, que és novo em serviços de auxílio. Já ouviste falar, de certo, numa “segunda morte”. Capítulo 6. Observações e Novidades. – Sim – acentuei –, tenho acompanhado vários amigos à tarefa reencarnacionista, quando, atraídos por imperativos de evolução e redenção, tornam ao corpo de carne. De outras vezes, raras aliás, tive notícias de amigos que perderam o veículo perispiritual, conquistando planos mais altos. A esses missionários, distinguidos por elevados títulos na vida superior, não me foi possível seguir de perto. Gúbio sorriu e considerou: CONTINUA
– Sabes, assim, que o vaso perispirítico é também transformável e perecível, embora estruturado em tipo de matéria mais rarefeita. – Sim... – acrescentei, reticencioso, em minha sede de saber. – “Viste companheiros – prosseguiu o orientador –, que se desfizeram dele, rumo a esferas sublimes, cuja grandeza por enquanto não nos é dado sondar, e observaste irmãos que se submeteram a operações redutivas e desintegradoras dos elementos perispiríticos para renasce-rem na carne terrestre. Capítulo 6. Observações e Novidades. “Os primeiros são servidores enobrecidos e gloriosos, no dever bem cum-prido, enquanto que os segundos são colegas nossos, que já merecem a reencarnação trabalhada por valores intercessores, mas, tanto quanto ocorre aos companheiros respeitáveis desses dois tipos, os ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos também perdem, um dia, a forma perispiritual. CONTINUA
“Pela densidade da mente, saturada de impulsos inferiores, não conse-guem elevar-se e gravitam em derredor das paixões absorventes que por muitos anos elegeram em centro de interesses fundamentais. Grande número, nessas circunstâncias, mormente os participantes de condená-veis delitos, imantam-se aos que se lhes associaram nos crimes. Se o discípulo de Jesus se mantém ligado a Ele, através de imponderáveis fios de amor, inspiração e reconhecimento, os pupilos do ódio e da perversi-dade se demoram unidos, sob a orientação das inteligências que os en-trelaçam na rede do mal. Capítulo 6. Observações e Novidades. “Enriquecer a mente de conhecimentos novos, aperfeiçoar-lhe as faculdades de expressão, purificá-la nas correntes iluminativas do bem e engrandecê-la com a incorporação defi-nitiva de princípios nobres é desenvolver nosso corpo glorioso, na expressão do apóstolo Paulo, estruturando-o em matéria sublimada e divina. “Essa matéria, André, é o tipo de veículo a que aspiramos, ao nos referirmos à vida que nos é superior. CONTINUA
“Estamos ainda presos às aglutinações celulares dos elementos físio-pe-rispiríticos, tanto quanto a tartaruga permanece algemada à carapaça. “Imergimo-nos dentro dos fluidos carnais e deles nos libertamos, em vicioso vaivém, através de existências numerosas, até que acordemos a vida mental para expressões santificadoras. “Somos quais arbustos do solo planetário. Nossas raízes emocionais se mergulham mais ou menos profundamente nos círculos da animalidade primitiva. Capítulo 6. Observações e Novidades. “Vem a foice da morte e sega-nos os ramos dos desejos terrenos; todavia, nossos vínculos guardam extrema vitalidade nas camadas inferiores e renascemos entre aqueles mesmos que se converteram em nossos associados de longas eras, através de lutas vividas em comum, e aos quais nos agrilhoamos pela comunhão de interesses da linha evolutiva em que nos encontramos.” As elucidações eram belas e novas aos meus ouvidos e, em razão disso, calei as interroga-ções que me vagueavam no íntimo, para atenciosamente registrar as considerações do instrutor, que prosseguiu: CONTINUA
– A vida física é puro estágio educativo, dentro da eternidade, e a ela ninguém é chamado a fim de candidatar-se a paraísos de favor e, sim, à moldagem viva do céu no santuário do Espírito, pelo máximo aproveita-mento das oportunidades recebidas no aprimoramento de nossos valo-res mentais, com o desabrochar e evolver das sementes divinas que traze-mos conosco. “O trabalho incessante para o bem, a elevação de motivos na experiência transitória, a disciplina dos impulsos pessoais, com amplo curso às manifestações mais nobres do sentimento, o esforço perseverante no infinito bem, constituem as vias de crescimento mental, com aquisição de luz para a vida imperecível. Capítulo 6. Observações e Novidades. “Cada criatura nasce na Crosta da Terra para enriquecer-se através do serviço à coletivida-de. Sacrificar-se é superar-se, conquistando a vida maior. Por isto mesmo, o Cristo asse-verou que o maior no Reino Celeste é aquele que se converter em servo de todos. CONTINUA
“Um homem poderá ser temido e respeitado no Planeta pelos títulos que adquiriu à convenção humana, mas se não progrediu no domínio das ideias, melhorando-se e aperfeiçoando-se, guarda consigo mente estreita e enfermiça. “Em suma, ir à matéria física e dela regressar ao campo de trabalho em que nos achamos presentemente, é submetermo-nos a profundos choques biológicos, destinados à expansão dos elementos divinos que nos integrarão, um dia, a forma gloriosa.” Capítulo 6. Observações e Novidades. E porque me visse na atitude do aprendiz que interroga em silêncio, Gúbio asseverou: – Para fazer-me mais claro, voltemos ao símbolo da árvore. O vaso físico é o vegetal, limitado no espaço e no tempo, o corpo perispirítico é o fruto que consubstancia o resultado das variadas operações da árvore, depois de certo período de maturação, e a matéria mental é a semente que representa o substrato da árvore e do fruto, condensando-lhes as experiências. CONTINUA
“A criatura para adquirir sabedoria e amor renasce inúmeras vezes, no campo fisiológico, à maneira da semente que regressa ao chão. “E quantos se complicam, deliberadamente, afastando-se do caminho reto na direção de zonas irregulares em que recolhem experimentos doentios, atrasam, como é natural, a própria marcha, perdendo longo tempo para se afastarem do terreno resvaladiço a que se relegaram, ligados a grupos infelizes de companheiros que, em companhia deles, se extraviaram através de graves compromissos com a leviandade ou com o desequilíbrio.” Capítulo 6. Observações e Novidades. Compreendeste, agora? Apesar da gentileza do orientador, que fazia o possível por clarear o seu pensamento, ousei indagar: – E se consultarmos esses esferóides vivos? ouvir-nos-ão? Possuem capacidade de sinto-nia? Gúbio atendeu, solícito: CONTINUA
– Perfeitamente, compreendendo-se, porém, que a maioria das criaturas, em semelhante posição nos sítios inferiores quanto este, dormitam em estranhos pesadelos. Registram-nos os apelos, mas respondem-nos, de modo vago, dentro da nova forma em que se segregam, incapazes que são, provisoriamente, de se exteriorizarem de maneira completa, sem os veículos mais densos que perderam, com agravo de responsabilidade, na inércia ou na prática do mal. “Em verdade, agora se categorizam em conta de fetos ou amebas men-tais, mobilizáveis, contudo, por entidades perversas ou rebeladas (no processo chamado de imantação). O caminho de semelhantes compa-nheiros é a reencarnação na Crosta da Terra ou em setores outros de vida congênere, qual ocorre à semente destinada à cova escura para trabalhos de produção, seleção e aprimoramento. Capítulo 6. Observações e Novidades. congênere : Do mesmo gênero; Da mesma natureza; Parecido, semelhante. CONTINUA
“Claro que os Espíritos em evolução natural não assinalam fenômenos dolorosos em qualquer período de transição, como o que examinamos. A ovelha que prossegue, firme, na senda justa, contará sempre com os benefícios decorrentes das diretrizes do pastor; no entanto, as que se desviam, fugindo à jornada razoável, pelo simples gosto de se entre-garem à aventura, nem sempre encontrarão surpresas agradáveis ou construtivas.” O orientador silenciou por momentos e perguntou, em seguida: Capítulo 6. Observações e Novidades. – Entendeste a importância de uma existência terrestre? Sim, entendia, por experiência própria, o valor da vida corporal na Crosta Planetária; contudo, ali, diante dos esferóides vivos, tristes mentes humanas sem apetrechos de manifestação, meu respeito ao veículo de carne cresceu de modo espantoso. Alcancei, então, com mais proprie-dade, o sublime conteúdo das palavras do Cristo: “andai, enquanto tendes luz”. (...) FIM
Convidou-nos Gúbio a pequena excursão educativa, asseverando-me, bondoso: – Vejamos, André, se poderemos aproveitar alguns minutos, estudando os “ovóides”. Descemos alguns metros e encontramos esquálida mulher estendida no solo. Gúbio nela fixou os olhos muito lúcidos e, depois de alguns mo-mentos, recomendou-nos seguir-lhe a observação acurada. Capítulo 7. Quadro Doloroso. – Vês, realmente, André? – inquiriu, paternal. Percebi que a infeliz se cercava de três formas ovóides, diferençadas entre si nas disposições e nas cores, que me seriam, porém, imperceptíveis aos olhos, caso não desenvolvesse, ali, todo o meu potencial de atenção. – Reparo, sim – expliquei, curioso –, a existência de três figuras vivas, que se lhe justa-põem ao perispírito, apesar de se expressarem por intermédio de matéria que me parece leve gelatina, fluida e amorfa. Elucidou Gúbio, sem detença: CONTINUA
– São entidades infortunadas, entregues aos propósitos de vingança e que perderam grandes patrimônios de tempo, em virtude da revolta que lhes atormenta o ser. Gastaram o perispírito, sob inenarráveis tormentas de desesperação, e imantam-se, naturalmente, à mulher que odeiam, irmã esta que, por sua vez, ainda não descobriu que a ciência de amar é a ciência de libertar, iluminar e redimir. Auscultamos, de mais perto, a desventurada criatura. Capítulo 7. Quadro Doloroso. Assumiu Gúbio a atitude do médico ante a paciente e os aprendizes. A mulher sofredora, envolvida num halo de “força cinzento-escura”, registrou-nos a pre-sença e gritou, entre a aflição e a idiotia: – Joaquim! onde está Joaquim? Digam-me, por piedade! Para onde o levaram? Ajudem-me! Ajudem-me! O nosso orientador tranquilizou-a com algumas palavras e, não lhe conferindo maior atenção, além daquela que o psiquiatra dispensa ao enfermo em crise grave, observou-nos: – Examinem os ovóides! sondem-nos, magneticamente, com as mãos. CONTINUA
Operei, expedito. Toquei o primeiro e notei que reagia, positivamente. Liguei, num ato de vontade, minha capacidade de ouvir ao campo íntimo da forma e, assombrado, ouvi gemidos e frases, como que longín-quos, pelo fio do pensamento: – Vingança! vingança! Não descansarei até ao fim... Esta mulher infame me pagará... Repeti a experiência com os dois outros e os resultados foram idênticos. As exclamações “assassina! assassina!...” transbordavam de cada um. Capítulo 7. Quadro Doloroso. Após afagar a doente com fraternal carinho, analisando-a, atencioso, o instrutor dirigiu-nos a palavra, esclarecendo: E o Instrutor Gúbio narra toda a história, da mulher e dos “ovóides”... O instrutor fez ligeira pausa na narrativa e continuou: – Exonerada dos liames carnais, viu-se perseguida pelas vítimas de outro tempo, anulando-se-lhe a capacidade de iniciativa, em virtude das emissões vibratórias do próprio medo perturbador. CONTINUA
Padeceu muitíssimo, não obstante contemplada pela compaixão de benfeitores do Alto que sempre tentaram conduzi-la à humildade e à renovação pelo amor, mas o ódio permutado é uma fornalha ardente, mantenedora de cegueira e sublevação. (...) “(...) Os impiedosos adversários prosseguiram na obra deplorável e, ainda mesmo depois de perderem a organização perispirítica, aderiram a ela, com os princípios de matéria mental em que se revestem. A revolta e o pavor do desconhecido, com absoluta ausência de perdão, ligam-nos uns aos outros, quais algemas de bronze. A infeliz perseguida, na posição em que se encontra, não os vê, não os apalpa, mas sente-lhes a presença e ouve-lhes as vozes, através da inconfundível acústica da consciência. Vive atormentada, sem direção. Tem o comportamento de um ser quase irresponsável. Capítulo 7. Quadro Doloroso. CONTINUA
O destino, e tratamento, deles... Quanto a mulher, será... Seguida de perto pela influência dos seres que com ela se projetaram no abismo mental do ódio, terá infância dolorosa e sombria pelos pesares desconhecidos que se lhe acumularão, incom-preensivelmente, na alma opressa. Conhecerá enfermidades de diagnose impossível, por enquanto, no quadro dos conhecimentos humanos, por se originarem da persistente e invisível atuação dos inimigos de outra época... Terá mocidade torturada por sonhos de maternidade e não repousará, intimamente, enquanto não oscular, no próprio colo, os três adversários convertidos, então, em filhinhos tenros de sua ternura sedenta de paz... Transportará consigo três centros vitais desarmônicos e, até que os reajuste na forja do sacrifício, recambiando-os à estrada certa, será, na condição de mãe, um ímã atormentado ou a sede obscura e triste de uma constelação de dor. Capítulo 7. Quadro Doloroso. FIM
Uma caso de obsessão complexa... (...) atingíramos a intimidade de Margarida, a obsidiada que o nosso orientador se propunha socorrer. Dois desencarnados, de horrível aspecto fisionômico, inclinavam-se, confiantes e dominadores, sobre o busto da enferma, submetendo-a a complicada operação magnética. Essa particularidade do quadro am-biente dava para espantar. No entanto, meu assombro foi muito mais longe, quando concentrei todo o meu potencial de atenção na cabeça da jovem singularmente abatida. Interpenetrando a matéria espessa da cabeceira em que descansava, surgiam algumas dezenas de “corpos ovóides”, de vários tamanhos e de cor plúmbea, assemelhando-se a grandes sementes vivas, atadas ao cérebro da paciente através de fios sutilíssimos, cuidadosamente dispostos na medula alongada. Capítulo 9 Perseguidores Invisíveis A obra dos perseguidores desencarnados era meticulosa, cruel. CONTINUA
Margarida, pelo corpo perispirítico, jazia absolutamente presa, não só aos truculentos perturbadores que a assediavam, mas também à vasta falange de entidades inconscientes, que se caracterizavam pelo veículo mental, a se lhe apropriarem das forças, vampirizando-a em processo intensivo. Em verdade, já observara, por mim, grande quantidade de casos violentos de obsessão, mas sempre dirigidos por paixões fulminatórias. Entretanto, ali verificava o cerco tecnicamente organizado. Capítulo 9 Perseguidores Invisíveis Evidentemente, as “formas ovóides” haviam sido trazidas pelos hipnoti-zadores que senhoreavam o quadro. Com a devida permissão, analisei a zona física hostilizada. Reparei que todos os centros metabólicos da doente apareciam controlados. A própria pressão sanguínea demorava-se sob o comando dos perseguidores. A região torácica apresentava apreciáveis feridas na pele e, examinando-as, cuidadoso, vi que a enferma inalava substâncias escuras que não somente lhe pesavam nos pulmões, mas se refletiam, sobremodo, nas células e fibras conjuntivas, formando ulcerações na epiderme. CONTINUA
A vampirização era incessante. As energias usuais do corpo pareciam transportadas às “formas ovóides”, que se alimentavam delas, automati-camente, num movimento indefinível de sucção. Lastimei a impossibilidade de consulta imediata ao instrutor, porquanto Gúbio, naturalmente, se estivesse livre, nos forneceria esclarecimentos amplos, mas concluí que a infortunada senhora devia ter sido colhida através do sistema nervoso central, de vez que os propósitos sinistros dos perseguidores se faziam patentes quanto à vagarosa destruição das fibras e células nervosas. Capítulo 9 Perseguidores Invisíveis Margarida demonstrava-se exausta e amargurada. Dominadas as vias do equilíbrio no cere-belo e envolvidos os nervos óticos pela influência dos hipnotizadores, seus olhos espanta-dos davam ideia dos fenômenos alucinatórios que lhe acometiam a mente, deixando perceber o baixo teor das visões e audições interiores a que se via submetida. FIM
Acercamo-nos de acolhedora poltrona, em que um cavalheiro de idade madura, dando mostras de evidente moléstia nervosa, permanecia la-deado por dois rapazes. Suor frio lhe banhava a fronte e extrema palidez, com traços de terror, lhe exteriorizava a lipotimia (perda momentânea dos sentidos). Revelava-se torturado por visões pavorosas no campo íntimo, somente acessíveis a ele mesmo. Registrei-lhe as perturbações cerebrais e vi, sob forte assombro, as várias formas ovóides, escuras e diferençadas entre si, aderindo-lhe à organização perispirítica. Capítulo 11 Valiosa experiência. Achava-me interessado em que o nosso instrutor se pronunciasse. Gúbio observava-o meticulosamente, decerto nos preparando valiosos ensina-mentos. Transcorridos alguns instantes, falou-nos em voz sumida: – Vejamos a que calamidades fisiológicas podem os distúrbios da mente conduzir um ho-mem. Temos sob nosso olhar um investigador da polícia em graves perturbações. Não soube deter o bastão da responsabilidade. Dele abusou para humilhar e ferir. Durante alguns anos, conseguiu manter o remorso a distância; todavia, cada pensamento de indignação das vítimas passou a circular-lhe na atmosfera psíquica, esperando ensejo de fazer-se sentir. CONTINUA
“Com a maneira cruel de proceder atraiu, não só a ira de muita gente, mas também a convivência constante de entidades de péssimo comportamento que mais lhe arruinaram o teor de vida mental. Chegado o tempo de meditar sobre os caminhos percorridos, na intimidade dos primeiros sintomas de senectude corporal, o remorso abriu-lhe grande brecha na fortaleza em que se entrincheirava. “As forças acumuladas dos pensamentos destrutivos que provocou para si mesmo, através da conduta irrefletida a que se entregou leviana-mente, libertadas de súbito pela aflição e pelo medo, quebraram-lhe a fantasiosa resistência orgânica, quais tempestades que se sucedem furio-sas, esbarrondando a represa frágil com que se acredita conter o impulso crescente das águas. Capítulo 11 Valiosa experiência. “Sobrevindo a crise, energias desequilibradas da mente em desvario vergastaram-lhe os delicados órgãos do corpo físico. Os mais vulneráveis sofreram consequências terríveis. Não apenas o sistema nervoso padece tortura incrível: o fígado traumatizado inclina-se para a cirrose fatal.” CONTINUA
Sentindo-nos as interrogações silenciosas do olhar, quanto à solução possível naquele enigma doloroso, o orientador acentuou: – Este amigo, no fundo, está perseguido por si mesmo, atormentado pelo que fez e pelo que tem sido. Só a extrema modificação mental para o bem poderá conservá-lo no vaso físico; uma fé renovadora, com esforço de reforma persistente e digna da vida moral mais nobre, conferir-lhe-á diretrizes superiores, dotando-o de forças imprescindíveis à auto-restauração. Permanece dominado pelos quadros malignos que improvi-sou em gabinetes isolados e escuros, pelo simples gosto de espancar infelizes, a pretexto de salvaguardar a harmonia social. A memória é um disco vivo e milagroso. Fotografa as imagens de nossas ações e recolhe o som de quanto falamos e ouvimos... Por intermédio dela, somos condenados ou absolvidos, dentro de nós mesmos. Capítulo 11 Valiosa experiência. FIM
“Parasitas ovóides” Inúmeros infelizes, obstinados na ideia de fazerem justiça pelas próprias mãos ou confiados a vicioso apego, quando desafivelados do carro físico, envolvem sutilmente aqueles que se lhes fazem objeto da calculada atenção e, auto-hipnotizados por imagens de afetividade ou desforço, infinitamente repetidas por eles próprios, acabam em deplorável fixação monoideística, fora das noções de espaço e tempo, acusando, passo a passo, enormes transformações na morfologia do veículo espiritual, porquanto, de órgãos psicossomáticos retraídos, por falta de função, assemelham-se a ovóides, vinculados às próprias vítimas que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, à face dos pensamentos de remorso ou arrependimento tardio, ódio voraz ou egoísmo exigente que alimentam no próprio cérebro, através de ondas mentais incessantes. Cap. 15 Vampirismo Espiritual CONTINUA
Nessas condições, o obsessor ou parasita espiritual pode ser comparado, de certo modo, à Sacculinacarcini, que, provida de órgãos perfeitamente diferenciados na fase de vida livre, enraíza-se, depois, nos tecidos do crustáceo hospedador, perdendo as características morfológicas primiti-vas para converter-se em massa celular parasitária. Cap. 15 Vampirismo Espiritual No tocante à criatura humana, o obsessor passa a viver no clima pessoal da vítima, em per-feita simbiose mórbida, absorvendo-lhe as forças psíquicas, situação essa que, em muitos casos, se prolonga para além da morte física do hospedeiro, conforme a natureza e a extensão dos compromissos morais entre credor e devedor. FIM
– Como apreendermos a existência das predisposições mórbidas do corpo espiritual? – Não podemos olvidar que a imprudência e o ócio se responsabili-zam por múltiplas enfermidades, como sejam os desastres circula-tórios provenientes da gula, as infecções tornadas de higiene, os de-sequilíbrios nervosos nascidos da toxicomania e a exaustão decor-rente de excessos vários. De modo geral, porém, a etiologia das moléstias perduráveis, que afli-gem o corpo físico e o dilaceram, guardam no corpo espiritual as suas causas profundas. Cap. 19 Segunda parte Predisposições Mórbidas A recordação dessa ou daquela falta grave, mormente daquelas que jazem recalcadas no espírito, sem que o desabafo e a corrigenda funcionem por válvulas de alívio às chagas ocultas do arrependimento, cria na mente um estado anômalo que podemos classificar de “zona de remorso”, em torno da qual a onda viva e contínua do pensamento passa a eno-velar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo permanente na parte do veículo fisiopsicossomático ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias associadas ao erro de nossa autoria. CONTINUA
Estabelecida a ideia fixa sobre esse “nódulo de forças desequilibra-das”, é indispensável que acontecimentos reparadores se nos contraponham ao modo enfermiço de ser, para que nos sintamos exonerados desse ou daquele fardo íntimo ou exatamente redimidos perante a Lei. Essas enquistações de energias profundas, no imo de nossa alma, ex-pressando as chamadas dívidas cármicas, por se filiarem a causas in-felizes que nós mesmos plasmamos na senda do destino, são perfei-tamente transferíveis de uma existência para outra. Cap. 19 Segunda parte Predisposições Mórbidas Isso porque, se nos comprometemos diante da Lei Divina em qualquer idade da nossa vida responsável, é lógico venhamos a resgatar as nossas obrigações em qualquer tempo, dentro das mesmas circuns-tâncias nas quais patrocinamos a ofensa em prejuízo dos outros. CONTINUA
É assim que o remorso provoca distonias diversas em nossas forças recônditas, desarticu-lando as sinergias do corpo espiritual, criando predisposições mórbidas para essa ou aque-la enfermidade, entendendo-se, ainda, que essas desarmonias são, algumas vezes, singu-larmente agravadas pelo assédio vindicativo dos seres a quem ferimos, quando imanizados a nós em processos de obsessão. Todavia, ainda mesmo quando sejamos perdoados pelas vítimas de nossa insânia, detemos conosco os resíduos mentais da culpa, qual depósito de lodo no fundo de calma piscina, e que, um dia, virão à tona de nossa existência, para a ne-cessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene moral. Cap. 19 Segunda parte Predisposições Mórbidas FIM
– Como pode o débil mental comandar a renovação celular do seu corpo físico? – Não será lícito esquecer que, mesmo conturbada, a consciência está presente nos débeis mentais ou nos doentes nervosos de toda espécie, presidindo, ainda que de modo impreciso e imperfeito, o automatis-mo dos processos orgânicos. Cap. 19 Segunda parte Predisposições Mórbidas – Existem “parasitas ovóides” vampirizando desencarnados? – Sim, nos processos degradantes da obsessão vindicativa, nos círculos inferiores da Terra, são comuns semelhantes quadros, sempre dolorosos e comoventes pela ignorância e paixão que os provocam. FIM
Em rápidos minutos achávamo-nos em pequena câmara, onde magro doentinho repousava, choramingando. Cercavam-no duas entidades tão infelizes quanto ele mesmo, pelo estranho aspecto que apresentavam. O menino enfermo inspirava piedade. – É paralítico de nascença, primogênito de um casal aparentemente feliz, e conta oito anos na existência nova – informou Calderaro, indicando-o –; não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada ouve dá esfera humana; psiquicamente, porém, tem a vida de um sentenciado sensível, a cumprir severa pena, lavrada, em verdade, por ele próprio. (...) Capítulo 7. Processo Redentor. (...) Viveu nas regiões inferiores, apartado da carne, inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já lhe perdoaram os crimes; muitas, contudo, seguiram-no, obstinadas, anos afora... A malta, outrora densa, rareou pouco a pouco, até que se reduziu aos dois últimos inimigos, hoje em processo final de transformação. Com as lutas acremente vividas, em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, o desgraçado aprestou-se para esta fase conclusiva de resgate; conseguiu, assim, a presente reencarnação com o propósito de completar a cura efetiva, em cujo processo se encontra, faz muitos anos. CONTINUA
A paisagem era triste e enternecedora. O doente, de ossos enfezados e carnes quase transparentes, pela idade deveria ser uma criança bela e feliz; ali, entretanto, se achava imóvel, a emitir gritos e sons guturais, próprios da esfera sub-humana. Com o respeito devido à dor e com a observação imposta pela Ciência, verifiquei que o pequeno paralítico mais se assemelhava a um descen-dente de símios aperfeiçoados. – Sim, o espírito não retrocede em hipótese alguma – explicou Calderaro –; todavia, as formas de manifestação podem sofrer degenerescência, de modo a facilitar os processos regenerativos. Todo mal e todo bem praticados na vida impõem modificações em nosso quadro representativo. Nosso desventurado amigo envenenou para muito tempo os centros ativos da organização perispiritual. Capítulo 7. Processo Redentor. “Cercado de inimigos e desafetos, frutos da atividade criminosa a que se consagrou voluntariamente, permanece quase embotado pelas sombras resultantes dos seus tremendos erros. CONTINUA
“No campo consciencial, chora e debate-se, sob o aguilhão de reminiscências torturantes que lhe parecem intérminas; mas os sentidos, mesmo os de natureza física, mantêm-se obnubilados, à maneira de potências desequilibradas, sem rumo... “Os pensamentos de revolta e de vingança, emitidos por todos aqueles aos quais deliberadamente ofendeu, vergastaram-lhe o corpo perispiri-tual por mais de cem anos consecutivos, como choques de desintegração da personalidade, e o infeliz, distante do acesso à zona mais alta do ser, onde situamos o castelo das noções superiores, em vão se debateu no Campo do esforço presente, isto é, à altura da região em que localizamos as energias motoras; ... Capítulo 7. Processo Redentor. “... é que os adversários implacáveis, apegando-se a ele, através da influência direta, compeliram-lhe a mente a fixar-se nos impulsos automáticos, no império dos instintos; permitiu a Lei que assim acontecesse, naturalmente porque a conduta de nosso infortunado irmão fora igual à do jaguar que se aproveita da força para dominar e ferir. Os abusos da razão e da autoridade constituem faltas graves ante o Eterno Governo dos nossos destinos.” CONTINUA