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Bagagem

Bagagem. Adélia Prado. Biografia . Adélia Luiza Prado Freitas. Nasceu: 13 de dezembro de 1935 (Divinópolis) Filiação: João do Padro Filho (ferroviário) Ana Clotilde Corrêa, (dona de casa) Estudos: Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Ginasio Nossa Senhora do Sagrado Coração

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Presentation Transcript


  1. Bagagem Adélia Prado

  2. Biografia Adélia Luiza Prado Freitas Nasceu: 13 de dezembro de 1935 (Divinópolis) Filiação: João do Padro Filho (ferroviário) Ana Clotilde Corrêa, (dona de casa) Estudos: Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Ginasio Nossa Senhora do Sagrado Coração Magistério na Escola Normal Mário Casassanta Faculdade de Filosofia Bagagem - Adélia Prado

  3. Adélia escreve os seus primeiros versos aos 14 anos, logo após o falecimento de sua mãe em 1950. Em 1973, após formar-se em filosofia envia os originais Dos seus poemas ao poeta e critico literário Affonso Romano de Sant’Anna, submete a apreciação de Carlos Drummond de Andrade. Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da editora Imago no ano de 1975, que publique o livro de Adélia, cujo os poemas lhe pareciam “fenomenais”, o que viria a ser Bagagem. No dia 9 de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil, chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escrito.Logo após, em 1976, o livro é lançado no Rio de Janeiro contando com a presença da elite literária brasileira na época. Bagagem - Adélia Prado

  4. Com Licença Poética Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e Bagagem - Adélia Prado

  5. ora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou. Bagagem - Adélia Prado

  6. Na poesia com licença poética, ela faz uma paráfrase do “Poema de Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade, onde ele trata o lado ruim de sua vida, e que quando ele nasceu um anjo lhe disse que ele iria sofrer na vida. Mas Adélia trata o seu mostrando o lado bom da sua vida, que mesmo ela tendo sofrido tudo que sofreu, ela é muito feliz. Bagagem - Adélia Prado

  7. Análise Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Com Licença Poética – Adélia Prado Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira. Bagagem - Adélia Prado

  8. Análise As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Com Licença Poética – Adélia Prado Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Bagagem - Adélia Prado

  9. Análise O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Com Licença Poética – Adélia Prado Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor. Bagagem - Adélia Prado

  10. Análise Porém meus olhos não perguntam nada. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Com Licença Poética – Adélia Prado já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou. Bagagem - Adélia Prado

  11. Análise Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Bagagem - Adélia Prado

  12. Análise Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Bagagem - Adélia Prado

  13. Análise Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade Bagagem - Adélia Prado

  14. Análise Adélia parafraseia o poema de Drummond, podendo ser percebido no próprio título. Ela pede licença para entrar no universo de Drummond e para inverter o sentido do Poema de sete faces. O “anjo torto” é transformado num “anjo esbelto”, já não vive mais na sombra, agora toca trombeta, deixando de anunciar que alguém será gauche na vida, mas ao contrário, vai carregar bandeira, ter uma posição de destaque entre os demais. Bagagem - Adélia Prado

  15. Análise Na poesia Drummond tem uma visão masculina extremamente pessimista, já na poesia de Adélia há uma visão feminina positivista. Ela faz a parodia da poesia exaltando a mulher que aceita os “subterfúgios que me cabem/ sem precisar mentir”. Definindo a mulher como um ser desdobrável, que aceita seu papel de reprodutora, mas com um parto sem dor Diferentemente de Drummond, que questiona a Deus o porquê do seu desprezo, Adélia Prado afirma que “dor não é amargura” e que “ser coxo na vida é maldição para homem, mulher é desdobrável”. Bagagem - Adélia Prado

  16. Janela Janela, palavra linda.Janela é o bater das asas da borboleta amarela.Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,janela jeca, de azul.Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,meu pé esbarra no chão.Janela sobre o mundo aberta, por onde vio casamento da Anita esperando neném, a mãedo Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vimeu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,clarabóia na minha alma,olho no meu coração. Bagagem - Adélia Prado

  17. Janela Janela, palavra linda.Janela é o bater das asas da borboleta amarela.Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,janela jeca, de azul.Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,meu pé esbarra no chão.Janela sobre o mundo aberta, por onde vio casamento da Anita esperando neném, a mãedo Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vimeu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,clarabóia na minha alma,olho no meu coração. Bagagem - Adélia Prado

  18. Análise Na poesia janela, Adélia faz “um resumo”, de todos os sentimentos que ela sente e que demonstra em todo o livro. O romantismo, a liberdade (ligando ao fato da borboleta, a questão de ser livre, poder voar), o feminismo, a vontade de casar e construir família, sua relação com o pai, a questão do namoro(o namorado vir com o pai de Adélia e falar que suas intenções com a filha dele são as melhores possíveis), das brincadeiras. Da necessidade de ver o que se passa no mundo, e não só o que se passa dentro de casa, pois Adélia sendo filha mulher, naquela época, não podia ficar saindo de casa, e depois de casada, tinha que cuidar da casa e dos filhos. Bagagem - Adélia Prado

  19. Mortes sucessivas Quando minha irmã morreu eu chorei muitoe me consolei depressa. Tinha um vestido novoe moitas no quintal onde eu ia existir.Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.Tinha uma perturbação recém-achada:meus seios conformavam dois montículose eu fiquei muito nua,cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,parentes, que me lembrassem sua fala,seu modo de apertar os lábios e ter certeza. Bagagem - Adélia Prado

  20. Mortes sucessivas Reproduzi o encolhido do seu corpoem seu último sono e repeti as palavrasque ele disse quando toquei seus pés:´deixa, tá bom assim´.Quem me consolará desta lembrança?Meus seios se cumprirame as moitas onde existosão pura sarça ardente de memória. Bagagem - Adélia Prado

  21. Análise Adélia durante sua vida viu a morte de sua irmã, depois de sua mãe, e em seguida de seu pai, a quem ela sempre foi muito apegada. No poema ela diz que superou, e se consolou da morte de sua irmã, e da sua mãe, mas não da de seu pai, que ela buscava retratos antigos, conhecidos e familiares, que tivessem o mesmo jeito que ele, as mesmas atitudes, o mesmo jeito de falar. No livro Bagagem, ela tem várias poesias que falam do seu pai, da falta que sente dele, e da sua relação com ele, retratando fatos da sua infância, de como ele cuidava dela, de como tratava ela, das suas brincadeiras, das frases que ele comentava, entre outros. Bagagem - Adélia Prado

  22. Críticas Vera Queiroz - 1 de 9 Numa entrevista concedida ao suplemento "Idéias", do Jornal do Brasil, Carlos Drummond de Andrade afirmava que a popularidade nada tem a ver com a boa poesia. Esta pode passar por muito tempo despercebida. De tal sorte não padece a poesia de Adélia Prado. Antes mesmo de ter seu primeiro livro publicado, o próprio Drummond já lhe fizera uma crônica elogiosa e Affonso Romano de Sant'Anna afirma, no prefácio a "O coração disparado", seu entusiasmo pelos inéditos de Adélia, que lera por volta de 1972. Avalizada pelos dois poetas, ela conquista com seu primeiro livro de poemas - "Bagagem", 1976 - um público cada vez mais numeroso. Poeta de seu tempo (e aqui a epígrafe de Paz encontra eco exatamente no que a singulariza dentro do nosso repertório poético das últimas décadas), Bagagem - Adélia Prado

  23. Críticas Vera Queiroz – 2 de 9 Adélia parece vir ao encontro de algo novo que despontava no horizonte de expectativas da sociedade brasileira: o resgate do corpo politicamente erotizado, a denúncia dos mecanismos de poder que atuam nas instituições sociais e disseminam-se nas relações intersubjetivas, a descaracterização da macropolítica como instância única capaz de levar a cabo as transformações exigidas pela sociedade. Tais questões, que começavam a ser colocadas na série social brasileira, perpassam a obra de Adélia e indicam uma atitude poética nova, singularizada pela transformação da vida cotidiana em matéria de poesia. Bagagem - Adélia Prado

  24. Críticas Vera Queiroz – 3 de 9 Esse novo, essa rasura que a poesia de Adélia traz, talvez se possa chamar de uma transcedência do banal, uma aceitação e um entendimento da expressividade da vida diária e feminina. Nela cabem todos os temas que têm alimentado a poesia de todos os tempos: vida, morte, sonhos, comunhão mística com Deus e com as palavras. Mas é na apreensão dos pequenos gestos e das situações particulares que ele imprimirá sua marca e diferença poéticas. Contrariando a tradição literária e, igualmente, contrariando o conselho de um de seus mestres ("Não faça versos sobre acontecimentos", diz Drummond - em sugestão que ele mesmo rejeita), Bagagem - Adélia Prado

  25. Críticas Vera Queiroz – 4 de 9 Adélia resgata para a poesia os acontecimentos mais ínfimos, o corpo erotizado, a imagem de Deus humanizado, a mulher - seus afazeres e haveres. A transcendência está também no modo como Adélia realiza uma estética em que se disseminam os resíduos da linguagem, os usos coloquiais da língua, os objetos e as expressões do universo kitsch, os seres e os elementos naturais. De onde vem a força desta poesia, que se constitui como um fio tenso entre o vazio e o pleno? Como pode ser construída uma obra com o material que a língua esvaziou, que a ideologia empobreceu, que a cultura refugou e que, ainda assim, surge com um acento forte no conjunto da produção poética das últimas décadas? Bagagem - Adélia Prado

  26. Críticas Vera Queiroz – 5 de 9 Como se faz uma poesia em que até mesmo os descuido formal, freqüente sobretudo nos poemas mais longos, acaba por ser parte da composição e a ela se integra naturalmente? A estas perguntas talvez venha em resposta o princípio de entrega e de verdade de que se compõe a poesia adeliana. Verdade não como certeza, mas como revelação de uma voz profundamente enraizada no chão da província, compreendida como categoria cosmogônica, força telúrica e mítica. Nesse sentido, sua poesia resgata o conceito benjaminiano de experiência, ligada à comunhão e à funda cumplicidade com o homem e com sua existência concreta, tecida nas relações que os atos cotidianos geram. Bagagem - Adélia Prado

  27. Críticas Vera Queiroz – 6 de 9 Além dessa capacidade de criar com o comum, é possível observar-se também uma progressiva adesão à vertente religiosa que, presente desde "Bagagem", vem adquirindo maior relevância a partir de "O pelicano" e se transforma na dicção absoluta de "A faca no peito". A religiosidade, que banhava os objetos, os seres e os elementos do mundo natural, centra-se, nesse último livro, na imagem de Deus/Jonathan. O sagrada deixa de ser o foco iluminador do banal para tornar-se o eixo a partir de onde fala o sujeito lírico, assumindo-lhe a própria fala. É possível circunscrever o universo temático adeliano em, pelo menos, cinco grandes eixos. Bagagem - Adélia Prado

  28. Críticas Vera Queiroz – 7 de 9 Um primeiro diz respeito à família literária com a qual sua poesia dialoga, em que se incluem aqueles autores e obras com que, explícita ou implicitamente, ela mais se identifica. Encontram-se aí a filiação a Guimarães Rosa, a Murilo Mendes, a Fernando Pessoa, a Castro Alves e, sobretudo, a Carlos Drummond de Andrade, a quem dois poemas importantes são dedicados. Outro eixo que polariza esta obra diz respeito à tematização da palavra poética, uma de suas mais importantes vertentes. É aí que surge o aproveitamento literário das formas de linguagem coloquial e popular, dos resíduos de linguagem, no sentido de que esse material se constitui das expressões mais banalizadas, recuperadas pela poesia e revestidas de novas cargas de significação. Bagagem - Adélia Prado

  29. Críticas Vera Queiroz – 8 de 9 Um terceiro eixo organiza-se em torno do elemento "província", visto não apenas como lugar social e geográfico, mas como universo cosmogônico, suporte das experiências plasmadoras do seu fazer poético e metonímia do grande mundo. Outro eixo constitui-se nos temas recortados sob a égide de Deus, do tempo e da memória realizam a síntese entre os mitos de Deus e da poesia, esta última vista como a encarnação humana da palavra fundadora: a palavra divina. O poeta faz-se porta-voz e instrumento da criação, aproximando-se assim da vertente romântica fundadora de nossa literatura. . Bagagem - Adélia Prado

  30. Críticas Vera Queiroz – 9 de 9 Por fim, a questão do feminino surge na poesia adeliana no modo como ela dá a ler um conjunto de práticas culturalmente marcado, de modo que o sujeito lírico ora com ele se identifica, ora dele se afasta, num movimento pendular entre a tradição e a ruptura, o diálogo com os poetas masculinos e a explicitação de sua diferença, de que o poema "Com licença poética", que abre "Bagagem", é exemplar. Bagagem - Adélia Prado

  31. Críticas Jaqueline Alice Cappellari – 1 de 5 Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia, sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia. Faço comida e como. Aos domingos bato o osso no prato pra chamar cachorro e atiro os restos. Quando dói, grito ai. quando é fico bruta, as sensibilidades sem governo. Mas tenho meus prantos, claridades atrás do meu estômago humilde e fortíssima voz pra cânticos de festa. Quando escrever o livro com o meu nome e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja, a uma lápide, a um descampado, para chorar, chorar, e chorar, requintada e esquisita como uma dama A autora inicia dizendo que é uma mulher comum, do povo, mãe. Bagagem - Adélia Prado

  32. Críticas Jaqueline Alice Cappellari – 2 de 5 Desse modo, observa-se a rima provocada pelo contraste dos nomes "Cornélia" e "Adélia", assim como o contraste de significado que esses dois nomes representam. Ela declara-se uma mulher simples por meio da enumeração de atos corriqueiros, banais, tais como fazer comida e bater o osso no prato pra chamar cachorro. No sexto verso, para que ocorra uma aproximação ainda maior com o coletivo, Adélia diz que “quando dói” grita “ai”, pois não se trata de uma mulher revolucionária, que reprime sua dor em busca de determinado ideal, mas sim uma mulher que constitui sua força com base na sinceridade consigo mesma. Bagagem - Adélia Prado

  33. Críticas Jaqueline Alice Cappellari – 3 de 5 Sendo assim, suas sensibilidades não têm governo. Ela se aceita tal como é, com seus momentos de dor e e de irracionalidade. O eu-lírico continua sua apresentação e, no décimo segundo verso, notamos sua religiosidade, outra constante na obra de Adélia Prado, como se a poeta fosse um enviado de Deus que cumpre a sina escrevendo aquilo que sente. Sua poesia está tão ligada à religião que, quando escrever seu livro, irá a uma igreja, talvez para batizá-lo; a uma lápide, a um descampado, talvez para agradecer. Então, nesse instante, a sensibilidade da poeta virá à tona e ela irá chorar, transformando-se numa dama requintada, pois tem um livro com seu nome; porém esquisita, já que é diferente, possui um destino que sabe qual é. Bagagem - Adélia Prado

  34. Críticas Jaqueline Alice Cappellari – 4 de 5 Adélia é uma mulher do povo, e sua poesia não está vinculada nem possui fundo político, mesmo numa época em que as feministas estavam em plena atividade com seus discursos de emancipação. A apresentação pessoal, no poema "Grande desejo", coloca-se com clareza: não se trata de uma mulher excepcional, revolucionária (leia-se, nem no nível ideológico, nem no nível estético), como Cornélia, a mãe dos irmãos Tibério e Caio, que propuseram a primeira lei da reforma agrária em Roma, e que, por isso mesmo foram condenados à morte, sendo valentemente defendidos pela mãe. Bagagem - Adélia Prado

  35. Críticas Jaqueline Alice Cappellari – 5 de 5 Identifica-se apenas como Adélia, mas é uma mulher que rima, uma mulher do povo, e mulher de forno e fogão, que cuida de cachorro e grita quando algo lhe dói, mas tem a sensibilidade para as coisas boas da vida. Ao mesmo tempo, desenha-se requintada e esquisita, isso depois que já tiver composto um livro com seu nome – imagina-se, o próprio livro que o leitor tem naquele momento em mãos. Dessa maneira, vemos que a significação da mulher é uma das características fundamentais da obra de Adélia Prado. Bagagem - Adélia Prado

  36. Críticas Cristiana Facchinetti – 1 de 8 A poesia de Adélia Prado está justamente compreendida naquilo que aponta para o impossível: o real. Tal modo associa-se ao corpo erógeno, à carnalidade do desejo, que se apresenta como uma obra onde o campo da afetação e o da intensidade pulsional comparecem com sua força, onde pode irromper o novo em sua brutalidade carnal e surpreendente. É neste nicho que se abre, no esburacar-se das sedas, que se produz a obra de Adélia Prado. Longe de dissipar seu pulsar erótico e erógeno num eterno mirar de seu próprio umbigo, ou de controlar e acorrentar o mundo que o cerca, o poeta põe-se defronte ao mundo e é por ele atravessado. Bagagem - Adélia Prado

  37. Críticas Cristiana Facchinetti – 2 de 8 O poeta recusa a condição de gauche / coxo na vida. Sua delimitação crucial é muito mais sua condição de poeta e o fato de que tal condição particular lhe abre uma porta, um a-mais para uma nova possibilidade: a de ser desdobrável. Tal sina dirige a poesia retroativa e paradoxalmente para a (re)inauguração do sujeito, constituído e constituinte da carne mesma: não é preciso esquivar-se do mundo e de suas impressões uma vez que a Coisa falta. Ao invés disso, trata-se de desejar e de comungar sensorialmente com seus objetos. Tal comunhão, vale dizer, se faz através das "sensibilidades sem governo". Bagagem - Adélia Prado

  38. Críticas Cristiana Facchinetti – 3 de 8 Comungar com o mundo e com seus objetos é, antes de tudo, admitir-se elo de uma cadeia onde o que realmente importa é o desdobramento sensível dos corpos. E diante de tal insuficiência, ao poeta não é dado prescindir da poesia. Ao contrário, justamente de suas faltas é que se instala a avidez do poeta. Dos seus limites e finitude mantém-se uma força que o põe em processo de criar um imaterial que, para sua perplexidade, está sempre em fase de advir. Assim, é a ausência de conhecimento e saber que o impelem na construção sempre nova de uma memória, de traços mnêmicos moventes, constitutivos e criadores do presente do poema. Bagagem - Adélia Prado

  39. Críticas Cristiana Facchinetti – 4 de 8 Na ausência do mundo organizado do simbólico, a vocação poética que lhe é possível diante de sua intensidade é a da exaltação da carne: a carne incorruptível. É justamente a poesia que permite à carne manter-se atada ao mundo e mesmo ressuscitar - "A poesia me salvará". Mas se a poesia salva, isto não significa que através dela possa-se tapar o furo que nos leva ao desamparo. Estando atingido pela brutalidade das coisas, ao poeta não é dado proteger-se: o que seu deus lhe concede é não descansar e ser por tudo ferido de morte. Mas vale apontar que tal dor reflete-se em dádiva, em alegria de viver, em gozo do corpo e da alma. Bagagem - Adélia Prado

  40. Críticas Cristiana Facchinetti – 5 de 8 De fato, sua poesia mística, ao invés de colocar-se no lugar da crítica e do abandono do mundo, ou mesmo de propor a salvação ou solução deste, aponta muito mais para a dispersão no corpo. Podemos dizer que o fundamento da poética adeliana é a adesão ao sensível, num ato carnal com aquilo que poderá tornar-se significante, mas que vem ao nosso encontro como percepção imagética que se marca na ausência de um nome e que passa a ter sentido ao ser nomeado. Bagagem - Adélia Prado

  41. Críticas Cristiana Facchinetti – 6 de 8 A poesia atinge seu ápice quando consegue ser a mais pura manifestação do sensível uma vez que, de tudo o que pretendem explicar, analisar ou traduzir, "as palavras só contam o que se sabe". Deste modo, aquele que acha que diz está apenas repetindo. Na verdade, a palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infreqüentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror. Em Adélia Prado, a descontinuidade detectada por Foucault a partir do século XVII entre palavra e coisa, parece dissolvida . Aqui, a palavra é tratada ora como a Coisa - Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é o Verbo. Morre quem entender. Bagagem - Adélia Prado

  42. Críticas Cristiana Facchinetti – 7 de 8 Ora como coisas do mundo, onde o que importa é a sonoridade de que dispõem, a estrutura que criam, muito mais do que seu significado. Os fragmentos das conversas dispersas, estes também são poesia. A palavra mistura-se aos objetos do mundo, ela própria é objeto. O ato de escrever e fazer poesia estão então próximos à música que se desdobra nos ouvidos Se quiser, ponho agora a ária na quarta corda,para me sentir clemente apaziguada . A fala, nesta obra, comparece concretamente fazendo parte da vida. O mundo que a linguagem evoca existe como a própria linguagem, do mesmo modo que corpo e alma não suportam divisão. Bagagem - Adélia Prado

  43. Críticas Cristiana Facchinetti – 8 de 8 Mais uma vez, a fratura sujeito-objeto na perspectiva da linguagem e da dissolução mística parece elidida. O eu-poeta e o mundo estão sempre prestes a nascer, morrer e ressuscitar, seu corpo traz sempre uma ferida aberta para todas as materialidades que, como corpo estranho, marcam-nos de modo novo. Em Adélia, o sujeito está sempre advindo, sendo aquilo que não pára de se inscrever no mundo por ele mesmo criado: um sujeito nada pragmático, útil, mítico, ideológico ou neo-liberal, mas uma eterna possibilidade de criação de um novo sujeito e de um novo mundo que inaugure uma singularidade capaz de parir novos reinos: afinal, se dor não é amargura, pode ser a travessia para um novo começo. Bagagem - Adélia Prado

  44. Questões de Vestibular (Unioeste) Assinale a(s) alternativa(s) procedente(s) com relação à(s) temática(s) abordada(s) por Adélia Prado em Bagagem. (01) A importância dada aos temas religiosos e a prática simultânea de todas as religiões encontra, em diferentes igrejas, enquanto instituições, a força redentora da humanidade. (02) A religião é uma constante em seus poemas, caracterizando-se como recuperação salvística do sagrado em contraste com as formas institucionalizadas. (04) Os poemas de Adélia Prado, típicos da pós-modernidade, caracterizam-se pela anulação e morte do sujeito. (08) A memória tem o poder de recuperar a imagem perdida, construída e fixada através da linguagem poética. (16) É notório o diálogo de Adélia Prado com a tradição poética, através de alusões a poetas como Castro Alves e Carlos Drummond de Andrade. Bagagem - Adélia Prado

  45. (Unioeste) Assinale a(s) alternativa(s) procedente(s) com relação à(s) temática(s) abordada(s) por Adélia Prado em Bagagem. (32) A linguagem provinciana, o erotismo banalizado, a descrença no ser humano e o engajamento político são temáticas recorrentes em Bagagem. (64) A ruptura com o universo doméstico e o engajamento com as causas feministas fazem da poética de Adélia Prado o protótipo da perspectiva feminina do final do século XX. Bagagem - Adélia Prado

  46. (Unioeste) Tendo em vista a diversidade temática do livro Bagagem,de Adélia Prado, assinale a(s) alternativa(s) procedente(s). (01) Referências à Bíblia e aos rituais católicos, marcantes na poética de Adélia Prado, revelam um eu-lírico que atribui à fé e à prática religiosa um valor fundamental. (02) Em Bagagem, são constantes os temas radicalmente feministas e a negação dos traços culturais que atrelam a mulher ao cotidiano doméstico. (04) A negação dos prazeres do corpo, relacionados à idéia de pecado e de negação da fé, é uma das temáticas marcantes de Bagagem. (08) Adélia Prado, ao se filiar à arcaica erudição literária, renega a cultura oral e os temas cotidianos que, a partir da Semana de Arte Moderna, se integraram à Literatura Brasileira. (16) A saudade dos pais, a nostalgia de uma forma singela de vida e a consciência da passagem do tempo são temáticas recorrentes em Bagagem. Bagagem - Adélia Prado

  47. (Unioeste) Tendo em vista a diversidade temática do livro Bagagem,de Adélia Prado, assinale a(s) alternativa(s) procedente(s). (32) De acordo com o eu-lírico, a monotonia da vida interiorana, a impossibilidade de viver nas grandes cidades e de conhecer o mundo, limita a sensibilidade humana e inviabiliza a criação poética (64) O eu-lírico assume sua condição feminina e “desdobrável”, mas também dialoga com a tradição literária, reverenciando, acima de tudo, Olavo Bilac, Coelho Neto e Rui Barbosa. Bagagem - Adélia Prado

  48. (UEM) Leia os textos a seguir e assinale o que for correto. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: vai Carlos! Ser "gauche" na vida. (Carlos Drummond de Andrade. In: Alguma poesia, 1964) Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher Esta espécie ainda envergonhada. (...) Vai ser cocho na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. (Adélia Prado. In: Bagagem, 1986) Bagagem - Adélia Prado

  49. (UEM) Leia os textos a seguir e assinale o que for correto. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu estava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim. (Chico Buarque. In: Letra e música, 1989) Gauche: palavra de origem francesa que corresponde a "esquerda" em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar "acanhado", "inepto", "desajustado". Bagagem - Adélia Prado

  50. (UEM) Leia os textos a seguir e assinale o que for correto. 01) Pode-se afirmar que o processo pelo qual a poesia se alimenta de temas já explorados em outros textos, procurando estabelecer um diálogo entre diferentes visões de mundo, é denominado "intertextualidade". Há, nesse processo, sempre um texto original que funciona como ponto de partida para a elaboração do que se poderia chamar de textos-produto ou intertextos. É o que acontece nos poemas cujos fragmentos reproduzimos acima: a temática abordada no texto original de Drummond é desdobrada nos textos de Adélia Prado e de Chico Buarque. 02) Os textos derivados dos originais podem resultar em simples imitação, ou, por outro lado, podem pretender a paródia, a polêmica, chegando a propor uma reavaliação do tema em questão a partir de um novo ponto de vista, seja ele histórico, ideológico ou estético. Em relação aos intertextos construídos a partir do poema de Drummond, dos quais destacamos os fragmentos acima, pode-se afirmar que foram construídos por reiteração de idéias, ou seja, as idéias que constituem o poema original foram confirmadas e/ou repetidas nos poemas que dele derivam. Bagagem - Adélia Prado

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