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A Arte Demoníaca de Shakespeare

A Arte Demoníaca de Shakespeare. Incursões sobre os métodos de criação dos personagens em Shakespeare e a natureza de seu teatro . Falstaff e a Vontade de Vida.

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A Arte Demoníaca de Shakespeare

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Presentation Transcript


  1. A Arte Demoníaca de Shakespeare Incursõessobreosmétodos de criação dos personagensem Shakespeare e a natureza de seuteatro.

  2. Falstaff e a Vontade de Vida Primeiro grande personagem de Shakespeare, onde a influência de Marlowe está esmaecida em favor de um vitalismo encontrado na Mulher de Bath de Chaucer. (Canterbury Tales) Falstaffé um Sócrates cômico; sábio que ao falar sorri acolhedoramente. Apreendendo o ceticismo de Montaigne, Shakespeare fez de Falstaffmais do que cético. Falstaffensina como livrar-se das amarras da sociedade, porém devota um único vínculo não-livre em sua relação com o seu pupilo, príncipe Hal. Acompanhemos esse “vitalismo” de Sir John:

  3. Falstaff e a Vontade de Vida Em plena batalha em Henrique IV parte 1, Fastalff se pergunta: “A honra pode restituir uma perna? Não. Ou um braço? Não. Pode acabar com a dor de uma ferida? Não. Então a honra não pode fazer uma cirurgia? Não. O que é a honra? Uma palavra. O que há na palavra “honra”? O que é essa “honra”? Vento. Que pechincha! Quem a tem? Aquele que morreu na quarta-feira. Ele a sente? Não. Ele a ouve? Não. Ela é imperceptível, então? Certo, para os mortos, com certeza. Mas ela não vive com os vivos? Não. Por quê? A calúnia não permitiria. É por isso que não quero nem um pouco dela.”

  4. Falstaff e a Vontade de Vida “Não te conheço, velho, Vai rezar. Como caem mal as cãs a um palhaço bobo! Muito tempo sonhei com um homem destes, Inchado pelos excessos, tão velho, e tão profano; Mas, acordado, renego do meu sonho.” Livre de quase todas as imposições que o cerca, Falstaff sofre do récem-coroado Henrique V, seu aprendiz e protetor Príncipe Hal, uma das falas mais duras de Shakespeare, uma verdadeira sentença de morte: Quando vê o triunfo de Hal em Londres, Falstaff exclama: “Deus te proteja, meu doce menino!” E obtém como resposta:

  5. Rosalinda e a Persuasão Rosalinda é uma das mais talentosas e sábias das heroínas de Shakespeare. No mundo quase utópico de “Como Gostais”, a floresta de Arden, sem nenhum empecilho à sua liberdade, Rosalinda realizará todos os seus intentos, mostrando-nos o poder exorbitante da persuasão. Rosalinda está muito acima de Orlando na escala social e em inteligência, porém, escolhendo-o como parceiro, propõe-se a ensiná-lo como cortejá-la. (disfarçada de Ganimedes). Os bobos Toque e Jaques, que Shakespeare reserva falas importantes, Rosalinda simplesmente esmaga-os com sua retórica. Vamos ver um exemplo...

  6. Rosalinda e a Persuasão Jaques: “Lindo jovem, desejo conhecer-te mais de perto. Rosalinda: Dizem que sois um sujeito melancólico. Jaques: De fato, prefiro isso a rir. Rosalinda: As pessoas que se entregam a excesso, em qualquer caso, se tornam detestáveis, sendo muito mais passíveis de censura do que os bêbedos. Jaques: Ora! É bom a gente ficar triste e não dizer nada. Rosalinda: Nesse caso é bom também ser poste. Jaques: Não possuo nem a melancolia do sábio, que é emulação, nem a do músico, que é fantástica, nem a do cortesão, que é simples orgulho, nem a do soldado, que é ambiciosa, nem a do jurista, que é política, nem a das mulheres, que não passa de faceirice, nem a dos namorados, que abrange todas elas; trata-se de uma melancolia muito minha, composta de muitos simples, extraída de vários objetos, mais propriamente a súmula de tudo o que contemplei em minhas viagens e que, por mim sempre ruminada, me envolve na mais caprichosa das tristezas.”

  7. Rosalinda e a Persuasão E a sublime conclusão de Rosalinda... Rosalinda: “Um viajante! Pois tendes razões de sobra para serdes triste; receio muito que houvésseis vendido vossas terras para ver a dos outros; Ter visto muito e nada possuir, equivale a ter olhos ricos e mãos pobres. Jaques: Mas ganhei experiência. Rosalinda: Experiência essa que vos deixa triste; preferira um bobo que me alegrasse a uma experiência que me entristecesse. Viajar para isso!”

  8. Rosalinda e a Persuasão Como Falstaff, Rosalinda toma o papel de educadora, e desempenha-o com todo prazer. Apaixonada que sente perfeitamente o absurdo da situação, dotada de uma harmonia interna sobrenatural, Rosalinda mostra-nos como aceitar a realidade de uma outra pessoa.

  9. Overhearing Shakespeare descobriuváriosdispositivosparadotarseuspersonagens de profundidapsicológicaincalculável. Cada um de seusgrandespersonagensé um completolabirinto. Como issofoipossível? Seuspersonagens “ouvem” minuciosamenteseusprópriospensamentos, o quealteradecisivamente a próximacadeia de pensamentos e ações, mostrando-nos o própriooperar da razão. Acompanhemosessemovimento:

  10. Overhearing em Hamlet: “Intençõessãoescravas da memória; São fortes, mas têmvidatransitória; Qualfrutoverdeque se ostenta, duro, E há de cairquandoficarmaduro. É fatal queesqueçamos de nosdar Que a nósmesmostemos de pagar: Aquiloquejuramosnapaixão, Finda a mesma, perdeu a ocasião. A violência das dores e alegrias Destrói as suasprópriasenergias. Ondeháprazer, a dorpõeseulamento; Se a mágoari, chora o contentamento. O mundonãoéfirme, e ébemfrequente O próprioamormudarconstantemente; E aindaestáparaficarprovado Se o fadoguia o amor, oueste o fado. Se o grandecai, nãomaispossui amigos, Sobe o pobre, e não tem maisinimigos. E tanto o amoràmorte se escraviza Que amigos tem quem deles nãoprecisa; Quemnadorprova o amigo queétratante Prepara um inimigonesseinstante. Mas, paraterminarcomo o começo, Cadafatoéàidéiatãoavesso, Queosplanosficamsempreinsatisfeitos; As idéiassãonossas, nãoosfeitos.”

  11. Overhearing Nasúltimaslinhasdestetrechoapreendemosmuito do niilismo de Hamlet: “Cadafatoéàideiatãoavesso” - o que se pretenterealizarnãotêmnecessariamenterelação com o que se realiza. O desejoé a todomomentoaniquiladopelodestino. Aoincorporaressasabedoria, Hamlet hesitaempraticar a vingançaqueprometeraaofantasma de seupai. Háumaperguntaquenãocessa: O quesei? Segue-se umaexposiçãodo que se sabe, porém, relevando a atualização dos novosatosengendradosnesseínterimjáque: “As ideiassãonossas, nãoosfeitos”. Há um lapsoessencial entre mundo e mente, irreparável. Hamlet detém um poderespantoso de pensarbem, porém é constrangidoporesseprópriopoder. Suaargúcia o enclausura. Essanotóriaforçacentrífuga de construção da subjetividadepodeser vista emtodas as grandesobras de Shakespeare.

  12. OpacidadeEstratégica Shakespeare seria um mestre do distanciamento. Distanciamento de que? Das peças de moralidade e de cultura popular. Da falta de sensibilidade musical, da linguagemgrosseira, duma métricaarrastada e declamatóriaquefingiapaixão. De atoresamadores, etc. Porém, Shakespeare descobriumais um elementoparaaprofundarimensamente o efeito de suaspeças, algoqueobstrui o raciocínio do público, aosuprimir as motivaçõesouosprincípioséticosquedesencadeiam as açõesque se seguem. Maisuma de suastécnicas de distanciamento. Vamosvercomoela opera:

  13. OpacidadeEstratégicaemOtelo A fonteparaa obraOtelo é a obrahomônima de GiambattistaGiraldi (conhecidocomoCinthio) queescreve: “Semlevaremconta a lealdadequetinhajurado a suaesposanem a amizade, a fidelidade e osfavoresquedeviaaoMouro[…] o perversoalferes [Iago] apaixonou-se perdidamenteporDesdêmona e dirigiutodososseuspensamentospara a tentativa de seduzi-la” Porém, Shakespeare suprimeessaclaraintenção de IagoemseduzirDesdêmona, contidaemsuafonte. No Otelo de Shakespeare, as intençõesdo ódiosãodestiladasemváriasmotivações, ou, atémesmoemnenhuma:

  14. OpacidadeEstratégicaemOtelo Iago: “AcreditoqueCássio a ame E émuitoprovávelqueela o ametambém. E o Mouro, emboraeunão o suporte, É de umanaturezaconstante, amorosa, nobre E ousopensarqueparaDesdêmona Será o maisternomarido. Mas eutambém a amo. Nãoporpuraluxúria – muitoembora Confesse a culpa dessegrandepecado – Mas parasaciarminhasede de vingança, Poistenhop´ramimque o Mourolascivo Saltouemminhasela, e essepensamento Como mineral venenoso, me corrói as entranhas”

  15. OpacidadeEstratégica O que era umamotivaçãoclaranafonte se tornouinúmeras, sendoquenenhumaétotalmenteconvincente. PormaisqueIagotentejustificarseuódio, énítida a fraqueza de um princípio cabal quemotivasuaação. Daí o felizcomentário de Coleridge: “a caçaaomotivo com imotivadamalignidade.” Aoserdesvendadocomoo terrívelarquiteto de toda a tragédiadesenrolada, Iago, emsuaúltima e cruel frasenapeçadeclara: “Não me pergunteis nada. O quesabeis, sabeis. De agora emdiantenãodireimaisnenhumapalavra.” A opacidade do motivoserá um elementoretóricousadoemtodas as grandestragédias de Shakespeare.

  16. Conclusão: Shakespeare e o δαίμων Jáouvimosdizerque o quetorna um autorimortalésuacapacidade de articular o seumundo particular com a universalidade da condiçãohumana. Shakespeare fez disso um temaubíquo de suaprodução, emváriosníveis: vê-se um contínuoentrelaçamento do sagrado com o profano, cotidianoe místico, concretudee sonho. Ospoderessobrenaturais da imaginação e da inspiraçãodramáticasãotãoexplorados, que vale a penafazermosumapequenavisita a Platão…

  17. Shakespeare e o δαίμων Trecho da obra Simpósio de Platão: 203a - “O Daemon interpreta e leva aos homens o que é próprio dos seres-humanos e traz aos homens o que é próprio dos deuses. As orações e os sacrifícios de uns, os mandamentos de outros e as recompensas pelos sacrifícios! Situado entre uns e outros, preenche este espaço intermédio, de maneira a manter unidas estas duas partes de um todo. É dele que procede a arte divinatória, bem como, as artes sacerdotais relativas aos sacrifícios, às iniciações, aos encantamentos e a toda magia em geral. Os deuses não se aproximam dos homens, e é por intermédio deste Daemon que os deuses estabelecem comunicação com os homens, seja durante a vigília, seja durante o sono. O homem que conhece estas coisas é de caráter daemoniaco, inspirado, enquanto o homem que tem engenho para fazer outra coisa, arte ou ofício, não passa de um artífice. Os Daemons são em grande número, de muitas espécies e, um deles, é Eros.”

  18. Shakespeare e o δαίμων Shakespeare detém, aolongo de todasuaobra, uma plena consciência de suaatividadetranscendente, mágica, a ponto de poderabandoná-la a seubelprazer, comofazPróspero, grandemago, aoquebrarsuavarinhamágica, em A Tempestade. Porém, aomesmo tempo, retrata a realidadenua e crua das distintasprofissões, da vidacampestre da suainfância, e da linguagem popular, emcadameandro de suaprodução.

  19. Shakespeare e o δαίμων O teatro apresenta dois elementos complementares: uma mágica guiada pela imaginação, que faz a todos transcenderem às coerções da realidade, e o outro, totalmente humano que tem a ver com os trabalhos duros e com a transformação do mundo real. A presença do comumemmeio do extraordinárioéchavepara o entendimento do sucesso de Shakespeare, emseu tempo e aindahoje. Nunca a porta da vidacomumseriafechada, mesmonosmomentos de maiorêxtasemetafísico.

  20. Shakespeare e o δαίμων É no sentidoplatônicoque a obra de Shakespeare é demoníaca: Elaestá “Situada entre uns e outros [mortais e deuses], preenche este espaço intermédio, de maneira a manter unidas estas duas partes de um todo.” Shakespeare caminha através da fronteira da imaginação, alargando-a, e sem dúvida ferindo-a, ao introjetarnela a crueza da realidade do mundo. A sabedoria situa-se a meio termo entre a inspiração e o prosaico.

  21. "Um dia, quando não houver mais Grã-Bretanha, quando não houver mais os Estados Unidos, quando pois, não existir mais a língua inglesa, ainda sim, haverá Shakespeare. Falaremos Shakespeare." Machado de Assis

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