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A Clínica Médica de Freud

A Clínica Médica de Freud. Anuncio do novo endereço clínico de Freud.

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A Clínica Médica de Freud

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Presentation Transcript


  1. A Clínica Médica de Freud Anuncio do novo endereço clínico de Freud

  2. Com o rótulo de histeria pouco se altera, portanto, a situação do doente, enquanto que para o médico tudo se modifica. Pode-se observar que este se comporta para com o histérico de modo completamente diverso que para com o que sofre de uma doença orgânica. Nega-se a conceder ao primeiro o mesmo interesse que dá ao segundo, pois não obstante as aparências, o mal daquele é muito menos grave. Mas acresce outra circunstância: o médico, que, por seus estudos, adquiriu tantos conhecimentos vedados aos leigos, pode formar uma idéia da etiologia das doenças e de suas lesões, como, por exemplo, nos casos de apoplexia ou de tumor cerebral, idéia que até certo ponto deve ser exata, pois lhe permite compreender os pormenores do quadro mórbido. Em face, porém, das particularidades dos fenômenos histéricos, todo o seu saber e todo o seu preparo em anatomia, fisiologia e patologia deixam-no desamparado. Não pode compreender a histeria, diante da qual se sente como um leigo, posição nada agradável a quem tenha em alta estima o próprio saber. Os histéricos ficam, assim, privados de sua simpatia. Ele os considera como transgressores das leis de sua ciência, tal como os crentes consideram os hereges: julga-os capazes de todo mal, acusa-os de exagero e de simulação, e pune-os com lhes retirar seu interesse (Freud, 1909).

  3. ESTUDOS SOBRE A HISTERIA Josef Breuer e Sigmund Freud(1893-1895) SIGMUND FREUD EM 1891

  4. NOTAS SOBRE OS ESTUDOS • Os Estudos sobre a Histeria costumam ser considerados como o pontodepartida da psicanálise. • O livro foi publicado em 1895. • Composto por: • Comunicação Preliminar (Breuer e Freud), • Considerações teóricas (Breuer) • A Psicoterapia da Histeria (Freud) • Cinco Casos Clinicos • O livro foi recebido desfavoravelmente nos círculos médicos alemães. Passaram mais de dez anos antes que houvesse um pedido de segunda edição do livro.

  5. O tratamento da Srta. Anna O. por Breuer, no qual se baseou toda a obra, ocorreu entre 1880 e 1882. • Naquela ocasião, Josef Breuer (1842-1925) já gozava de alta reputação em Viena • médico com grande clínica • realizações científicas. • Sigmund Freud (1856-1939) apenas acabara de formar-se em medicina. • Freud e Breuer já eram amigos há vários anos. • Freud relata que enquanto ainda trabalhava no laboratório de Brücke, travara conhecimento com o Dr. Josef Breuer. • Naquela época, Freud tinha seus principais interesses concentrados na anatomia do sistemanervoso.

  6. Freud ficou muito impressionado com o relato de Breuer sobre o tratamento de Anna O. . • Cerca de três anos depois, quando estava estudando em Paris sob a orientação de Charcot, deu-lhe conhecimento do caso. “Mas o grande homem não mostrou nenhum interesse por meu primeiro esboço do assunto, de modo que jamais voltei ao tema e deixei que saísse de minha mente.” (Freud, 1925) • Os estudos de Freud sob a orientação de Charcot tinham-se concentrado, em grande parte, na histeria. • Quando Freud voltou a Viena em 1886 e ali se fixou para estabelecer uma clínica de doenças nervosas, a histeria forneceu uma grande proporção de sua clientela.

  7. No início, Freud se baseou nos métodos de tratamento então correntemente recomendados: • a hidroterapia • a eletroterapia • massagens • e a cura pelo repouso. “Qualquer um que deseje ganhar para subsistência com o tratamento de pacientes nervosos deve ser claramente capaz de fazer algo para ajudá-los.” • O “arsenal terapêutico” continha principalmente duas armas, a hidroterapia e a eletro terapia. Sugeri que ela se separasse das duas filhas, que têm governanta, e se internasse numa casa de saúde, onde eu poderia vê-la todos os dias. Concordou com isso sem levantar a menor objeção. Ordenei que lhe dessem banhos quentes e lhe aplicarei massagens por todo o corpo duas vezes ao dia (ESB, II, p.81)..

  8. O conhecimento de eletroterapia provinha do manual de W. Erb [1882], o qual proporcionava instruções detalhadas para o tratamento de todos os sintomas de doenças nervosas. “ Infelizmente, logo fui impelido a ver que seguir essas instruções não era absolutamente de qualquer valia e que o que eu tomara por um compêndio de observações exatas era meramente a construção de fantasia. Foi penosa a compreensão de que a obra do maior nome da neuropatologia alemã não tinha maior relação com a realidade ... Assim, pus de lado meu aparelho elétrico.” (Freud, 1925) • Quando os métodos tradicionais revelaram-se insatisfatórios, Freud se voltou para outra área: “Nessas últimas semanas atirei-me à hipnose e logrei toda espécie de sucessos pequeninos, mas dignos de nota” (Freud, 1950a, Carta 2 à Fliess em 28 de dezembro de 1887).

  9. Assim, nos primeiros anos da atividade como médico, o principal instrumento de trabalho foi a sugestão hipnótica. “havia algo de positivamente sedutor em trabalhar com o hipnotismo. Pela primeira vez havia um sentimento de haver superado o próprio desamparo, e era altamente lisonjeiro desfrutar da reputação de ser fazedor de milagres.”

  10. UM CASO DE CURA PELO HIPNOTISMO (1892-93) Extratos de Sugestão Hipnótica Utilizei a sugestão para contestar todos os temores dela e os sentimentos em que esses temores se baseavam: “Não tenha receio! Você vai poder cuidar muito bem do seu bebê, ele vai crescer forte. O seu estômago está perfeitamente calmo, o seu apetite está excelente, você já está na expectativa da próxima refeição etc.” A paciente continuou dormindo, o que permiti por alguns minutos, e, depois que a despertei, ela revelou amnésia para o que ocorrera. Nem bem a comida lhe foi trazida e logo sua indisposição voltou; os vômitos começaram antes mesmo de ela tocar no alimento. Foi impossível colocar o bebê ao seio e todos os sinais objetivos eram os mesmos de quando eu chegara, na noitinha anterior. Não consegui nenhum resultado com minha argumentação de que a batalha já estava quase ganha, de que agora ela estaria convencida de que o problema podia desaparecer e que de fato havia desaparecido durante meio dia.

  11. Produzi então a segunda hipnose, que a levou ao estado de sonambulismo, tão rapidamente como da primeira vez, e agi com maior energia e confiança. Disse à paciente que, cinco minutos depois de minha saída, ela iria zangar-se com sua família e dizer com aspereza: o que tinha acontecido com o jantar dela? será que pretendiam deixá-la passar fome? como poderia ela amamentar a criança, se ela mesma não tinha nada para comer? e assim por diante. Na terceira tarde, quando retornei, a paciente recusou-se a prosseguir qualquer tratamento. Já não havia mais nenhum problema, disse ela: tinha um excelente apetite e muito leite para o bebê, não havia a menor dificuldade quando este era posto a mamar etc. Seu marido achou muito estranho que, depois de minha saída, na véspera, ela tivesse reclamado violentamente, exigindo comida, e tivesse censurado a mãe de um modo que não lhe era habitual. Todavia, acrescentou ele, tudo tinha estado muito bem desde então.

  12. Nessa época o interesse de Freud pela sugestão hipnótica tornou-se acentuado: • traduziu um dos livros de Bernheim em 1888 e outro em 1892 • Com a idéia de aperfeiçoar a técnica hipnótica, Freud empreendeu uma viagem de algumas semanas às clínicas de Liébeault e Bernheim em Nancy, no verão de 1889. • Como expectador dos experimentos de Bernheim em seus pacientes do hospital, Freud teve a mais profunda impressão da possibilidade de que poderia haver poderosos processos mentais que, não obstante, permaneciam escondidos da consciência dos homens.

  13. Nessa fase inicial, Freud vinha constantemente empregando a hipnose na forma convencional: • para dar sugestões terapêuticas diretas: Eu também havia eliminado suas dores gástricas durante a hipnose, tocando-a levemente no abdome, e lhe disse que, embora ela esperasse pelo retorno da dor depois do almoço, isso não aconteceria. (ESB, II, p. 84)

  14. Contudo, Freud relata que havia alguns pontos passíveis de queixa: • ele não era capaz de hipnotizar todos os pacientes • era incapaz de pôr alguns pacientes num estado tão profundo de hipnose como teria desejado. • Alguns pacientes recaíam após breve tempo

  15. Outra técnica empregada por Freud foi o métodocatártico, que constitui o tema do trabalho clínico apresentado nos Estudos sobre a Histeria. • O caso da Sra. Emmy von N. foi o primeiro que Freud tratou pelo método catártico. • O caso clínico da Sra. Emmy revela em muitos pontos como foi difícil para Freud adaptar-se a esse novo uso da sugestãohipnótica e ouvir tudo o que a paciente tinha a dizer, sem qualquer tentativa de interferir ou de levá-la a encurtar o relato.

  16. Quando, há três dias, ela se queixara pela primeira vez do seu medo dos hospícios, eu a havia interrompido após sua primeira história, a de que os pacientes eram amarrados a cadeiras. Vi então que nada tinha ganho com essa interrupção e que não posso me furtar a escutar suas histórias com todos os detalhes até a última palavra. (Freud, 1895, p.90)

  17. O paradigmático caso de Anna O. • A paciente do Dr. Breuer, uma jovem de 21 anos, de altos dotes intelectuais, manifestou, no decurso de sua doença, que durou mais de dois anos, uma série de perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves. • Sintomas • Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia, sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto; • perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão; • dificuldade em manter a cabeça erguida; • tosse nervosa intensa; • repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas, apesar de uma sede martirizante; • redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou entender a língua materna; e, • estados de `absence‘ (ausência), de confusão, de delírio e de alteração total da personalidade.

  18. Diagnóstico – Quadro mórbido encontrado em indivíduo jovem do sexo feminino, cujos órgãos vitais internos (coração, rins etc.) nada revelam de anormal ao exame objetivo, mas que sofreu no entanto violentos abalos emocionais, e quando, em certas minúcias, os sintomas se afastam do comum, Os médicos não consideram o caso tão grave. Afirmam que não se trata de uma afecção cerebral orgânica, mas desse enigmático estado que desde o tempo da medicina grega é denominado histeria e que pode simular todo um conjunto de graves perturbações. • História clínica – a afecção lhe apareceu quando estava tratando do pai, que ela adorava e cuja grave doença havia de conduzi-lo à morte, como também que ela, por causa de seus próprios padecimentos, teve de abandonar a cabeceira do enfermo.

  19. O. trabalho com Anna O • Observação – se a medicina é o mais das vezes impotente em face das lesões cerebrais orgânicas, diante da histeria o médico não sabe, do mesmo modo, o que fazer. • Breuer notou que nos estados de `absence‘ (alteração da personalidade acompanhada de confusão mental), Anna O. murmurava algumas palavras que pareciam relacionar-se com aquilo que lhe ocupava o pensamento. • O médico, que anotara essas palavras, colocou a moça numa espécie de hipnose e repetiu-as, para incitá-la a associar idéias. • A paciente entrou, assim, a reproduzir diante do médico as criações psíquicas que a tinham dominado nos estados de `absence‘ e que se haviam traído naquelas palavras isoladas. • Eram fantasias profundamente tristes, muitas vezes de poética beleza — devaneios, como podiam ser chamadas — que tomavam habitualmente como ponto de partida a situação de uma jovem à cabeceira do pai doente.

  20. Depois de relatar certo número dessas fantasias, sentia-se ela como que aliviada e reconduzida à vida normal. • Esse bem-estar durava muitas horas e desaparecia no dia seguinte para dar lugar a nova `absence‘, que cessava do mesmo modo pela revelação das fantasias novamente formadas. • A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês, deu a esse novo gênero de tratamento o nome de `talking cure’ (cura de conversação) qualificando-o também, por gracejo, de `chimney sweeping’ (limpeza da chaminé). • Verificou-se logo, como por acaso, que, limpando-se a mente por esse modo, era possível conseguir alguma coisa mais que o afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas. Pode-se também fazer desaparecer sintomas quando, na hipnose, a doente recordava, com exteriorização afetiva, a ocasião e o motivo do aparecimento desses sintomas pela primeira vez.

  21. “Tinha havido, no verão, uma época de calor intenso e a paciente sofria de sede horrível, pois, sem que pudesse explicar a causa, viu-se, de repente, impossibilitada de beber. Tomava na mão o cobiçado copo de água, mas assim que o tocava com os lábios, repelia-o como hidrófoba. Para mitigar a sede que a martirizava, vivia somente de frutas, melões etc. Quando isso já durava perto de seis semanas, falou, certa vez, durante a hipnose, a respeito de sua “dama de companhia” inglesa, de quem não gostava, e contou então com demonstrações da maior repugnância que, tendo ido ao quarto dessa senhora, viu, bebendo num copo, o seu cãozinho, um animal nojento. Nada disse, por polidez. Depois de exteriorizar energicamente a cólera retida, pediu de beber, bebeu sem embaraço grande quantidade de água e despertou da hipnose com o copo nos lábios. A perturbação desapareceu definitivamente”. (Freud, 1909)

  22. Ninguém, até então, havia removido por tal meio um sintoma histérico nem penetrado tão profundamente na compreensão da sua causa. • Breuer observou que a paciente podia ser aliviada dos estados nebulosos de consciência se fosse induzida a expressar em palavras a representação emotiva pela qual se achava no momento dominada. • A partir dessa descoberta, Breuer chegou a um novo método de tratamento. Ele a levava a uma hipnose profunda e fazia-a dizer-lhe, de cada vez, o que era que lhe oprimia a mente. • Depois de os ataques de confusão depressiva terem sido eliminados dessa forma, empregou o mesmo processo para eliminar suas inibições e distúrbios físicos.

  23. Em seu estado de vigília a moça não podia descrever mais do que outros pacientes como seus sintomas haviam surgido, assim como não podia descobrir ligação alguma entre eles e quaisquer experiências de sua vida. • Sob hipnose ela de pronto descobria a ligação que faltava. • Todos os seus sintomas voltavam a fatos comovedores que experimentara enquanto cuidava do pai.

  24. Na maioria dos casos que tinha havido algum pensamento ou impulso que ela tivera de reprimir enquanto se encontrava à cabeceira de enfermo, e que, em lugar dele, como substituto do mesmo, surgira depois o sintoma. • A conclusão foi de que os sintomas tinham um significado e eram resíduos ou reminiscências daquelas situações emocionais. • os histéricos sofrem de reminiscências. Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais (traumáticas). • Quando a paciente se recordava de uma situação dessa espécie de forma alucinatória, sob a hipnose, e levava até sua conclusão, com uma expressão livre de emoção, o ato mental que ela havia originalmente recalcado, o sintoma era eliminado.

  25. À primeira vista, a principal posição teórica adotada pelos autores parece simples. • Eles sustentam que, no curso normal das coisas, se uma experiência for acompanhada de uma grande dose de “afeto”, esse afeto é “descarregado” numa variedade de atos reflexos conscientes, ou então vai-se desgastando gradativamente pela associação com outros materiais mentais conscientes. • No caso dos pacientes histéricos, por outro lado, nenhuma dessas coisas acontece. O afeto permanece num estado “estrangulado”, e a lembrança da experiência a que está ligado é isolada da consciência. • A partir daí, aj lembrança afetiva se manifesta em sintomas histéricos, que podem ser considerados como “símbolos mnêmicos” — vale dizer, como símbolos da lembrança suprimida.

  26. Porque um evento se torna traumático? • É precisamente a ausênciadaab-reação que torna o eventopatogênico, impedindo que a quantidade de afeto a ele vinculada se descarregue adequadamente. • Porque a terapia catártica é eficaz? • “ela anula o poder das idéias originalmente não ab-reagidas, ao permiti-lhes, através da linguagem, uma saída para seus afetos estrangulados. • Traz a estas idéias uma correção associativa, reintroduzindo-asnaconsciêncianormal.

  27. Pontos fundamentais da Teoria em Os Estudos sobre a Histeria • A teoria procurou estabelecer uma descrição direta das observações; • procurou estabelecer a origem dos sintomas da histeria; • Dava ênfase à significação da vida das emoções; • Estabelece a distinção entre os atos mentais inconscientes e os conscientes (ou, antes, capazes de ser conscientes); • Introduz um fator dinâmico, supondo que um sintoma surge através do represamento de um afeto; • Introduz um fator econômico, considerando aquele mesmo sintoma como o produto da conversão de uma quantidade de energia represada. • Finalidade terapêutica (Cura): Método Catártico (Breuer): • proporcionar que a cota de afeto que se tinha tornado estrangulada, pudesse obter descarga (ou ab-reação) e a inserção dos pensamentos recalcados no curso normal da consciência.

  28. O método catártico funcionava bem melhor, e seu suporte teórico — a teoria da ab-reação — parecia bem mais fundamentado do que o da sugestão hipnótica. • Freud passou então a repetir as pesquisas de Breuer com seus próprios pacientes. • Contudo, embora reconheça a imensa ajuda do hipnotismo no tratamento catártico, ampliando o campo de consciência da paciente e pondo ao seu alcance conhecimentos que não possuía em sua vida de vigília. Freud irá altera a técnica da catarse, abandona o hipnotismo e procura substituí-lo por algum outro método.

  29. As razões que o levaram a isto são: • nemtodos os pacientes eram hipnotizáveis, embora manifestassem claramente sintomas histéricos; • estava ansioso por não ficar restringido ao tratamento de condições histeriformes; • era preciso descobrir exatamente o que caracterizava a histeria, e em que ela diferia das outras neuroses; • dúvidas quanto ao fatoressencial na eficácia do método do hipnotismo:

  30. “A primeira foi que até mesmo os resultados mais brilhantes estavam sujeitos a ser de súbito eliminados, se minha relação pessoal com o paciente viesse a ser perturbada. Era verdade que seriam restabelecidos se uma reconciliação pudesse ser efetuada, mas tal ocorrência demonstrou que a relação emocional pessoal entre médico e paciente era, afinal de contas, mais forte que todo o processo catártico, e foi precisamente esse fator que escapava a todos os esforços de controle. E certo dia tive a experiência que me indicou, sob a luz mais crua, o que eu há muito tinha suspeitado. Essa experiência ocorreu com uma de minhas pacientes mais dóceis, com a qual o hipnotismo me permitia obter os resultados mais maravilhosos e com quem estava comprometido a minorar os sofrimentos, fazendo remontar seus ataques de dor a suas origens. Certa ocasião, ao despertar, lançou os braços em torno do meu pescoço. A entrada inesperada de um empregado nos livrou de uma discussão penosa, mas a partir daquela ocasião houve um entendimento tácito de que o tratamento hipnótico devia ser interrompido. Fui bastante modesto em não atribuir o fato aos meus próprios atrativos pessoais irresistíveis, e senti que então havia apreendido a natureza do misterioso elemento que se achava em ação por trás do hipnotismo. A fim de excluí-lo, ou de qualquer maneira isolá-lo, foi necessário abandonar o hipnotismo.”

  31. Estas dificuldades levam Freud a realizar mudanças na técnica do tratamento. • No caso, MissLucy, Freud coloca o problema teórico envolvido no abandono da hipnose: “Ao desistir de utilizar o sonambulismo, talvez estivesse me privando daquele pré-requisito sem o qual o método catártico parecia inaplicável. Pois ele se baseia na suposição de que, neste estado de consciência alterado, o paciente tem à sua disposição recordações e associações que aparentemente não existem em seu estado de consciência normal. Quando não se desse ampliação sonambúlica da consciência, seria impossível trazer à consciência aquelas relações causais, que o paciente oferece ao médico como algo desconhecido para ele” (23). (23) Estudos, ESB, II, p. 109, (Miss Lucie)

  32. O problema se colocava assim: como induzir o paciente a recordar dos eventos traumáticos sem recorrer à hipnose? • Em substituição ao hipnotismo, Freud recorreu a uma prática utilizada por Bernheim. • Ao despertar do estado de sonambulismo, os pacientes afirmavam não recordar do que havia relatado sob hipnose. Bernheim afirmava que a lembrança se achava presente; e insistia para que o paciente se recordasse. Afirmava que o paciente sabia de tudo e que tinha apenas de falar. Punha a mão na testa do paciente, então as lembranças esquecidas de fato voltavam, de início de forma hesitante, mas finalmente numa torrente e com clareza completa. • O sucesso destes experimentos sugeriu a Freud um modelo: “Decidi prosseguir, baseado na suposição de que meus pacientes sabiam tudo aquilo que se revestia de significação patogênica, e que tudo o que era necessário era força-los a revelá-los (Miss Lucy, ESB, II, p.110).

  33. “Meus pacientes, refleti, devem de fato ‘saber’ todas as coisas que até então só tinham sido tornadas acessíveis a eles na hipnose; e garantias e encorajamento da minha parte, auxiliados talvez pelo toque da minha mão, teriam, pensei, o poder de forçar os fatos e ligações esquecidos na consciência. Sem dúvida, isto parecia um processo mais laborioso do que levar os pacientes à hipnose, mas poderia resultar como sendo altamente instrutivo. Assim, abandonei o hipnotismo, conservando apenas meu hábito de exigir do paciente que ficasse deitado num sofá enquanto eu ficava sentado ao lado dele, vendo-o, mas sem que eu fosse visto.”

  34. Quando o paciente não produzia a recordação desejada, Freud insistia até que ela aparecesse. • A falha não significava o esquecimento da recordação pertinente, ela estava ali desde a primeira pressão. O que na verdade ocorria era que: os pacientes ainda não haviam aprendido a deixar de lado sua autocrítica. Repudiavam a recordação emergente porque a consideravam uma perturbação inútil e inoportuna; mas depois de a comunicarem verificava-se invariavelmente ser esta a idéia correta(25). (25) Miss Lucie, ESB, II, p. 111

  35. É o fenômeno que Freud vai chamar de resistência, ainda sem perceber sua imensa importância. • O caso de Fräulein Elizabeth von R. é onde o termo resistência aparece pela primeiravez. • A “Técnica de Concentração” exigia uma absoluta e voluntária cooperação por parte da paciente, o que nem sempre ocorria. • Freud suspeita de que realmente ela se recordara de algo, mas se recusava a comunicá-lo (crítica ou assunto demasiado penoso)

  36. Através do meu trabalho, eu tinha que sobrepujarumaforçapsíquicanapaciente, que impedia que a idéia patogênica se tornasse consciente (recordadas)... Deviaseramesmaforçapsíquicaquecontribuíraparaaformaçãodosintoma, e que naquele momento (traumático) impedira a idéia patogênica de se tornar consciente. Que tipo de força poderia ter esta eficácia, e que motivo poderia tê-la feito entrar em ação? (...) Tais idéias (patogênicas) eram sempre de natureza dolorosa, adequadas para provocar os afetos de vergonha, reprovação, dor psíquica ou sentimento de injúria; eram em geral daquele tipo que as pessoas gostariam de não ter experimentado, e preferemesquecer. A Psicoterapia da Histeria, ESB, II, p. 268

  37. Com a hipótesedadefesa o recurso à hipótesedaab-reação se tomou desnecessário. • A teoria: • Uma vez apresentada a idéia dolorosa, o ego a repelira, rejeitando-a para se defender do conflito que ela necessariamente acarretaria • Quando, na terapia, Freud tentava dirigir a atenção para o traço mnêmico desta idéia, sentia como "resistência" a mesma força que na origem do sintoma se manifestara como "repulsa". • Faltava ainda demonstrar que a idéia excluída se tornara patogênica precisamente em virtude da recalque; é o que Freud procura fazer nas reconstituições dos casos clínicos.

  38. Além dos casos de Anna O. e da Sra. Emmy Von N., os estudos apresentam o caso da Srta. Elisabeth von R., que teve início no outono de 1892 e descrito por Freud como sua “primeira análise integral de uma histeria”. O caso de Fràulein Elizabeth von R. (exemplo clínico) • O conflito inicial se produzira por ocasião do regresso de Elizabeth, que saíracomumrapaz, à casa em que seu paiseencontravadoente, tendo a condição deste se agravado durante a ausência da filha. • Este conflito inicial produzira a primeiraconversão, fazendo surgir uma dor na perna.

  39. O conflito seguinte se produzira quando da morte de sua irmã; Elizabeth, que sempre alimentara um sentimentoafetuoso em relação a seu cunhado, pensara subitamente: "Agora ele está livre; poderei casar-me com ele". • A recalque desta idéia conduzira a umanovaconversão, agravando a dor e difundindo-a para outras regiões da perna.

  40. a paciente, mergulhada em suas lembranças acridoces, não parecia notar para onde se estava encaminhando e continuou a reproduzir suas recordações... Perguntei-lhe se durante a viagem havia pensado na possibilidade deplorável que depois se concretizou [morte da irmã]. Respondeu-me que evitara cuidadosamente pensar nela, mas acreditava que desde o início a mãe havia esperado o pior...Naquele momento de terrível certeza de que a irmã amada estava morta sem ter-lhes dito adeus, e sem que ela lhe tivesse aliviado os últimos dias com seus cuidados, naquele exato momento outro pensamentoatravessou a mente de Elisabeth, e agora se impunha de maneira irresistível a ela mais uma vez, como um relâmpago nas trevas: “Agora ele está livre novamente e posso ser sua esposa.” Tudo ficou claro então. Os esforços do analista foram ricamente recompensados....

  41. ”Nesse momento, ela queixou-se das dores mais terríveis e fez um último e desesperado esforço para rejeitar a explicação: não era verdade, eu a havia induzido àquilo, não podia ser verdade, ela seria incapaz de tanta maldade, jamais poderia perdoar-se por isso. Foi fácil provar-lhe que o que ela própria me dissera não admitia outra interpretação. Mas passou-se muito tempo antes que meus dois argumentos consoladores — o de que não somos responsáveis por nossos sentimentos e o de que seu comportamento, o fato de ter adoecido naquelas circunstâncias, era prova suficiente de seu caráter moral — passou-se muito tempo antes que essas minhas consolações a impressionassem um mínimo que fosse.

  42. Neste Caso Clínico, Freud introduz uma afirmação explícita da existência do inconsciente: Quando afirmamos que o amor pelo cunhado não era conhecido pela moça, exceto em raras ocasiões, e mesmo assim só momentaneamente, queremos dizer exatamente o que estamos dizendo. Não se trata de uma qualidade mais baixa ou de um grau menor de consciência, mas de uma interrupção do processo de livre-associação mental com o resto da consciência.

  43. Nos dois casos, a idéia reprimida era de naturezaerótica o incompatível com a consciênciamoral da jovem • O mecanismo de conversão ligado ao processo de defesa ficava assim dotado de uma base empírica sólida, que Freud comprova também no caso da governanta inglesa, Miss Lucy. • A defesa resultava num benefício para o ego, que se poupava de um conflitointolerável; mas este beneficio se conseguia às custas de uma anomalia psíquica, de uma divisãodaconsciência e do sofrimentofísico imposto pelas dores na perna

  44. O mecanismo da defesa é descrito da seguinte forma: • surge a idéiaIncompatível (experiências e sentimentos sexuais, primeira vinculação explícita da sexualidade com a histeria). • a paciente procura recusar a idéia • A tentativa de tratar a idéia simplesmente como não tendo ocorrido fracassa, porque o traço mnêmico por ela deixado e o afeto correspondente não podem ser extirpados da psique • O Eu procura então enfraquecer a idéia, retirando dela a soma de excitação que lhe corresponde • Enfraquecida a idéia já não poderá provocar associaçõespenosas • A soma de excitação (afeto) se desvia para outra direção. • Este mecanismo de defesa, consistente em dissociar a idéia da excitação.

  45. O destino da excitação: • na histeria a excitação é somatizada, total ou parcialmente, pelo mecanismo de “conversão” • Na histeria, o modo de tornar inócua a representação inconciliável é deslocar a soma de excitação desligada da representação recalcada sobre as representações de partes do corpo. • a idéia reprimida forma o núcleo de um segundogrupopsíquico a que se acrescentam representações proveniente de eventos traumáticos similares. • A defesa, neste período, está explicitamente vinculada a um ato consciente, a saber, a rejeição da idéia incompatível, o que pressupõe evidentemente a sua permanência, ainda que breve, no campo da consciência comum.

  46. Esta proposição contraria a tese de Breuer que supunha a incapacidade das idéias surgidas no estado hipnóide de entrarem em associação com os demais conteúdos psíquicos: “Breuer queria explicar a dissociação psíquica dos histéricos pela falta de comunicação entre os diversos estados de consciência; os produtosdosestadoshipnóides ficavam enquistados, como corpos estranhos não assimilados, na consciência desperta. Eu concebia a própria dissociaçãopsíquica como o resultado de um processoderepulsa, a que dei o nome de “defesa”, e posteriormente de “recalque” (1) (1) A História do Movimento Psicanalítico

  47. Em Os Estudos sobre a Histeria já se registra a primeira divergência entre Freud e Breuer. Qual a natureza da histeria? • Quando um processo mental se torna patogênico (quando é que se torna impossível lidar com ele normalmente) ? • Breuer – teoria fisiológica: julgava ele que os processos que não podiam encontrar um resultado normal eram aqueles que se haviam originado durante estados mentais ‘hipnóides’ inusitados. Isto provocou a questão ulterior da origem desses estados hipnóides. • Freud – suspeitava da existência de uma ação mútua de forças e da atuação de intenções e propósitos contraditórios como os que devem ser observados na vida normal. ‘histeria hipnóide’ versus ‘neuroses de defesa’.

  48. Na histeria de defesa, o que caracteriza o quadro clínico desta nova modalidade é que os pacientes eram perfeitamente saudáveis até o momento em que ocorreu um caso de incompatibilidade em sua ideação: “...apareceu uma experiência, idéia ou sentimento, que provocou um afeto tão doloroso, que a pessoa decidiuesquecê-lo, porque não confiava em sua própria capacidade de remover a incompatibilidade entre as idéias intoleráveis e seu eu.” (1) • A incompatibilidade surge entre as “idéias” e o “Eu”(2) (1) As Neuropsicoses de Defesa, ESB, III, p. 47 (2) O termo “Eu” passa a substituir a noção de “consciência normal”

  49. Com a mudança de técnica, Freud concluiu que a hipnose interceptara da visão uma ação de forças que podiam agora ser observadas. • Tudo que tinha sido esquecido fora aflitivo, ou traumático ou penoso ou vergonhoso pelos padrões da personalidade do indivíduo. • Por esse motivo fora esquecido — isto é, não tinha permanecido consciente. • Para torná-lo consciente novamente necessitava-se superar algo que lutava contra a recordação no paciente, foi necessário promover esforços da parte do próprio paciente a fim de compeli-lo a recordar-se.

  50. Esta observação levou Freud à elaborar sua teoria da recalque: “A teoria da recalque tornou-se a pedra angular da nossa compreensão das neuroses.” • É possível considerar a recalque como umcentro e reunir todos os elementos da teoriapsicanalítica em relação a ele.

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