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Memórias com Alma nos Cantares da Quaresma e Semana Santa em Loriga

Conferência. Memórias com Alma nos Cantares da Quaresma e Semana Santa em Loriga. por : Joaquim Pinto Gonçalves. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular.

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Memórias com Alma nos Cantares da Quaresma e Semana Santa em Loriga

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Presentation Transcript


  1. Conferência Memórias com Alma nos Cantares da Quaresma e Semana Santa em Loriga por: Joaquim Pinto Gonçalves

  2. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Tendo em conta que o culto dos mortos se tem revestido de ritualizações de diversa ordem, convém referir aqui o que os Antropólogos pensam acerca do assunto. Trata-se, sem dúvida, de explicar como é que desde os primórdios, o Homem lidou com o “Mito” da morte e foi ritualizando o seu comportamento em função daquilo em que, a cada momento, acreditava.

  3. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • É um facto, mais que provado que, sempre que o homem não encontra explicação para um determinado fenómeno refugia-se no mito, isto é, cria uma abstracção que possa dar resposta às suas limitações. Os Deuses, numa primeira análise e os mitos, duma forma geral, são respostas para as ansiedades e limitações do homem.

  4. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Do Mito ao Rito tudo se passa numa relação estreita de causa e efeito. Um dá origem ao outro. Os ritos existem porque existem mitos. No entanto, a existência de mitos também se pode explicar pela necessidade que o homem tem de ritualizar certos comportamentos.

  5. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • O mundo dos Mitos não é o dos seres sem corpo que são os deuses? Aquele em que as leis da matéria e da vida são abolidas? Aquele em que o pensamento parece liberto de todo o constrangimento e se mostra capaz de criar mundos, monstros e histórias desprovidas de raízes?

  6. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Mas poder-se-ia dizer o mesmo dos sonhos. Sabe-se, com efeito, hoje que o sono desprovido de sonhos não é reparador. Sonhar é pois necessário tanto como dormir, para sobreviver. Ora, certos caracteres dos mitos, caracteres que os assemelham aos sonhos, permitem-nos interrogarmo-nos se eles não são uma condição também indispensável ao bom funcionamento do pensamento acordado, como os sonhos o são em relação ao sono.

  7. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Em todas as partes do mundo, as sociedades parecem ter pressentido que os mitos e os sonhos são muito daquilo que há de mais significativo no destino humano e a ligação entre a interpretação dos sonhos e a referência aos mitos está presente, antes mesmo do nascimento da psicanálise, naquilo que pode ser considerado como a pri­meira teoria propriamente etnológica do mito, a teoria animista proposta ao longo da segunda metade do século XIX por E. B. Taylor especialmente.

  8. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Para ele são as ilusões do sonho que engendraram a crença nas almas e nos espíritos de que tudo para os «primitivos» estava povoado. Os mitos são, desde então, concebidos como o fruto de crenças, resultando estas de uma análise confusa da realidade.

  9. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular O Culto dos Mortos no Contexto Cultural Português

  10. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Era na crença na imortalidade da alma e dos sofrimentos a que estava sujeita na outra vida, que assentava a piedosa prática da “encomendação dos mortos”. Trata-se de costumes preservados pela tradição, que lembram aos vivos, a transitoriedade da passagem e acendem o terror da morte e o respeito pelo Juízo Final

  11. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Apenas uma minoria, estou em crer, podiam ou podem enfrentar a morte como a transformação providencial que conduz a uma vida futura, condição impreterível e necessária para que a mesma vida se produza. E mesmo quando os crentes encaram esse momento doloroso como um descanso eterno, o cumprimento da promessa salvífica de Deus aos homens, a generalidade das pessoas não pode deixar de olhar com dor e rejeição a perda dos entes mais queridos.

  12. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Na nossa cultura, o animismo, como crença na existência de uma alma, encontrava-se também presente. • A sobrevivência de uma parte espiritual do ser, mesmo após a morte, vem provavelmente de um período arcaico da evolução cultural do homem, provavelmente do Neolítico.

  13. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Segundo a concepção popular, essa alma, que se separava do corpo com a morte, errava durante algum tempo, revelando-se aos vivos, geralmente para dar a conhecer a necessidade em que se encontravam de fazer cumprir algumas promessas

  14. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Esta tradição do aparecimento das almas era muito antiga no nosso país e encontra-se amplamente documentada. Regra geral, segundo a crença, as almas devem ser requeridas três vezes. Esta interacção dilata o período entre a pergunta e a resposta, dando quer ao emissor quer ao receptor oportunidade para se recomporem.

  15. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Realmente, a momentânea interacção dos dois mundos opostos, o dos vivos e o dos mortos, provocava em cada um dos intervenientes um traumatismo profundo, de que só o tempo poderia ajudar a recompor. Um aspecto da prática, cristã na sua essência, mas a que se encontravam associados vestígios pagãos, dizia respeito às almas do purgatório.

  16. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • A "encomendação das almas" era uma exteriorização desse culto, muito viva entre os séculos XVII e XIX, mas que tem vindo a desaparecer. Para essa degradação contribuiu certamente a defesa da ortodoxia por parte da Igreja Católica, afastando da vivência dos crentes alguns costumes que se encontram eivados de simbologia mágico-pagã.

  17. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • À tradição piedosa relacionada com o culto dos mortos, juntava-se igualmente o medo devido à possível possessão de um corpo vivo pelo espírito do falecido. • Segundo a crença, tal ocorrência era frequente, escolhendo os espíritos para sua morada transitória na terra, o corpo de algum parente ou amigo.

  18. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Hoje, como no passado, considera-se que estas almas estão ligadas à escuridão e à noite. Procuram com frequência apropriar-se dos corpos vivos, especialmente dos daqueles que consideram causadores do seu posicionamento no limbo, espaço vago entre o purgatório e o inferno, esquecido por Deus, onde aguardam em sofrimento o seu “despacho”. Para estas almas, a cerimónia da “encomendação” actua como um refrigério".

  19. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • É um ritual de luto e dor. Pratica-se pela Quaresma, quando a morte e o sofrimento de Jesus está presente, quando a Igreja e os fiéis trajam de negro. O sem sentido trágico da vida alonga-se na escuridão da noite, quando vozes inidentificadas dão voz aos nossos sofrimentos íntimos.

  20. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Lembram-se os nomes dos defuntos, pergunta-se-lhes porque morreram, lamenta-se com lágrimas a sua descida ao sepulcro. E, convocam-se os vivos a orar pelos que partiram. Sentados à lareira, enquanto as chamas brincam traçando cruzes no escuro, ou preparando-se para dormir, os ainda vivos recordam os seus mortos e rezam as orações solicitadas: “Padre-nosso...”

  21. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Às vozes soturnas, ecoando por montes e vales, respondia a toada triste das orações dos que em suas casas, cumpriam o preceito de rezar pelos mortos: “Ave-Maria......” ARAÚJO, Maria Benedita, Superstições Populares Portuguesas, Ed. Colibri, Lisboa,1997 e LEÇA, Armando, Música Popular Portuguesa, Ed. Domingos Barreira, Porto 1945.

  22. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Às vozes soturnas, ecoando por montes e vales, respondia a toada triste das orações dos que em suas casas, cumpriam o preceito de rezar pelos mortos: “Ave-Maria......” ARAÚJO, Maria Benedita, Superstições Populares Portuguesas, Ed. Colibri, Lisboa,1997 e LEÇA, Armando, Música Popular Portuguesa, Ed. Domingos Barreira, Porto 1945.

  23. O Contexto do Culto dos Mortos na Tradição Popular • Também a Igreja Católica explica este Ritual ligado às Exéquias… • Ouçamos o Pe. António Rego.

  24. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga Contexto e Forma

  25. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Em Loriga, desde crianças, habituámo-nos a ouvir falar da «Ementa das Almas», no entanto, o termo actualmente mais usado, segundo Sousa Viterbo, é «amentar», que quer dizer: “Quando os pastores da Igreja rezam pelos defuntos”. Estes Cânticos que fazem parte da “Ementa das Almas” (Encomendação das Almas, na sua designação mais corrente) existem em Loriga, pelo menos desde o Séc. XVIII.

  26. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Entoados nos primeiros tempos por vozes, juntou-se-lhes o instrumental, a partir do momento em que surgiu na vila uma banda de música – 1906. • A “Ementa das Almas” é, no fundo, uma versão popular da “Liturgia dos Mortos” da Igreja Católica, como pudemos constatar pela explicação do Pe Rego.

  27. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Todos os anos, nas madrugadas de Sábado para Domingo, durante a Quaresma, o silêncio da noite é quebrado pelo ecoar dos Cânticos da “Ementa das Almas”, graças à boa vontade de uns tantos (não muitos) Loriguenses, que teimam em manter viva esta tradição.

  28. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Durante cerca de 2 horas, entre as quatro e as seis, desenrola-se este diálogo cantado, por vários homens que subindo aos pontos mais altos da vila, despertam o povo que dorme, para a recordação dos que já morreram. Aqui e ali, o diálogo é interrompido por uma badalada do sino da torre da Igreja, onde se encontra um dos participantes neste ritual, seguido de um período de silêncio – o necessário para que se reze um Pai nosso... uma Avé Maria...

  29. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Para além desta melodia, salientamos na tradição de Loriga “Os Martírios”, cantados Sexta-Feira Santa e cuja construção se nos afigura como modal. Sendo tonal a música que estamos habituados a ouvir, esta soa-nos aos ouvidos como algo estranho. Como se não fizesse parte (como não faz) do nosso quotidiano.

  30. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • No final deste diálogo, o grupo junta-se no adro da Igreja e inicia-se uma outra fase deste Rito. a “arruada”. • Esta é uma espécie de “Via Sacra” realizada pelo grupo de homens que canta a “Ementa” e mais alguns que se lhes juntam, posteriormente, para aumentar o número de vozes e assim, melhor se fazerem ouvir pelos que não acordaram.

  31. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Na arruada, cantam-se os “Passos” dando conta das várias etapas do caminho de Cristo até ao Calvário. Trata-se, como já dissemos de uma espécie de “Via Sacra”, cantada pelo grupo, no final da “Ementa”. • Sexta Feira Santa, durante a arruada canta-se a “Mãe Dolorosa”, cântico que lembra as dores que Maria sentiu pela paixão e morte do seu Filho.

  32. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Esta tradição mantém-se, independentemente das condições climatéricas. O período quaresmal, normalmente em Fevereiro e Março, é tempo de grandes nevões na região da Serra da Estrela. Mas, nem mesmo os nevões impedem que se cumpra a tradição.

  33. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • MichelGiacometti, etnomusicólogo francês, nascido na Córsega, desenvolveu em Portugal onde se radicou, um importante trabalho ao nível da recolha, sistemática da música popular. Trabalhou de perto com Fernando Lopes Graça, um dos nomes mais significativos da música portuguesa do Século XX. Giacometti, esteve em Loriga em 1988, precisamente para ouvir e recolher, (para uma Antologia da Música Religiosa Popular, que não chegou a editar, devido ao seu falecimento) as músicas da “Ementa das Almas” de Loriga.

  34. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Posteriormente ao agradecer a António Ascensão a sua ajuda nesta recolha, dizia que os “espécimens”- assim lhes chamava - recolhidos em Loriga eram dos mais interessantes com que tinha tido contacto. • E efectuou recolhas com a colaboração de Fernando Lopes Graça, um pouco por todo o país. O Cancioneiro que publicaram incluiu alguns exemplos de “Encomendações das Almas” dos quais falamos no nosso trabalho de investigação.

  35. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga A Construção Musical e a Forma Modal

  36. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Para situarmos a origem desta tradição dos loriguenses, teremos, forçosamente, que recuar até à origem do canto litúrgico ou mesmo antes, se atendermos que Loriga já existia no contexto da Lusitânia. • Vamos quedar-nos pela época da origem do canto litúrgico, pois, pela forma que assumem os cânticos que hoje se cantam, pode ter começado nessa época.

  37. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Para situarmos a origem desta tradição dos loriguenses, teremos, forçosamente, que recuar até à origem do canto litúrgico ou mesmo antes, se atendermos que Loriga já existia no contexto da Lusitânia. • Vamos quedar-nos pela época da origem do canto litúrgico, pois, pela forma que assumem os cânticos que hoje se cantam, pode ter começado nessa época.

  38. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga A melodia que aqui apresentamos dos Martírios de Nosso Senhor Jesus Cristo, tem uma construção Modal, sendo construída no Modo III (Frígio ou Deuterus) – Modo de Mi (Autêntico). A Finalis (correspondente à actual Tónica ) no modo III – é o Mi (A na figura.) e a Repercussa (correspondente à actual Dominante) é o Si (B na figura). Se utilizarmos o critério do âmbito da melodia continuamos a chegar à mesma conclusão. Isto é , o Modo III constrói a sua oitava entre Mi e Mi. Para além deste facto acresce a forma responsorial, típica do canto religioso da época, como referem, quer Benet, quer Lopes Graça. B A

  39. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Esta Melodia dos Martírios parece-nos ser a que manteve mais pureza relativamente ao que pensamos ser a forma original e, portanto, sempre anterior ao Século XII. • Poderão, no entanto, fazer-se outras leituras ou propostas, como a que aqui apresentamos de António Ascensão. • Mesmo assim, mantemos a defesa da construção modal. Neste caso, no Modo de Mi, transposto para Sol, com a finalis em Sol e a repercussa em Ré.

  40. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Se repararmos na melodia principal deste ritual da Ementa das Almas, verificamos que a construção é muito semelhante. O que muda é o Fá que passa a ser sustenido. • No entanto este facto pode ter surgido por volta de 1906 quando foi fundada a Sociedade Recreativa e Filarmónica Loriguense e a sua Banda. Para que os instrumentos melhor pudessem acompanhar os cânticos deste ritual, estes foram tornados tonais, através da introdução dos meios tons. Ementa das Almas - Loriga

  41. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Podemos, no entanto, também aqui, defender a construção modal, uma vez que esta melodia, com esta proposta está construida no modo de Ré, transposto para Mi. O âmbito mantém-se, apenas mudando a nota mais baixa que, neste caso, é a finalis, o Mi. Ementa das Almas - Loriga

  42. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Vejamos o que diz RoyBennet,da Universidade de Cambridge, sobre a música antiga e o Cantochão: “A música mais antiga que conhecemos, tanto sacra como profana, consiste em uma única melodia, com uma textura do tipo que chamamos monofónica. Em sua primeira fase, a música religiosa conhecida como cantochão não tinha acompanhamento. Consistia em melodias que fluíam livremente, quase sempre se mantendo dentro de uma oitava e se desenvolvendo, de preferência com suavidade, através de intervalos de um tom. Os ritmos são irregulares, fazendo-se de forma livre, de acordo com as acentuações das palavras e o ritmo natural da língua latina, base do canto dessa música. Alguns cantos eram expressos de modo antifónico, isto é, os coros cantavam alternadamente. Outros eram cantados no estilo de responsório, que se faz com as vozes do coro respondendo a um ou mais solistas. Ainda hoje, em muitas igrejas e abadias, o cantochão é usado normalmente.

  43. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Se compararmos a partitura apresentada por Bennet com a dos Martírios de Loriga, verificamos que existem algumas semelhanças, nomeadamente em relação á forma como a melodia se desenvolve. • Tal como ele refere a melodia mantém-se no âmbito da oitava, desenvolvendo-se em intervalos de segunda (de 1 tom). Por outro lado, os melismas, tão típicos do canto litúrgico, estão presentes em todas as melodias utilizadas na Ementa das Almas.

  44. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Citemos novamente Bennet: • “A música antiga (mais precisamente, aquela que vai até o século XII) empregou um sistema especial de escalas às quais se dá o nome de modos. Você, por exemplo, pode tocar um modo no piano. Para tanto, basta que comece uma escala por uma nota branca, digamos o ré, e vá subindo nota por nota, tocando somente nas teclas brancas. Se tentar fazer a mesma coisa começando por outra nota, verá que os modos nunca têm a mesma sequência de tons e semitons. O modo em que a melodia está escrita é identificado pela sua final, isto é, pela nota em que ela começa e termina, ou então pelo âmbito da melodia, dado por suas notas mais alta e mais baixa. Cada modo medieval apresentava duas formas: uma "autêntica" (como o modo dórico, que vai de ré a ré) e outra "plagal" - a que tem o mesmo modo e o mesmo final, diferenciando-se apenas pelo fato de a série começar uma quarta abaixo. Nesse caso, o prefixo "hipo" é acrescentado ao nome do modo (por exemplo, uma série que vá de lá a lá, cuja nota final seja ré, passa a ser o modo hipodórico):

  45. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • As melodias da Mãe Dolorosa e dos Passos de Nosso Senhor, que apresentamos de seguida, em leitura proposta por António Ascenção, embora assumindo já uma execução polifónica, não deixam de ter uma construção modal. A primeira, no modo de Lá transposto para Mi, com a finalis em Mi e a segunda, no modo de Dó transposto para Sol, com a finalis em Sol.

  46. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga

  47. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Poderão os mais cépticos opinar contrariamente e dizer que não tem fundamento teórico a nossa hipótese de atribuir a construção modal aos “espécimens” (como lhes chamava Giacometti), recolhidos em Loriga. Poderão, até, dizer que em vez de um modo, aquilo é uma escala diatónica. Nós próprios apresentamos as partituras propostas segundo a leitura que hoje se faz da música e que é essencialmente tonal.

  48. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • É perfeitamente possível pensar desta maneira e, à luz da visão do século XX, onde toda a música é tonal, têm toda a razão de pensar assim. • Não podemos é esquecer que toda a História, a da Música incluída, deve ser vista sob um prisma diacrónico, à luz da visão da época que analisamos. Neste caso concreto estamos a falar de cultos arreigados nas populações desde a génese da Humanidade. Vejam-se as teorias animistas e evolucionistas citadas na primeira parte.

  49. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Por outro lado, há referências a rituais deste género anteriores ao Século XVII, como o testemunha esta citação de Teófilo Braga, afirmando que, em 1515, em Coimbra “... no silêncio da noite, ao som de uma campainha, despertavam os cidadãos com terríveis vozes, pelas ruas, que moviam ao terror da morte e do dia do juízo”. BRAGA, Teófilo,História,P.P.P.,2º Vol, cit. por, LEÇA, Armando, op. cit. p. 144.

  50. O Ritual da Ementa das Almas em Loriga • Não podemos, ainda e, principalmente, ignorar um pormenor tão simples como este: antes de ser tonal, a musica era modal e a tonalidade surge numa evolução lógica que vem dos modos gregos (autênticos), passa pelos eclesiásticos (plagais) e, posteriormente, o jónico e o eólio que dão origem aos actuais modos maior e menor da música tonal.

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